Great Scott #771: Primeiro treinador português a ganhar o Torneio Toulon?
Jesualdo Ferreira
Agora com 76 anos de idade, Jesualdo é uma figura do futebol português desde o início da década 80. A estreia na 1.ª divisão é ao serviço da Académica em 1984 e é sol de pouca dura, tão-só sete jornadas com um balanço negativo de seis derrotas e uma vitória. Até aos 90’s, Jesualdo é adjunto de Toni no Benfica vice-campeão europeu 1987-88 e seleccionador de Angola na qualificação para o Mundial-90.
Segue-se um período na federação portuguesa e é apontado como seleccionador de Esperanças. A geração tem o seu quê de genialidade, com Rui Costa ao leme, e vai a jogo no Torneio Toulon. É a 20.ª edição do mais prestigiado de todos os torneios para as camadas jovens. Os olheiros acotovelam-se, os jogadores exibem-se, os clubes arregalam os olhos. A Jugoslávia leva Milosevic e Nad, a França apresenta-se com Dugarry e Thuram, os EUA evidenciam Friedel, Lalas, Cobi Jones, Reyna, a Inglaterra acha-se importante com Andy Cole e Parlour, a República Checa passeia-se com Bejbl, Repka e Galasek, a Escócia tem Dickov.
E nos? Já lá vamos. Para já, Portugal de Jesualdo comete a proeza de ganhar todos os três jogos da fase de grupos, e sem sofrer qualquer golo, vs Jugoslávia (1:0, Hélder), Escócia (1:0, Rui Costa) e EUA (2:0, João Oliveira Pinto e Toni).
A meia-final é aguardada com natural expectativa e Portugal sai-se com nota máxima. O festival de bola começa a meio da primeira parte com um lançamento longo do central Hélder para a corrida de Capucho. Livre de marcação, o extremo-esquerdo dribla o guarda-redes Guadarrama e atira a contar. Chega o intervalo, começa a segunda parte e Rui Costa abre o livro com um hat-trick em seis minutos.
Sim senhor, um golo em cada dois minutos. O primeiro de todos é um mimo, livre directo perfeito. O segundo é uma jogada de entendimento com Gil. O terceiro é um remate frontal, após mais um lançamento longo de Hélder e desmarcação primorosa de Toni. Com 4:0, Portugal continua ao ataque. Desenfreadamente. O suplente João Oliveira Pinto marca o quinto da tarde. Desta vez, o lançamento longo é do outro central, o capitão Jorge Costa. No corpo a corpo, Gil ganha a Macías e entrega para o toque subtil do sportinguista, que substituíra Rui Costa. O seleccionador mexicano Cayetano Rodríguez está boquiaberto com a qualidade do futebol português e perspectiva uma final de sonho vs Jugoslávia.
É o último jogo da Jugoslávia como Jugoslávia. A selecção sénior acabara de ser retirada do Euro-92 e a de sub23 só se mantém em Toulon por insistência da organização, em contraste com a rigidez da UEFA. Afinal de contas, joga-se a final e a Jugoslávia não pode ser retirada a meio do torneio – nem depois de eliminar a anfitriã França nos penáltis.
É a repetição do jogo de abertura na fase de grupos e Portugal volta a ganhar. Uma semana antes, um golo de Hélder no último instante garantira a vitória magra por 1:0. Agora a diferença mínima é elevada a 2:1 num jogo apitado por um árbitro londrino, cangalheiro de profissão. Antes do apito inicial, o bibota de ouro Fernando Gomes dá o pontapé de saída. Logo ele, digno representante da selecção no Torneio Toulon em 1975, ao lado de Inácio e Frasco, todos eles heróis do FC Porto campeão europeu e mundial em 1987.
Portugal entra melhor e marca dois até ao intervalo. O 1:0 é um lançamento de Rui Costa para a corrida de Gil. O cruzamento deste é fantástico e o cabeceamento de cima para baixo de Toni é o dos livros. Cicovic sem hipótese, imagem repetida no 2:0, num canto de Rui Costa, cabeceamento de Hélder ao primeiro poste e entrada vertiginosa de Gil na marca de penálti. Em desvantagem, a Jugoslávia arrisca mais e chega ao golo de honra, o terceiro de cabeça dessa tarde.
No calor da festa, Jesualdo Ferreira fala em Carlos Queiroz. ‘É uma vitória da continuidade e de um trabalho com raízes’. Na entrega dos prémios, Rui Costa é eleito o Jogador Mais Elegante (além do título de melhor marcador), Bino o Jogador Mais Cortês e Hélder o Jogador Mais Regular.
Jesualdo nada leva para casa de palpável. O coração, esse, está cheio de alegria. E o currículo nem se fala.
A caminhada gloriosa
Jugoslávia 1:0 Hélder
Escócia 1:0 Rui Costa
EUA 2:0 João Oliveira Pinto / Toni
México 5:1 Rui Costa-3 / Capucho / João Oliveira Pinto
Jugoslávia 2:1 Toni / Gil
Os 17 eleitos de Jesualdo
1 Brassard (gr)
2 Hélder
3 Miguel Bruno
4 Bino
5 Marinho
6 Jorge Costa
7 Jorge Soares
8 Luís Miguel
9 Toni
10 Rui Costa
11 Álvaro Gregório
12 Tomás (gr)
13 Nélson
14 Abel Xavier
15 Capucho
16 Gil
17 João Oliveira Pinto