Great Scott #723: Único capitão substituído em todos os três jogos da fase de grupos do Euro?
Stapleton
A Irlanda do Euro-88 é um sonho bonito. A começar pelo ar porreiro do seleccionador Jack Charlton e a acabar no verde das camisolas. Pelo meio, o futebol descomprometido e arrebatador.
A qualificação é um sonho, porque a Irlanda nunca na vida é considerada favorita num grupo com Bélgica, Bulgária e Escócia, três selecções do Mundial-86. Acontece taça, por assim dizer. A Irlanda faz de tomba-gigantes e faz 11 pontos em 16 possíveis no dia 14 Outubro 1987, com o 2:0 vs. Bulgária em Dublin, golos de McGrath e Moran, ambos na segunda parte.
Pormenor: ainda falta um jogo à Bulgária e, em caso de empate, bye bye Ireland. Pois bem, a Escócia surpreende Sófia com o toque de suspense aos 86 minutos por obra e graça de Mackay (0:1). Nessa noite de 11 Novembro, festa rija em Dublin. É a primeira presença da Irlanda numa competição internacional.
Dos 20 convocados, cerca de zero jogam na Irlanda. Naturalmente. Três na Escócia, todos no Celtic, um em França, no Le Havre (Byrne), e os restantes 16 em Inglaterra. O mais internacional de todos é, por larga margem, Stapleton.
O homem é o número 10 e joga no Derby County, emprestado pelo Ajax. Goleador por excelência, com três batatas na fase de qualificação, acumula 63 internacionalizações – o mais próximo de si é Moran, com 36 – e é reconhecido o seu amor pelo país, na medida em que força uma cláusula de compromisso internacional em todos os seus contratos, seja Arsenal, Manchester United, Anderlecht, Ajax e Derby County. Quer isto dizer, sempre que a selecção o chamar, o clube tem de o libertar: Stapleton rules. (atenção, isto num tempo em que as palavras FIFA e calendário não batem a bota com a perdigota)
Começa o Euro, a Irlanda calha no grupo de Inglaterra, Holanda e URSS. A estreia é vs. Inglaterra, em Estugarda, e um madrugador golo de cabeça de Ray Houghton dá a volta ao favoritismo atribuído à equipa de Bobby Robson. Na segunda parte, Lineker falha dois golos na cara de Bonner, com defesas arrojadas do guarda-redes irlandês. Stapleton, esse, é substituído aos 62 minutos, precisamente na jogada seguinte a uma bola à trave de Whelan.
Daí a três dias, a 15, a Irlanda esgrime argumentos a URSS. Mais uma vez, Stapleton no meio-campo para o cara ou coroa, agora com Dasaev. Ao intervalo, 1:0. Outra surpresa, com um golo acrobático de Whelan. A URSS empataria por Protasov, aos 80’. No quadradinho seguinte, Stapleton sai de cena.
Para a decisão do grupo B, vs. Holanda, em Gelsenkirchen, um get together de números 10 para a moeda ao ar. De um lado, Stapleton. Do outro, Gullit. Basta um empate e a Irlanda marca lugar na ½ final, vs. RFA. Acontece o pior cenário, com golo de Kieft aos 82 minutos. A bola vai ao meio e sai Stapleton (entra Cascarino). A Holanda aguenta a vantagem e nunca mais ninguém a agarra.
Já Stapleton continua a sua carreira por mais dois anos, até 1990, ano em que se despede com um golo vs. Malta, a uma semana do arranque do Mundial em Itália, onde a Irlanda voltaria a fazer boa figura, novamente num grupo com Inglaterra e Holanda (mais Egipto), agora só eliminada nos ¼ final por um solitário golo do herói imprevisível Schillaci, numa noite em que Jack Charlton se deixa perturbar pela cantoria de Pavarotti no relvado durante a palestra no balneário. ‘Shut the f*** up!’ É o Pavarotti, não pode mandar calá-lo, diz-lhe alguém da Irlanda. ‘Never f¨***** heard of him.’