Great Scott #591: Michael Schumacher estreia-se na F1 à conta da prisão de quem?
Gachot
Quem é o melhor piloto F1 de sempre? Há quem diga Ayrton Senna, outros defendem Juan Manuel Fangio, uns apontam Alain Prost e há os que dizem Niki Lauda sem pestanejar. Nas estatísticas, o rei só pode ser um, e é Michael Schumacher.
Heptacampeão mundial, o alemão é ainda o homem de outros recordes como voltas mais rápidas (77), e mais hat tricks, que supõe pole position, vitória e melhor volta na mesma corrida (22). E é o único a subir ao pódio em todas as corridas de uma época (17 vezes em 2002). Estreia-se em 1991, por culpa de um spray de pimenta.
Whaaaat?
Segunda-feira, 10 Dezembro 1990. Londres. Um taxista chamado Eric Court conduz pelo centro Hyde Park Corner e sofre um toque de Bertrand Gachot, então piloto belga de F1 da Jordan. Os dois discutem e, às tantas, Court esmurra Gachot. Este, mais exaltado, volta ao carro, saca de uma lata de spray de pimenta e despeja a raiva na cara do taxista, que perde momentaneamente a visão. “Isso não fica assim”, disse Court a Gachot, lembram as testemunhas oculares. E não fica.
Court processa Gachot. Menos de um ano depois, em Agosto 1991, a justiça inglesa chega a um veredicto: Gachot é condenado a seis meses de prisão por posse ilegal de armas e a 12 meses de prisão por uso de arma. A decisão é imediata, Gachot é preso e a Jordan está sem piloto para o GP Bélgica em Spa-Francorchamps. Soam nomes de substitutos: Stefan Johansson e Keke Rosberg.
A decisão recai no desconhecido Michael Schumacher, graças a 300 mil dólares da Mercedes, marca que o patrocina no Mundial de protótipos. Os treinos do GP Bélgica começam e Schumacher alcança um interessante sétimo lugar, a quatro segundos do McLaren de Senna. Esse detalhe pouco ou nada interessa aos outros pilotos, indignados e revoltados com a justiça inglesa na resolução de caso Gachot.
Num movimento liderado pelos pilotos Thierry Boutsen e Eric van de Poele, só se fala de Gachot. Adeptos, jornalistas, mecânicos e fiscais de pista, todos eles, vestem camisas como “Free Gachot”, “Why Gachot?” ou “God bless England, and also Gachot”. A FISA [Federação Internacional de Automobilismo] até disponibiliza advogados para Gachot.
No dia da corrida, os adeptos entram na pista e pintam no asfalto: “Gachot, a Bélgica está contigo. Tu não és um hooligan!”, numa alusão à morte de 30 adeptos em Heysel (Bruxelas), antes do jogo de futebol entre Liverpool e Juventus, final da Taça dos Campeões-85.
Nessa altura, Gachot já está na prisão de segurança máxima de Brixton, onde as condições são as piores possíveis: cela dividida com os piores bandidos ingleses, sem casa de banho própria, e só tem direito a uma hora de luz. Quanto a visitas, só de 15 em 15 dias, e por cinco minutos. Tão injusta é a situação que até o taxista retira o processo.
Algumas semanas depois, Gachot é transferido para uma cadeia mais digna, onde pode preparar-se psicológica e fisicamente para o regresso à F1. O que só acontece a 15 Outubro 1991, quando o juiz Lane considera a pena muito dura e, ao terceiro recurso, liberta Bertrand. Festa geral, celebrada na embaixada da França em Londres.
Após dois meses preso, Gachot volta a ser um homem livre. A sua vida de piloto, essa, nunca mais é a mesma. A Jordan não o aceita de volta, e a culpa nem é de Schumacher, que por essa altura já pilota um Benetton-Ford, com três pontos no Mundial – 5.º lugar no GP Itália e 6.º no GP Portugal. Gachot ainda corre na Larrousse e na Pacific até se retirar da F1 em 1995, aos 33 anos de idade. Schumi, esse, começa a incomodar todos os outros pilotos. Sem spray de pimenta, só com vitórias,.