Great Scott #576: Último jogador da RDA a escapar à Stasi para jogar na RFA?
Axel Kruse
Aleluia, uma história de jeito da Taça Intertoto.
O actor principal é Axel Kruse, um miúdo com jeito para a bola. Como jogador de destaque no Hansa Rostock, chega rapidamente à selecção da RDA. Na primeira experiência internacional, em 1986, Kruse deixa a sua marca. Tal como a RDA, campeã europeia sub18 em Subotica (Jugoslávia). Só a vitória por 1:0 vs RFA na ½ final é só por si um acontecimento grandioso. Três dias mais tarde, a RDA dá a volta à Itália (3:1) com Kruse a fazer o momentâneo empate – o 2:1 é de Matthias Sammer (esse) e o 3:1 de Marco Koller, o herói da ½ final.
A vida de Kruse vai de vento em popa, sempre no Hansa Rostock e agora nos sub21. De repente, stop. Sem razão aparente, Kruse é afastado do Mundial sub20, no Chile, em 1987, e também é encostado pelo Hansa nas visitas a Gelsenkirchen e Viena (Áustria). O seu jeito meio descarado e descontraído incomoda muita gente, está visto. Kruse até é interrogado durante seis horas por dois agentes da polícia secreta Stasi. ‘Fui tratado como se fosse um criminoso’.
Kruse desanima por completo e planeia a evasão. Com calma, paciência e astúcia. Em 1989, o Hansa joga em Copenhaga para a Taça Intertoto vs B1909, onde o ponta-de-lança é um homem chamado Michael Manniche, futuro benfiquista. O medo de ser apanhado é inversamente proporcional ao desejo de sair das garras de um sistema podre. Kruse aproveita um passeio com os companheiros Axel Schulz e Juri Schlünz para entrar numa loja. ‘De repente, desapareceu. Nunca mais o vimos.’ Diz Schulz, seu colega de quarto. E o Hansa só dá conta da evasão durante o jantar, no Hotel Gentofte.
O mundo de pantanas, todos à procura de Kruse. Àquela hora, o homem já está bem longe. O avançado apanha um táxi e vai direito a um parque de estacionamento, onde o espera um outro carro para o levar em direcção à parte ocidental de Berlim. À sua espera, um contrato com o Hertha Berlim – só o clube, mais um amigo seu e a sua irmã sabem da evasão à priori. A RDA zanga-se, a FIFA também e bane Kruse.
Diligências aqui e ali, a FIFA levanta a proibição em Dezembro 1989 com o pagamento de 300 mil marcos do Hertha Berlim ao Hansa Rostock. O dinheiro é mais que suficiente para contratar um treinador da RFA e levar o Hansa Rostock ao título de campeão da RDA na última época antes da reunificação. O mesmo é dizer, o Hansa sobe à 1. Bundesliga e é o único clube da RDA entre outros 17 da RFA.
Ao todo, Kruse acumula 30 golos em 141 jogos na 1.ª divisão alemã entre Hertha, Eintracht e Estugarda antes de se dedicar ao futebol americano. É verdade, há uma Liga dos Campeões na Europa com a bola oval e o Berlin Thunder é bicampeão em anos seguidos (2001, 2002). Na final de 2002, Kruse faz mesmo um fieldgoal vs Rhein Fire (também da Alemanha).