#56 Marselha 1988-89

Mais Spider Pig 04/22/2023
Tovar FC

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#56 Marselha 1988-89

Sete-dois. É dose. O Marselha, até então cinco vezes campeão nacional, é o terceiro grande em Framça – só atrás de Saint Étienne (9) e Reims (6). Estamos na última jornada da 1.ª divisão 1979-80, o Marselha está nos lugares de descida e visita o último classificado Brest. Surpresa das surpresas, acaba sete-dois. Para o Brest.

Grande coboiada. O Marselha já não tem esperança de sair do penúltimo lugar, entalado entre Best e Lyon (olha olha, outro Olympique), e apanha sete. Os jornais desportivos do dia seguinte anunciam a morte do Marselha, afundado desportiva e administrativamente, sem rei nem roque. Assim continua por uns bons anos. Até mais precisamente 1986, altura em que um jovem político irreverente chamado Bernard Tapie assume o controlo do clube, como sucessor de Jean Carrieu.

Fanfarrão e insolente qb, Tapie já é uma força da natureza. É ele o dono do império alimentar La Vie Claire, patrocinador da equipa de ciclismo mais famosa do mundo e vencedor do Tour 1985 (Bernard Hinault) e 1986 (Greg LeMond). A sua primeira decisão no Marselha é contratar um braço-direito e nomeia para o lugar de director do futebol um homem sábio chamado Michel Hidalgo, campeão europeu pela França em 1984.

As primeiras contratações fazem sonhar toda uma cidade. O avançado Papin é o primeiro a assinar, ele que dera nas vistas na selecção francesa durante o Mundial-86 com dois golos, um vs. Canadá, na estreia, outro vs. Bélgica, no jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares. Seguem-se-lhe Alain Giresse (médio baixinho, peito para fora, sempre com a cabeça levantada e bola no pé), Karl-Heinz Förster (central alemão de eleição, finalista do Mundial-86) e ainda Jean-François Domergue (lateral-esquerdo da França do Euro-84 e herói improvável da ½ final vs. Portugal, com dois golos a Bento).

Os reforços adaptam-se às mil maravilhas e o Marselha acaba o campeonato em segundo lugar, a quatro pontos do Bordéus, também vencedor da Taça de França, vs. Marselha. Sempre no sentido de melhorar o plantel, Tapie abre os cordões à bolsa no Verão 1987 e saca mais dois nomes de nível indiscutível: o defesa francês Yvon Le Roux (curiosamente titular pelo Brest naquele 7:2 em 1980) e o goleador alemão Klaus Allofs. O Marselha 1987-88 acaba em sétimo na 1.ª divisão e chega à ½ final da Taça das Taças, eliminado pelo Ajax de Bergkamp.

O sucesso está ali à mão de semear. Domergue sai para o Caen e Giresse anuncia a retirada, Tapie vai buscar Sauzée ao Sochaux mais Cantona ao Auxerre. Com tão-só 22 anos, Cantona já é conhecido pelos actos de indisciplina. E também, vá, pela qualidade futebolística. Para compor o ramalhete, Cantona é natural de Marselha. ‘Cresci sempre a pensar na estreia pelo Marselha no Velódrome’. EI-lo a cumprir um sonho. De curta duração. E porquê?

Fácil, Cantona embrulha-se consigo mesmo e é suspenso do clube. Antes, faz dupla de ataque com Papin e, juntos, assinam 16 golos até ao final da primeira volta. Em Janeiro 1989, numa cidade francesa chamada Sedan, o Marselha junta-se ao Torpedo Moscovo para um jogo de caridade a favor das vítimas de um terramoto na Arménia. O cenário é bucólico para todos. Menos para Cantona, irritadiço desde o apito inicial. Às tantas, ainda na primeira parte, o árbitro dirige-se ao banco do Marselha para falar com o treinador Gérard Gili. Ou vai ou racha. Cantona respira fundo, o jogo recomeça e é racha. Cantona é então substituído. A caminho da linha lateral, pontapeia a bola na direcção dos adeptos e tira a camisola.

Tapie está furioso, nas bancadas. E, dias depois, suspende-o por um mês. Durante esse período, ninguém o vê. A ele, Cantona. Passado esse período, idem idem aspas aspas. Onde ele o miúdo? Em Barcelona, a negociar o futuro. No way. Yes way. Cantona vai até Barcelona e só não assina porque Cruijff está a pensar em Van Basten. Nem um, nem outro. Van Basten continua no Milan, já Cantona é emprestado ao Bordéus.

A vida continua em Marselha, e vai na crista da onda. Por obra e graça dos golos de Papin, 11 golos na primeira volta e mais 11 na segunda. É ele o melhor marcador da 1.ª divisão, com 22. E o Marselha coroa-se campeão francês num tête-a-tête com o PSG, resolvido a quatro jornadas do fim com um golo do meio da rua de Sauzée em cima do minuto 90, em pleno Velódrome. A loucura no estádio é algo de arrebatador.

(a negrito, os jogos fora)

Montpellier                  1:1             Papin

Lille                            1:2            Doaré (pb)

Sochaux                      0:0

Toulouse                   0:0

Nice                            3:2             Papin-2 / Vercruysse

Saint-Étienne            0:0

Matra Racing              2:0             Cantona / Vercruysse

Estrasburgo              3:2            Papin-2 / Cantona

Laval                          1:0            Le Roux

Lens                            5:2             Papin-2 / Cantona-2 / Thys

Bordéus                     0:0

Cannes                       2:1             La Roux / Papin

Nantes                       1:1            Papin

Metz                            3:2             Papin / Sauzée / Vercruysse

Monaco                      0:3

Caen                           4:2             Papin / Cantona / Allofs / Vercruysse

PSG                            0:0

Toulon                         1:0             Papin

Auxerre                      0:1

Lille                             1:1             Vercruysse

Sochaux                    0:0

Toulouse                     3:1             Papin / Diallo / Allofs

Nice                            2:2            Allofs-2

Saint-Étienne              2:0             Papin / KH Förster

Matra Racing             2:0            Papin / Vercruysse

Estrasburgo                3:1             Papin / Allofs / Flucklinger (pb)

Laval                           1:0             Germain

Lens                           1:0            Eyraud

Bordéus                      2:2             Vercruysse / Eyraud

Cannes                      1:3            Allofs

Metz                            3:1            Papin / Sauzée / Thys

Nantes                        1:0             Papin

Monaco                       2:2             Sauzée / Papin

Caen                           0:0

PSG                            1:0             Sauzée

Toulon                       2:1            Papin / Allofs

Auxerre                       2:1             Papin-2

Montpellier                0:1

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