Great Scott #573: Único jogador com prémio de melhor actor no cinema?

Raf Vallone

A vida deste senhor dá um livro. E ele escreve-o – sai para as bancas em 2001 e chama-se ‘L’alfabeto della memoria’. Em 86 anos, Raf Vallone é futebolista, jornalista, actor e político.

Nascido em Tropea, na costa calabresa, faz-se à vida em Turim, onde acaba o secundário e tira dois cursos superiores, o de filosofia e jurisprudência, com aulas de figuras do alto como Luigi Einaudi (segundo presidente da República em Itália) e Leone Ginzburg (antifascista de nacionalidade russa, reconhecido em Itália como um dos principais animadores da cultura italiana nos anos 30). Concilia os estudos com o futebol e é o maior sucesso: campeão italiano de juniores em 1931, estreia na 1.ª divisão em 1934, vencedor da Taça de Itália 1935.

Seis anos depois, em 1941, Vallone abandona o futebol e dedica-se ao jornalismo. É redactor-chefe da secção cultura do jornal comunista Unità e ainda crítico cinematográfico no diário La Stampa. Estamos em plena 2.ª Guerra Mundial e a figura de Vallone dá nas vistas, como parte da resistência italiana. É apanhado em flagrante e é feito prisioneiro, em Como. Durante uma transferência entre prisões, apanha-se a jeito e foge dos guardas com um salto corajoso para o lago de Como. Pormenor, estamos no inverno e o lago brrrr está brrrrr gelado.

Em 1942, ainda no auge da guerra, entra para o cinema com ‘Noi vivi’ e nunca mais larga a profissão de actor. Ao todo, 72 filmes de cinema e 19 de televisão. Um deles é o terceiro Padrinho (1990), como cardeal Lamberto. Outro é Os Heróis de Domingo (1953), como futebolista de uma equipa pequena em visita ao Milan, no Giuseppe Meazza. Mais um é ‘Do Alto da Ponte’, de Sidney Lumet (1962). Neste último, Raf Vallone é o actor principal na pele de Edoardo Carbone e ganha o prémio David di Donatello, um dos mais importantes da indústria cinematográfica italiana.