Great Scott #483: Quem é o português em 3.º lugar no GP Brasil 1938?
Manoel de Oliveira
Filho de Francisco José de Oliveira, o primeiro fabricador de lâmpadas eléctricas em Portugal, nasce a 11 Dezembro 1908 um menino chamado Manoel Cândido Pinto de Oliveira. Mandado para um colégio de jesuítas na Galiza, regressa ao Porto em idade adolescente e faz-se um desportista de eleição. É mesmo uma vedeta no Sport Clube do Porto como trapezista, saltador para a água e saltador à vara – em Agosto 1931, com uma vara de bambu, faz 3,35 metros e bate o recorde nacional, em vigor nos dois anos seguintes.
É precisamente em 1933 que se faz automobilista de primeira água e ganha uma corrida pelas gincanas do Palácio de Cristal, ao volante de um Fiat Balilla. Graças aos conhecimentos do seu irmão Casemiro de Oliveira, homem mais apaixonado ainda pela velocidade e concorrente do GP Portugal 1958 de F1, Manoel de Oliveira compra um BMW e acaba o Circuito de Vila Real em segundo lugar. Na plateia, o engenheiro-piloto Eduardo Ferreirinha espanta-se com a sua condução e oferece-lhe o lugar num Ford de competição.
Na primeira corrida (Circuito Internacional 1937), Manoel de Oliveira corta a meta à frente da concorrência e só perde a liderança uma única vez, durante a 18.ª volta em 30, para o inglês Edward Rayson (Maserati). Passa-se um ano e Manoel de Oliveira aventura-se com o seu Ford no Rio de Janeiro, juntamente com o irmão Casemiro num Bugatti. É o GP Brasil, a correr por fora do calendário da Fórmula 1. Há 22 carros entre dez Alfa Romeos, quatro Bugattis, quatro Fords V8s, dois Chryslers, um Fiat 4.5 litros e um Maserati (o primeiro de sempre visto no Brasil).
O melhor tempo dos treinos pertence ao argentino Carlos Arzani (Alfa Romeo). Seguem-se-lhe os italianos Carlo Maria Pintacuda e Mario Tadini mais Manoel de Oliveira a completar a primeira fila. Está de chuva e a organização queixa-se do mau tempo para justificar a ausência de duas mil pessoas em relação ao número de espectadores no ano anterior. Manoel de Oliveira arranca mal, muito mal, e cai para 12.º lugar. Nas primeiras cinco voltas, zero referências ao piloto português. À sexta, o seu Ford voa nas horas e cruza a meta em sexto. Na volta seguinte, já é quinto com uma ultrapassagem a Francisco Landi.
O próximo objectivo é Arthur Nascimento Jr., vale um lugar no pódio. A acesa perseguição dura três voltas e, de repente, Manoel de Oliveira é o terceiro classificado, posição assegurada até final da prova sem qualquer problema. Aliás, Manoel de Oliveira até passa mais tempo a piscar o olho ao segundo classificado Arzani do que propriamente preocupado com o quarto. O irmão Casemiro ganha o quinto lugar nos derradeiros metros com uma ultrapassagem a Quirino Landi, também ele fintado por Tadini.
Como nota de rodapé, é a última corrida de João Alfredo Braga. O seu carro derrapa na curva mais rápida da Gávea e atropela mortalmente 11 pessoas, todas da mesma família. O piloto entra de luto e nunca mais quer competir. E Manoel de Oliveira? O seu amor pelos carros é abalroado pelo da mulher. Ao casar-se, abranda o ritmo e muda de vida. Dedica-se ao cinema e faz filmes mais documentários à velocidade da luz.
Classificação final
1 Carlo Pintacuda (Itália) – Alfa Romeo 308
2 Carlos Arzani (Argentina) – Alfa Romeo 8C-35
3 Manoel de Oliveira (Portugal) – Ford V-8 Special
4 Arthur Nascimento Jr. (Brasil) – Alfa Romeo Tipo B – P3
5 Casemiro de Oliveira (Portugal) – Bugatti T-51
6 Mario Tadini (Itália) – Alfa Romeo 308
7 Quirino Landi (Brasil) – Fiat V-8 3500
8 Antonio Garabato (Argentina) – Crysler
Desistentes
Francisco Landi, Alfa Romeo 8C-35
João Alfredo Braga, Alfa Romeo 6C-35
Benedicto Lopes, Alfa Romeo Tipo B – P 3
Luis Tavares Moraes, Alfa Romeo 6C-35
Cícero Marques Porto, Bugatti T-35
Domingos Lopes, Bugatti T-51
Geraldo S. Pedro, Ford V-8
Louis Decarolli, Maserati 8 CM
Mario Valentim, Ford V-8
Newton Teixeira, Alfa Romeo 6C-35
Norberto Jung, Ford V-8