Great Scott #575: Único jogador a mandar o Papa para ‘o raio que o parta’?
Jesus Correia
Jesus Correia é um homem diferente dos demais. Para início de conversa, é um dos Cinco Violinos do Sporting (e é o único a assistir à inauguração do novo José Alvalade, em 2003). Depois, marca seis golos vs Atlético na reabertura do Metropolitano, em Madrid (6:3). Como se fosse pouco, é um hoquista de eleição, craque do além, hexacampeão mundial e penta europeu.
Um dos títulos mundiais é conquistado em Milão, no Palácio do Gelo. Estamos em 1950, ano em que a Federação Portuguesa de Futebol recusa um convite da FIFA para integrar o Mundial-50 e ano em que o Benfica se sagra campeão latino, no Jamor. Antes dessas incidências, Portugal entra no Mundial de hóquei, sistema de todos contra todos. Das dez selecções em provas, só uma não faz parte da Europa – é o Egipto, ao qual Portugal dá 16-secos, a goelada do torneio.
Quis o destino juntar os invictos Portugal e Itália no último dia, 2 Junho 1950. Em caso de empate, Portugal é declaro vencedor pela vantagem de seis golos. E é mesmo Portugal a entrar primeiro no rinque, aplaudido cordialmente pelo público milanês. Em seguida, o pavilhão vai abaixo com a entrada em cena da Itália. O árbitro é espanhol, por comum acordo das duas selecções. Poirtugal joga com Emídio Pinto na baliza mais Raio, Edgar, Jesus Correia e Correia dos Santos. No banco, como único suplente, Sidónio. A Itália responde com Tamaio, Galarini, Bertusi, Castoldi e Panagini (mais Torre no banco).
Começa o jogo e o sinal mais pertence à anfitriã Itália. Duas bolas à baliza, duas defesas miraculosas de Emídio. Aos cinco minutos, Correia do Santos acelera o jogo e passa a Jesus Correia, cujo remate de primeira é certeiro. Antes do intervalo, Correia dos Santos amplia a marca. A abrir a segunda parte, Edgar liberta Correia dos Santos e toma lá o 3:0. A oito minutos do fim, Edgar vai lá à frente e faz o quarto da noite. A vitória é portuguesa, impossível fugir-lhe. O suplente Torre faz o ponto de honra e fim de festa.
A selecção portuguesa é então recebida no Vaticano pelo Papa Pio XII com toda a pompa e circunstância. Há até um bolo para a cerimónia. O Papa, com Jesus Correia à sua ilharga, faz o gesto de cortar o bolo para o português e este reage com infinita piada: ‘O Raio que parta.’ O Raio, salvo seja, é o capitão de equipa (e depois seleccionador num outro título mundial, em 1960). Alguém leva a mal? Nem pensar. Nem sequer o Papa. Afinal de contas, a resposta é de Jesus.