Great Scott #535: Único jogador a estrear-se por uma selecção na final do Europeu?
Anastasi
Há coincidências e coincidências. A de Pietro Anastasi vale a pena contar. Estamos em Abril 1966 e há um Catania vs Varese para a 1.ª divisão italiana. Ganha o Catania por 3:0 e o Varese volta para o continente de mãos a abanar. Nem toda a comitiva segue viagem. Na fila para o avião, uma senhora grávida está à procura de uma vaga. Em vão, o voo para Milão está cheio.
O director desportivo Casati cede então o seu lugar e permanece uma noite na Sicília, no mesmo hotel onde pernoitara juntamente com a equipa. Palavra puxa palavra com um empregado, é-lhe aconselhado ir a um jogo da 4.ª divisão no dia seguinte para ver o goleador Anastasi em acção.
Casati vê-o e, sem pestanejar, contrata-o a troco de 40 milhões de liras. No Varese, é rei e senhor da baliza. Primeiro na Serie B, depois na A. O seu impacto é grande, enorme, gigante. Tanto assim é que a Juventus dá 660 milhões de liras ao Varese pelo passe de Anastasi. Contas feitas, é um recorde mundial. Ya, sim senhor: mundial. Do mundo, portanto. Tanto dinheiro, porquê?
Bom, Anastasi é realmente bom de bola, porque marca um hat-trick à Juventus num inesquecível 5:0 em Fevereiro 1968 e é contratado depois do Euro-68, conquistado pela Itália. Ainda é aquele torneio com quatro selecções, esquema ½ final, 3.º e 4.º lugares mais final. Em 1968, até há finalíssima. E quem marca? Isso mesmo, Anastasi. O 2:0 é da sua autoria, com um vólei à entrada da área. É uma especialidade da casa, isso e pontapés de bicicleta. Pois bem, Anastasi marca vs Jugoslávia e fixa o resultado. Dois dias antes, jogara a final a titular. Assim, sem mais nem menos? Nem mais. Nem menos. Anastasi é colocado no onze a poucos minutos do início do jogo.
‘Valcareggi vira-se para mim e diz-me ‘Picciotto, agora é a tua vez’. Nem queria acreditar, tanto na minha titularidade como na coragem do seleccionador em estrear alguém pela selecção numa final continental.’ Quem sai do onze? Mazzola, Sandro Mazzola. ‘Disseram-me que ficou piurso e tiveram de fechá-lo no quarto para evitar mal maiores.’
A final é um hino ao futebol. Da Jugoslávia. Palavras de Anastasi. ‘Os jugoslavos deram-nos um baile, 3:0 seria um resultado justo. Só que marcámos perto do fim, pelo Domenghini, de livre directo, e adiámos tudo para a finalíssima. Aí, sim, fomos superiores e até marcámos cedo pelo Riva. Antes do intervalo, marquei o 2:0 e ainda hoje não sei como controlei a assistência de De Sisti. Nem pensei e atirei de primeira, é a inconsciência dos 20 anos de idade.’
E mais, e mais? ‘Nos últimos minutos do jogo, lembro-me de viver uma experiência diferente e sugestiva entre um concerto rock e uma procissão religiosa com tantos isqueiros e tochas a dar luz.’ Dois anos depois, Mundial-70 no México. Óbvio, Anastasi é um dos 22 convocados. ‘Na véspera da viagem para o México, estava a ver televisão com o massagista da Juventus. Ele sentado, à minha frente, e eu a chateá-lo. Ele mandou-me parar uma, duas vezes. À terceira, virou-se para trás e deu-me um murro. Ainda me desviei, só que o murro acertou-me num testículo e houve um derrame de sangue. Fui operado de urgência no hospital e, claro, falhei o Mundial.’
Só jogaria o Mundial-74, na RFA, e até marca um golo (vs Haiti 3:1). Na Juventus, o seu carisma permite-lhe usar a braçadeira de capitão entre 1974 e 1976, ano em que assina pelo Inter, após bater de frente com as opções do treinador Carlo Parola. É ainda hoje o recordista de golos da Juventus na Taça de Itália (30).