Great Scott #542: Único treinador português campeão nacional lá fora nos descontos?
Acácio Casimiro
Março 2004, dia 12. O Raja Casablanca é o quinto classificado da liga marroquina, a sete pontos do líder FAR Rabat e com menos dois jogos. O francês Henri Michel sai de cena e aposta-se no português Acácio Casimiro, adjunto de João Alves no Boavista, Vitória SC e Estrela, olheiro no FC Porto de António Oliveira e adjunto do mesmo Oliveira no Betis.
Acácio Casimiro assume o desafio da direcção. ‘Pediram-me o segundo lugar para ir directo à Liga dos Campeões Africanos.’ O início é desanimador, 1:1 no campo do Khourigba (e o FAR ganha). No jogo seguinte, outro 1:1, vs RS Settat. Em Abril, o Raja faz seis pontos em nove possíveis. Em Maio, cinco em 12. Em Junho, mês de todas as decisões, quatro vitórias em quatro. O FAR despista-se e só faz seis. Disso se aproveita o Raja para selar o título de campeão no último instante da última jornada.
É hitchcockiano. À entrada para o último dia, 20 Junho, dois pontos separam as equipas com vantagem para o FAR (55 vs 53). Se o FAR ganha, campeão. Se empata e o Raja ganha, aí o campeão é o Raja. E porquê? O Raja leva avanço no confronto directo, o primeiro critério de desempate (1:0 em casa, 1:1 em Rabat, já com Casimiro ao leme).
O Raja goleia em Kénitra, no campo do último, por 4:1 e o resultado já está quase feito ao intervalo, com golos de Souleimane, Bidoudane e Nater. Já o FAR faz o seu caminho, em casa, vs KAC Marraquexe, 10.º classificado. Zerouali faz 1:0 aos 12 minutos, Kaddioui o 2:0 aos 71’. Tudo pronto para a festa. O KAC reduz aos 77’ por Akkad. E a surpresa está guardada para os descontos, 2:2 de M’barek, já com os próprios jogadores do Raja no balneário em Kénitra, descrentes numa reviravolta – pormenor inacreditável, o mesmo KAC roubara o título de campeão ao Raja na época anterior, em 2002-03.
Festa rija em Casablanca, com Acácio Casimiro endeusado pelos adeptos do Raja. Ao todo, sete vitórias, quatro empates e uma derrota acertam o passo e destronam o FAR da liderança e adia o título a fugir-lhes desde 1989. ‘Foi uma autêntica loucura. Há três anos que o Raja não alcançava o troféu e consegui-lo no último jogo, numa corrida que mais parecia o prémio de montanha do ciclismo, deixou-me encantado. Estou nas nuvens.’
‘A nossa recuperação foi estrondosa e ninguém acreditava que fosse possível. Isto é como dar um tiro num porta-aviões. A verdade é que com o decorrer dos jogos percebi que a equipa, apesar de genericamente jovem mas com alguma experiência, era ambiciosa. O FAR teve dois problemas: a quebra física inerente a quem ocupa durante grande parte da liga o primeiro lugar e a pressão que a minha equipa acabou por impor com uma cavalgada determinada. Aliás, percebi que poderia discutir seriamente o título quando perdemos um jogo. Senti uma força espectacular no grupo de trabalho.’