#53 Chaves 1986-87

Mais Spider Pig 04/09/2023
Tovar FC

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#53 Chaves 1986-87

Padrão à baliza. Jorginho, Cerqueira, Vivas e Garrido na defesa, Gilberto, Diamantino, Saura e Radi no meio; Jorge Silva e Jorge Plácido na frente. No banco, os suplentes mais utilizados pertencem todos ao ataque. Nomes como Fontes, César e Júlio Sérgio, este o autor do primeiro golo dessa campanha.

Aliás, é do Chaves (e de Júlio Sérgio) o primeiro golo da 1.ª divisão 1986-87. Em pleno José Alvalade, vs. Sporting, e de penálti – a castigar falta de Venâncio sobre Jorge Silva. No frente a frente dos 11 metros, é a táctica do engano: bola para um lado, guarda-redes (Damas) para o outro. Aos cinco minutos de uma quarta-feira à noite, o Chaves surpreende o país e acorda o Sporting.

Já há 1:1 ao intervalo, empate de Meade poucos minutos depois da primeira substituição de Manuel José com a saída do lateral-direito Gabriel para a entrada de Litos. Na segunda parte, o Bota de Prata em título marca aos pares e o leão solta finalmente o rugido. Manuel Fernandes, ainda não o sabe, nem ninguém, é o seu 12.º e último ano pelo Sporting.

Muito bem, zero pontos para o Chaves à primeira jornada. E à segunda (vs. Braga). E à terceira (vs. FC Porto). Zero pontos em seis possíveis. E só um golo marcado, o tal de penálti. À quarta é de vez, 1:0 vs. Varzim da dupla angolana Vata-Lufemba e o herói da tarde é Jorge Silva. Uma semana depois, nos Barreiros, a confirmação da boa forma com inequívoco 2:0 vs. Marítimo. Mais um de Jorge Silva e outro de Jorge Plácido.

No regresso a casa, 3:2 vs. Farense. O 2:2 é autogolo de Radi. Parêntesis para falar do jogador búlgaro, o mais artístico desse Chaves. Que classe, senhoras e senhores, que classe. É mais bonito em discurso directo. Radi, fala aí. ‘No final do Mundial-86, um empresário português chamado Lucídio Ribeiro apresentou-me o projecto do Chaves. Já tinha 30 anos, já podia sair da Bulgária para o estrangeiro, de acordo com a lei nacional, e tinha vontade de me aventurar, de conhecer outro país, outra cultura, outro futebol. Não podia dizer não Chaves.’

E como é a sua chegada a Chaves? ‘É inesquecível. O voo estava marcado para aterrar no Porto, só que o aeroporto estava fechado por nevoeiro. Então o avião parou em Lisboa e, eu, sozinho, no meio do desconhecido e sem saber uma única palavra de português, arranjei um carro para chegar ao Porto, onde dormi durante a noite, depois a Chaves, onde havia jornalistas à minha espera desde o dia anterior.’

E o autogolo vs. Farense? ‘Estava 2:1 a nosso favor quando há um canto para eles. A bola é afastada e depois volta à nossa área. Eu estava lá e ouvi o nosso guarda-redes Padrão a dizer ‘deixa’. Como ainda não dominava o português, percebi outra coisa, que havia alguém entre nós, e meti o corpo à bola. Mas, calma, ainda fiz o passe para o 3:2 do César.’

A quarta vitória seguida é em Elvas, por obra e graça de um outro golo de César, este ao cair do pano e em jeito de reviravolta ao madrugador 1:0 do espanhol Carrasco (o empate seria de Radi). Também Radi assinaria o ponto no jogo seguinte, em casa, vs. Benfica.

O búlgaro aproveita uma desconcentração de Dito em plena área para roubar a bola ao central e atirar de pronto, por alto, sem hipótese para Silvino. Só que um cabeceamento de Manniche desequilibraria as contas para o futuro campeão nacional.

A magia do Chaves é a pluralidade dos goleadores. Se Radi entra de folga, aparecem Jorge Silva ou Jorge Plácido. É um regabofe, com Radi e Jorge Silva a fecharem a época da 1.ª divisão com 13 golos cada, mais cinco que Jorge Plácido. E que época, o Chaves melhora o 6.º lugar de 1985-86 e acaba em 5.º, por força de dois resultados extraordinários, curiosamente ambos em Lisboa.

O primeiro é na Luz, 0:0 – atenção, muita atenção, o líder isolado Benfica não perdera qualquer ponto em casa até aí. O segundo é no Restelo, 1:0 de Garrido – é a última jornada, o Chaves leva um ponto de avanço sobre o Belenenses e cimenta essa vantagem, já assegurada a inédita qualificação para a Taça UEFA, via golos de Madjer e Juary em Viena no 2:1 vs. Bayern, quatro dias antes.

(a negrito, os jogos fora)

Sporting               1:3     Júlio Sérgio

Braga                     0:2

FC Porto              0:3

Varzim                  1:0     Jorge Silva

Marítimo              2:0     Jorge Silva / Jorge Plácido

Farense                 3:2     Jorge Plácido / Jorge Silva / César

Elvas                     2:1     Radi / César

Benfica                  1:2     Radi

Vitória SC            1:3     Jorge Silva

Boavista                1:0     Radi

Rio Ave                 3:2     Jorge Silva-2 / Celestino

Salgueiros            2:2     Matias (pb) / Radi

Académica             1:1     Radi

Portimonense      0:0

Belenenses            1:0     Jorge Plácido

Sporting                2:1     Jorge Silva / Jorge Plácido

Braga                    1:2     Fontes

FC Porto               1:2     Radi

Varzim                  0:0

Marítimo               3:1     Jorge Plácido / Jorge Silva / Radi

Farense                 0:4

Elvas                     3:1     Jorge Plácido-2 / César

Benfica                 0:0

Vitória SC             1:1     Radi

Boavista               3:1     Radi / Jorge Silva / Júlio Sérgio

Rio Ave                1:2     Jorge Silva

Salgueiros             4:0     Radi-2 / Jorge Plácido / César

Académica           0:2

Portimonense       0:0

Belenenses           1:0     Garrido

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