Great Scott #685: Golo da RFA, a bola vai ao meio e, nove toques depois, quem marca a Schumacher?
Belloumi
A Argélia do Mundial-82 é uma selecção original, com uma linha de comando bicéfala (Mahieddine Khalef e Rachid Mekhloufi). Na qualificação, um jovem Rabah Madjer, de 23 anos, dá nas vistas na última fase de qualificação ao garantir o 2:1 vs. Nigéria. Será ele também o autor do primeiro golo da Argélia em Mundiais. Em Gijón, vs. RFA, então campeã europeia em título e cheia de talentos colossais como Paul Breitner, Karl-Heinz Rummenigge e Uli Stielike, entre outras figuras.
O jogo do Molinón é a 16 Junho, três dias depois da surpreendente vitória da Bélgica sobre a Argentina campeã em título por 1-0, cortesia de Vandenbergh. No dia 14, o Brasil é empurrado pela arbitragem para ganhar de virada vs. URSS (2:1). No dia 15, é a vez de El Salvador apanhar 10:1 da Hungria de Meszaros. É a maior goleada de sempre, a provar que o Mundial-82 é tudo menos normal.
No dia 16, insistimos, há RFA vs. Argélia. Os alemães, só com vitórias na qualificação e um assustador 33-3 em golos, estão mais exuberantes do que é normal. ‘Vou dedicar o sétimo golo à minha esposa e o oitavo ao cão’, diz um jogador. ‘Vou jogar de cigarro na boca’, diz outro. Na conferência de imprensa de antevisão, o seleccionador Jupp Derwall afina pelo mesmo diapasão. ‘Se perdermos, apanho um comboio para Munique.’
Se? Ó meu amigo, a Argélia não está ali para fazer número. A RFA entra então em campo com a sensação de vitória antecipada, numa de turismo acidental. A Argélia enche-se de brio e manieta o rival de tal forma que o jogo continua 0:0 ao intervalo. Uau, e agora? A RFA entra um tudo-nada mais ofensiva para a segunda parte, sempre a contar com um golo caído do céu. Aos 54 minutos, Madjer bate Schumacher e aí é o cabo dos trabalhos. Se os 42 mil espectadores apoiam os argelinos desde o início, agora mais ainda. A RFA está baralhada e ferida no orgulho. Daí o amarelo ao avançado Hrubesch, o mais velho em campo (31 anos) e também o mais histérico. O capitão Karl-Heinz Rummenigge acalma-o junto do árbitro peruano Enrique Ravoredo e depois faz o 1-1, assistido pelo mágico Felix Magath.
Com o empate, já são poucos os que anteveêm uma surpresa porque a RFA é especialista em reviravoltas. A bola vai ao meio e… Um dois três quatro cinco seis sete oito nove. Ao nono toque seguido na bola, com 23 segundos pelo meio, Belloumi faz o 2:1. ‘É o golo mais bonito da minha vida. Permitiu-me ganhar nome fora da Argélia, fora de África’, diz o Bola de Ouro africano. ‘A lei argelina não permitia transferências para fora do país até aos 27 anos de idade e eu só tinha 23 mas fui autorizado a negociar com a Juventus por ter prestado bons serviços. Acontece que parti a perna pouco antes de assinar e o negócio não se fez. Foi azar, mas o golo à RFA continua na memória de todos.’