#48 Vitória FC 2004-05
Quarto grande da Taça de Portugal, com um total de oito finais, o Vitória FC é um clube cheio de vida e pronto a reerguer-se.
Na época 2003-04, sob o comando de Carlos Carvalhal, o Vitória regressa à 1.ª divisão como vice-campeão da Honra, atrás do Estoril. Nesse Verão, o Vitória é entregue a José Couceiro e há muita expectativa pela qualidade dos recursos humanos. Jorginho à cabeça. Bruno Moraes também, tal como Meyong, Manuel José e Bruno Ribeiro.
A campanha na 1.ª divisão é normal, 10.º lugar e pronto. A da Taça de Portugal é um sonho só visto. Sempre com golos de Bruno Moraes, o Vitória supera dois obstáculos fáceis, como Pedras Rubras e Académico de Viseu. Segue-se o primeiro grande desafio, vs. Vitória SC.
Jorginho (lá está o homem) abre o marcador aos 11’ antes do vermelho directo para Veríssimo aos 39’, por falta sobre Targino. Do respectivo livre, Moreno empata.
Na segunda parte, o coração do Vitória FC bate mais forte. Couceiro saca o avançado Igor e substitui-o pelo defesa Hugo Alcântara. A jogar com mais um elemento, o Vitória SC de Manuel Machado aposta forte no ataque continuado e trama-se com o contra-ataque dos locais. Bruno Moraes desata o nó do 1:1 e Jorginho fixa o 3:1 em dois lances rápidos de inspiração pura.
Na eliminatória seguinte, vs. Braga, o treinador do Vitória FC já é José Rachão. A troca de treinadores é tudo menos pacífica e o presidente Chumbita Nunes é alvo de um corredor humano às portas do Estádio do Bonfim. Em causa, a saída de Couceiro para o FC Porto, então campeão europeu e mundial em título, e a entrada de José Rachão, contratado ao Torreense.
‘Se os estimados sócios não estão satisfeitos com os actuais dirigentes, convoquem democraticamente uma Assembleia Geral e dissolvam esta Direcção. Eu, cá por mim, saio depressa. Qual foi o treinador que eu não escolhi com êxito? Não acertei com Carlos Carvalhal? Ele subiu à SuperLiga, mas já se esqueceram que alguns sócios, em Março do ano passado, pediam a cabeça do treinador e a minha, e só faltaram as agressões? Não foi bom ter contratado José Couceiro, apesar de ter sido criticado, porque era um perdedor, e afinal ele vai treinar o campeão europeu e mundial? E a actual classificação da equipa? Não é excelente até ao momento? Bom, se não gostam de mim decidam-se e escolham outros dirigentes.’
Com Rachão no banco, o Vitória FC dá água pela barba aos três B’s da 1.ª divisão. A primeira vítima é o Braga, na reedição da famosa final em 1966. Desta vez, a vitória é do Vitória FC. Sofrida, por sinal.
Bruno Moraes (sempre) estende a passadeira e Meyong amplia a marca no reinício. Vale a reacção do Braga, por João Tomás (61’) e Wender (75’). Os últimos minutos fazem-se mais com o coração do que cabeça e o prolongamento é evitado pelo suplente Igor.
Na véspera, o brasileiro, curiosamente emprestado ao Vitória FC pelo Braga, expressara o seu desejo de resolver o prélio. ‘O golo marcado à Académica no último fim-de-semana deu-me ânimo e só espero marcar de novo para chegar à ½ final.’ Meu dito, meu feito.
A 90 minutos (ou mais) da final, o Vitória FC volta a sorrir no sorteio da Taça com a recepção ao Boavista. A eliminatória só é resolvida no prolongamento, após 90 minutos de intensa entrega, dois golos e um penálti falhado (Meyong). O herói da noite é Bruno Ribeiro, com um pontapé do meio da rua. No dia seguinte, o Benfica elimina o secundário Estrela por inequívoco 3:0 e marca encontro no Jamor.
Domingo, 29 Maio 2005. O Benfica sagrara-se campeão nacional há uma semana e é favorito, muito embora o Vitória FC acabe o campeonato com o terceiro melhor ataque, o título da equipa mais disciplinada e a eleição do melhor jogador da Liga Record, o tal Jorginho.
Dia de sol, estádio cheio, mais vermelho que verde. Aos 3 minutos, canto para o Vitória, cedido por Petit a uma investida de Jorginho pela direita. Do lance, acredite, nasce o 1:0 do Benfica.
A bola está ali ao deus dará quando Petit a recupera e desmarca Nuno Gomes, solto na esquerda. O 21 dá de primeira para Sokota, o croata lateraliza para Geovanni, o brasileiro recebe mal, muito mal, e depois aproveita a saída de Moretto para o mergulho. Paulo Costa apita penálti, Simão agradece.
O Vitória, sempre mais afoito, encosta-se ao Benfica na procura do golo e chega ao 1:1 ainda na primeira parte num remate de Manuel José em que a bola ainda embate no corpo de Ricardo Rocha e desvia-a ligeiramente para fora do alcance de Moreira, bem junto ao poste – se não fosse o calcanhar do central benfiquista, seria pontapé de baliza.
O Benfica, com os bofes de fora na sequência de uma época desgastante com a casa às costas (o Seixal ainda está em construção e é costume treinar-se em campos neutros, como Odivelas, ), nem sabe a quantas anda e o resultado é um vazio de ideias. Só um remate à baliza de Moretto, e fora da área. Dá canto.
O Vitória FC é mais cirúrgico. Aos 72 minutos, queremos dizer. O pontapé de longe de Ricardo Chaves vai à baliza e Moreira comete o erro de (tentar) segurar a bola – já lhe acontecera o mesmo no 1:0 de Derlei vs. FC Porto na final da Taça de Portugal da época anterior. Atento, sempre atento, Meyong aparece para a recarga vitoriosa.
No banco, Rachão é menos efusivo do que no lance do 1:1 e pede calma, muita calma. Ainda falta muito. Verdade, 90 minutos mais quatro de descontos. O Benfica nada faz para alterar o rumo dos acontecimentos e o Vitória levanta a taça com propriedade, a terceira (e última) no seu currículo, após as conquistas em 1965 (vs. Benfica) e 1967 (Académica).
Só porque sim, eis os heróis do Vitória na final: Moretto; Éder, Auri, Hugo Alcântara e Nandinho; Sandro (cap) e Ricardo Chaves; Manuel José, Jorginho e Bruno Ribeiro; Meyong
(a negrito, os jogos fora)
Pedras Rubras 2:0 Bruno Moraes / Meyong (sub)
Ac. Viseu 3:1 Bruno Moraes / Manuel José / Jorginho
Vitória SC 3:1 Bruno Moraes / Jorginho-2
Braga 3:2 Bruno Moraes / Meyong / Igor
Boavista 2:1 Meyong / Bruno Ribeiro
Benfica 2:1 Ricardo Rocha (pb) / Meyong