Great Scott #544: Única selecção no Euro em que o hino é a 9.ª sinfonia de Beethoven?

Great Scott Mais 05/19/2022
Tovar FC

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Great Scott #544: Única selecção no Euro em que o hino é a 9.ª sinfonia de Beethoven?

CEI

O Euro-92 é um caso de estudo. Para início de conversa, é o último sem Portugal na fase final. Depois, a Jugoslávia é afastada do torneio à última hora, culpa da guerra dos Balcãs – entra a Dinamarca para o seu lugar e, pasme-se, é campeã europeia. Para finalizar, é o último Europeu com oito selecções, o último com dois pontos por vitória e o último da regra do atraso de bola para o guarda-redes. É o primeiro da Alemanha unificada. E é também o primeiro de um país em transição chamado Comunidade dos Estados Independentes, em representação da URSS, apurada através do grupo 2 de qualificação, à frente da Itália, com cinco vitórias e três empates em oito jogos.

Os sinais da ruptura com o regime soviético fazem-se sentir em meados dos anos 80, em Tbilisi (agora Geórgia), durante um URSS vs Inglaterra de preparação para o Mundial-86. Na primeira parte, Chivadze falha um penálti (ao poste), a castigar falta de Viv Anderson sobre Gotsmanov. Na segunda, Waddle fixa o marcador com um remate por alto, sem hipótese para o capitão Dasaev. Pelo meio, ouvem-se cânticos a puxar pela Inglaterra. De soviéticos, descontentes com a situação do país.

Quatro anos depois, em 1990, o partido comunista perde as primeiras eleições livres na URSS e o efeito dominó verifica-se em todos os sectores da sociedade. Futebol, incluído. Quando arranca o campeonato soviético 1990, a federação recebe o pedido de desistência do Dínamo Tbilisi, ao que é imitado pelo Guria Lanckhutti (Geórgia), recém-promovido pelo segundo lugar na 2.ª divisão. Antes da segunda jornada desse mesmo campeonato, o Zalgiris Vilnius (Lituânia) também vai ao ar.

No dia de Natal em 1991, a URSS como URSS deixa de existir. Começam então a nascer países aqui e ali. Ao todo, 15. Desses, 11 reúnem-se em Moscovo a 11 Janeiro 1992 para debater o Euro-92. Cria-se a Comunidade dos Estados Independentes, em cima do joelho, sem representantes de Estónia, Letónia, Lituânia e, claro, Geórgia. Quinze dias depois, o primeiro jogo da CEI é em Miami, vs EUA.

O ambiente é surreal, a CEI continua a jogar com o equipamento (alternativo) da URSS, o do Mundial-90, com o símbolo da federação da URSS e até o hino da URSS se mantém. No campo, Balboa falha um penálti para os EUA e, sete minutos depois, a CEI marca o único golo da noite, Michallik na própria baliza, a desviar um remate à entrada da área de Tsveiba – curiosamente, Tsveiba é georgiano.

Até ao Euro-92, a CEI faz mais seis jogos de preparação como 3:0 vs El Salvador, 1:2 vs EUA em Detroit, 2:1 vs Israel em Jerusalém e três empates vs Espanha (1:1 em Valencia), Inglaterra (2:2 em Moscovo) e Dinamarca (1:1 em Bröndby). O seleccionador Anatoly Bishovets convoca 20 homens, seis deles no Spartak Moscovo e até um de Portugal (o número 11 Yuran, do Benfica).

O capitão é Mikhailichenko e a estreia no grupo B é vs Alemanha, em Norrköping. A entrada em campo é uma desilusão imensa. A bandeira é totalmente branca com CIS em letras garrafais azuis, a camisola nem tem o símbolo da federação e o hino é a 9.º sinfonia de Beethoven. O primeiro golo do jogo pertence a Dobrovolski, de penálti. A dois minutos do fim, 1:1 dos campeões mundiais, por Hässler, de livre directo.

Na jornada seguinte, a campeã europeia Holanda e 0:0. O guarda-redes Kharin volta a fazer uma exibição cinco estrelas e segura outro ponto (com um golo de cabeça mal anulado a Van Basten). No tudo ou nada, vs Escócia, a CEI espalha-se ao comprido e apanha 3:0. Sai pela porta pequena, sem honra nem glória. A selecção dissolve-se nesse Verão e aparece a Rússia, nome oficial para a fase de qualificação rumo ao Mundial-94.

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