Great Scott #620: Único treinador dos grandes eliminado três vezes por clubes da 2.ª divisão na Taça de Portugal?
Fernando Santos
Vencedor de duas Taças de Portugal, em 2000 e 2001, Fernando Santos também acumula os seus dias maus. Como digno representante dos três grandes, é eliminado por equipas da 2.ª divisão em cada um deles. Inédito.
A epopeia inicia-se em 1999, dia 16 Fevereiro. É o ano do penta do FC Porto e o Torreense, da 2.ª B, nem está aí. Um golo aos 85 minutos garante o surpreendente 0:1 nas Antas, numa jogada elaborada por suplentes: Jaime dá seguimento a um lançamento lateral e, colado pela esquerda, finta Carlos Manuel, entra na área e serve Cláudio Oeiras.
É Carnaval, alguém leva a mal? Sim, os adeptos do FC Porto. A primeira assobiadela para Fernando Santos é ainda na primeira parte, quando tira Peixe e faz entrar Fehér. Nada feito, a ineficácia continua flagrante. E, atenção, o Torreense nem faz um jogo por aí além. Treinado por Luís Brandão, sub-chefe de controlo financeiro de uma empresa de ferro em Torres Vedras, o que obriga a treinos só no final do dia, a equipa do Oeste aguenta o 0:0 e agarra o 0:1 nos últimos cinco minutos. A odisseia vale cem contos a cada jogador.
O herói Cláudio Oeiras, formado no Belenenses e com uma presença no Torneio Toulon, em 1997, chamado por Jesualdo Ferreira, quer troca de camisola com Jardel. Impossível, o brasileiro é uma das ausências de vulto, tal como Zahovic. O que faz ele então? Leva a sua, número 15, para a festa de Carnaval em Torres.
Fernando Santos fala da ‘pior derrota da sua vida’ – ele que apanhara 8:1 do mesmo Torreense pelo Estoril em 1992, para a 1.ª divisão. O onze do FC Porto é jeitoso, com Costinha; Nélson, João Manuel Pinto, Aloísio e Fernando Mendes; Peixe; Capucho, Carlos Manuel, Chippo e Drulovic; Mielcarski. Entram Fehér e Panduru.
Quatro anos depois, a 17 Dezembro 2003, Fernando Santos já anda no Sporting e é novamente afastado em casa, agora pelo Vitória FC de Carlos Carvalhal – menos de um mês antes, o Gençlerbirligi provocara uma grande surpresa em pleno José Alvalade para a Taça UEFA.
O Vitória FC vai com tudo, em 4-3-3. O Sporting faz experiências, com Paíto, Quiroga e Paulo Bento. Para azar (de Santos, claro), o Vitória FC marca cedo, aos oito minutos: canto de Zé Pedro e cabeceamento de Orestes, sem qualquer oposição. Até ao intervalo, zero ideias para entrar na área do Vitória.
Na segunda parte, é uma pobreza confrangedora (para o Sporting, claro). O último remate perigoso é aos 60’, por Custódio. Daí para a frente, só dá Vitória FC com Jorginho e Hugo Alcântara, em duas situações, a falharem o alvo por muito pouco. Há assobios e indignação no ar. O onze sportinguista reúne Nélson; Mário Sérgio, Polga, Quiroga e Paíto; Barbosa, Custódio, Paulo Bento e JVP; Liedson e Lourenço. Entram ainda Silva, Sá Pinto e Tello.
Mais quatro anos depois, a 10 Fevereiro 2007, já Fernando Santos é do Benfica e vai à Póvoa, onde mora um Varzim renovado com Diamantino Miranda, apresentado como treinador na semana anterior, no lugar de Horácio Gonçalves, despedido na sequência de uma derrota no clássico vs Rio Ave.
O Benfica entra com Quim; Nélson, Luisão, Anderson e Léo; Katsouranis, Beto, Rui Costa e João Coimbra; Nuno Gomes e Simão (entram ainda Mantorras, Karyaka e Marco Ferreira). O Varzim entra com alma. E um autogolo de Nélson, aos 13 minutos, na sequência de um cruzamento de Mendonça em modo contra-ataque.
Reage bem, o Benfica. O central Anderson cabeceia para a defesa da noite de Ricardo aos 13’ e Pedrinho salva uma bola na linha aos 15’. Aos 30’, Rui Costa cruza e Simão voa para o empate. O Varzim continua igual a si próprio, combativo. O Benfica desaparece do mapa, sem chama.
O escândalo consome-se aos 77’, por Mendonça, de cabeça, após livre de Nuno Rocha. Até final, o Benfica arrisca o empate por Luisão e Marco Ferreira. Em vão, continua 2:1. E o período de descontos é o desnorte benfiquista com amarelos para Karyaka, Simão e Marco Ferreira. O Varzim passa, o Benfica nem por isso. É o hat-trick de Fernando Santos.