Great Scott #651: Único jogador português a estrear-se por um clube na Taça Intercontinental?
Simões
Palavra de Simões. ‘Estive oito meses no Sporting, com contrato assinado. Nesse período, o argentino Mario Imbelloni, treinador dos seniores, disse aos dirigentes para me contratar. Só que eu estava preso pela carta de vinculação do Almada FC, o meu clube de então. Para não pagar os 50 contos relativos ao preço da desvinculação, que era uma fortuna para aquela época, 1958, 1959 – dava para comprar um andar em Lisboa ou um carro de luxo –, o Sporting escondeu-me durante um ano. Mal passasse esse ano, acabava o contrato com o Almada e jogaria pelo Sporting de borla, a custo zero, como se diz agora. Nesses oitos meses passam-se duas coisas: eu começo a ficar doido sem jogar futebol e o Benfica descobre a artimanha do Sporting.’
E depois?
‘Quando o Benfica entra no processo, arranja o dinheiro, faz a transacção com o Almada e sou imediatamente inscrito. Quem assina os papéis é a minha mãe e o meu irmão mais velho, que faz de tutor porque o meu pai já falecera. Há um episódio que não é muito simpático da minha parte: no meio dessa negociação, fui ao Sporting pedir o meu bilhete de identidade com a desculpa de pagar as propinas da escola. Como era estudante, deram-me o BI. Na verdade, só o queria para fazer acompanhar o contrato entre Benfica, Almada e a AF Lisboa. E assim se dá a minha entrada no Benfica.’
Estamos em 1961, Simões ainda tem 17 anos e joga pelos juniores mais reservas. ‘Quando acaba um jogo das reservas na Marinha Grande, o Bela Guttmann manda chamar-nos. A mim e ao Eusébio. Fomos com um senhor a uma agência de viagens e apanhámos um avião para Montevideo, onde jogámos vs Peñarol para a finalíssima da Taça Intercontinental.’
Dá-se aqui a estreia de Simões pelo Benfica, a única de um jogador português em plena Taça Intercontinental. Daí a dois meses, Simões joga pela primeira vez em Portugal ao serviço do Benfica, mais precisamente no Campo da Mata, nas Caldas da Rainha, para a Taça de Portugal. Para a história, um golo na vitória por 5:3. Antes, em Montevideo, o Benfica perde 2:1, golo de Eusébio. Conta Simões a propósito da estreia, no Uruguai. ‘Foi um jogo com uma arbitragem escandalosa, num ambiente terrível, do pior que vi.’