Great Scott #509: Único árbitro a começar a segunda parte de um jogo do Mundial sem um guarda-redes em campo?
Van Ravens
Há figuras inacreditáveis no futebol europeu. Como o árbitro holandês Lau van Ravens, envolvido em dois momentos imperdíveis do futebol português na UEFA, ambos em Lisboa e com equipas escocesas de Glasgow. Primeiro é na Luz, com a moeda ao ar no Benfica vs Celtic. Depois é no José Alvalade, com os penáltis inexistentes no Sporting vs Rangers.
Adiante, isso até nem é para o caso. O assunto de hoje é o Mundial-70, o da consagração definitiva de Pelé, o do tri do Brasil. Ainda na fase de grupos, em León, no Estádio Camp Nou, jogam RFA e Marrocos – curiosamente, as duas selecções repetiriam o duelo em 1986, também no México, em Monterrey.
Tanto em 1970 como em 1986, Marrocos dá trabalho. Em 1970, e contra todas as expectativas, até porque a RFA se apresenta como vice-campeã mundial, o primeiro golo da tarde é de Jarir, com a baliza aberta, após um amortie de cabeça de Höttges. É verdade, o lateral-direito corta um cruzamento defeituosamente e atrapalha as convicções do guarda-redes Maier. Com a bola ali à frente, Jarir atira a contar.
O processo é simples e há alemães virados do avesso. O capitão Uwe Seeler está à entrada da área, na meia-lua, e refila energeticamente com Höttges. O homem avança cabisbaixo e a limpar a testa com a camisola. Aos 77’, seria substituído e a RFA completaria a volta ao marcador aos 78’, por Müller, de cabeça, quase na linha de golo, já depois de Seeler ter empatado aos 56’ num remate de primeira ao ângulo inferior de Allal Ben Kassou.
E ainda bem que o mencionámos, é ele a grande figura da segunda parte. Então? Aquando do início da segunda parte, o árbitro Van Ravens só dá conta da equipa da RFA em campo. A de Marrocos continua trancada no balneário a ouvir a táctica. O holandês vai então bater à porta e alerta os marroquinos. Estes saem de imediato e colocam-se em campo.
Peeeeeep, recomeça o prélio e sai a RFA. De repente, aos 25 segundos, Allal Ben Kassou desata a correr da linha lateral até à baliza. Então? O guarda-redes demorara-se mais um pouco no balneário e já entra com a bola ali de um lado para o outro. Diz de sua justiça Van Ravens: ‘Se a RFA tivesse marcado um golo nesse período, era mais que previsível receber guia de marcha por parte da FIFA no dia seguinte.’ Como tal não se passa, a FIFA premeia Van Ravens com um jogo dos ¼ final, entre Uruguai e URSS.