Great Scott #497: Quem altera a táctica do WM para ‘os quatro em linha e um à boa vida’?
Cândido de Oliveira
O Sporting anda assim-assim, sem chama no ataque. O treinador Cândido de Oliveira está preocupado com a falta de golo e a ausência de bons resultados. De repente, o seu cérebro pensa diferente e cria uma alternativa ao aborrecido WM. É o chamado quatro em linha e um à boa vida.
Como assim? É um esquema viável para uma equipa com dois bons avançados-centro e um interior talentoso ou dois interiores goleadores e um avançado-centro mais cerebral, para jogar fora da área. Repetimo-nos, como assim? Carlos Pinhão explica numa homenagem póstuma ao mestre. ‘Certa vez, entrei na redacção d’A Bola e fui cumprimentar Cândido de Oliveira, metido no seu bloco de notas. Perguntei-lhe se era uma táctica para o Sporting e ele respondeu-me com pompa e circunstância: É verdade, as coisas não estão a sair bem, não marcamos golos. Vou pôr o Sidónio ao lado do Peyroteo e meter o António Marques atrás deles. Não digas ainda nada, porque ainda estou a ensaiá-los nos treinos.’
Nascera a táctica dos quatro à linha e um à boa vida. O Sporting volta às vitórias convincentes e à enxurrada de golos, os estrangeiros interessam-se pela táctica e pedem informações, à falta de televisão. Fruto do êxito do seu trabalho, Cândido é convidado pela federação espanhola para fazer uma comunicação no curso em Burgos. Os treinadores espanhóis esbugalham os olhos e começam a chover convites para as apresentações de Cândido, até Real Madrid e Barcelona.
O conhecimento futebolístico e a audácia táctica valem-lhe uma viagem ao Brasil para treinar o Flamengo na segunda metade de 1950, na ressaca do Maracanazo, nome conhecido pela surpreendente vitória do Uruguai vs Brasil na final do Mundial desse ano. Seguem-se experiências na selecção portuguesa, FC Porto e Académica. É treinador da Académica no momento da morte, em pleno Mundial-58, na Suécia. Nessa ocasião, encontra-se como enviado-especial d’A Bola e a sua última crónica de jogo é o Suécia 2:0 URSS, a contar para os ¼ final.
Diagnosticado inicialmente com uma pneumonia, aos cuidados do jugoslavo Mihailo Andrejevic, professor da faculdade de medicina em Belgrado e director do comité anti-doping da FIFA, o estado de Cândido agrava-se com o passar dos dias. Acometido por várias perturbações, cardíacas e hepáticas, acaba por morrer no Hospital Seraphim (o primeiro da era moderna na Suécia, em Estocolmo) a 24 Junho, precisamente o dia em que é suposto fazer a crónica do hat-trick de Pelé vs França na ½ final.