Great Scott #650: Único jogador a marcar a todos os três grandes em duas épocas seguidas?
Ben David
Primeiro cabo-verdiano a vestir a camisola da selecção portuguesa, em , Ben David é uma figura do alto, craque de encher o campo, goleador por excelência.
Começa a carreira na ilha natal, ao serviço do Mindelense, e a sua classe é tanta que é convidado para visitar a metrópole em 1946, aos 18 anos de idade. Assina pelo Unidos de Lisboa em detrimento dos grandes Benfica, Sporting e Belenenses por um motivo simples: um contrato de trabalho.
Quando a empresa de suporte do Unidos se desliga, Ben David atravessa o rio Tejo e vai jogar na CUF, pelo mesmo motivo. E, aqui, o motivo é mais interessante porque o sonho de toda uma vida de Ben David é o de ser mecânico de automóveis. Pois bem, a CUF do Barreiro dá-lhe essa possibilidade. E com dois bónus: joga no ataque com Vasques e Travassos, dois futuros sportinguistas e parte integrante dos Cinco Violinos.
Curiosamente, Ben David é convidado a jogar pelos Cinco Violinos numa digressão ao Brasil em 1951 e espalha magia no Maracanã, já depois de ter feito história pelo Atlético com o terceiro lugar na 1.ª divisão 1949-50. Nunca visto e jamais repetido. Dos 53 golos, 21 pertencem a Ben David, o segundo melhor marcador do campeonato, só atrás de Julinho, do Benfica, com 28. Na época anterior, o Atlético já dera brado com a presença na final da Taça de Portugal, perdida para o Benfica no Jamor por 2:1.
Entre as duas proezas do Atlético, o nome de Ben David vem sempre à baila. Vai daí, é convocado para um particular vs Inglaterra, a 14 Maio 1950, também no Jamor. O último jogo entre as selecções é um pesado 0:10. E agora? Ben David puxa dos galões e marca dois golos. Os jogadores ingleses nem acreditam no que vêem e falam do cabo-verdiano como um avançado perfeito, do melhor que apanham pela frente.
Em abono da verdade, poucos há como Ben David. E o facto de ter marcado a todos os três grandes na 1.ª divisão em duas épocas seguidas comprova-o em absoluto. É único. A epopeia é relativa a 1950-51 e 1951-52. Na primeira, a sequência é um vs Benfica, outro vs Sporting e dois vs FC Porto. Na segunda, a quantidade sobe de tom com hat-trick vs Benfica (3:4), bis vs Sporting (2:5) e um vs FC Porto (1:2).
Notem bem este pormenor, o Atlético marca seis golos aos três grandes na Tapadinha em 1951-52 e todos pertencem ao mesmo jogador. Craque do além.