Great Scott #802: Único treinador sul-americano a conquistar a Taça das Nações Africanas?
Otto Glória
Otto Glória. O nome inspira confiança. Falamos de um brasileiro em Portugal com uma ideia revolucionária para um país fechado a todos os títulos. O nosso futebol é tacanho, sem horizonte, e Otto, sozinho e pela sua cabeça, desenha um plano para abanar a estrutura.
O seu princípio é a profissionalização do futebol através da criação do Lar do Jogador e da instituição de algumas regras agora básicas, como os estágios e a utilização do 4-2-4. O Benfica sai-se bem, a partir de 1954. Depois, Otto acumula a fama mais o proveito e treina os quatro grandes até chegar à selecção portuguesa, com a qual se apura para o Mundial-66 de tão boa memória.
Pois bem, Otto em 1980 ainda está aí para as curvas. Aos 63 anos de idade, o treinador aterra na Nigéria com um duplo projecto em mente: a conquista (inédita) da Taça Africana das Nações, em 1980, e o apuramento (inédito) para o Mundial, o de 1982.
O primeiro objectivo é conseguido com distinção, a Nigéria sagra-se campeã africana a jogar em casa, e sem qualquer derrota. O trajecto é meritório, com vitória (3:1 vs. Tanzânia), empate (0:0 vs. Costa de Marfim) e vitória (1:0 vs. Egipto) na fase de grupos mais vitória (1:0 vs. Marrocos) e vitória (3:0 vs. Argélia) na fase a eliminar.
A festa é imensa, a Nigéria nem dorme direito durante uma semana. Nos 22 eleitos de Otto, um jogador chama a atenção pela passagem em Portugal daí a uns anos. Joga com o número 3 nas costas e chama-se Isima.
É Otto quem o mete a lateral-esquerdo em vez de andar ali no meio-campo e a verdade é que Isima se faz mais jogador. No seu currículo, as aventuras portuguesas contabilizam seis clubes entre Belenenses, União da Madeira, Vitória SC, Covilhã, Estrela e Cova da Piedade.
O tempo avança e Otto tem de preparar a Nigéria para o Mundial-82. A primeira fase é superada com sucesso (2:1 no conjunto das duas mãos vs. Guiné Conacri), a segunda já não é bem assim. A Argélia de Madjer e tal vinga-se da derrota da final da Taça Africana das Nações do ano anterior e faz xeque-mate, tanto em Lagos (2:0) como em Constantine (2:1).
Pelo meio, a aventura de Otto ainda reserva um salto a Moscovo para os Jogos Olímpicos-1980. A Nigéria apura-se sem jogar, no lugar do Gana, que desiste na sequência do não dos EUA à odisseia na URSS. Certo, Nigéria allez allez. Otto convoca 17, entre o nosso Isima e ainda Sylvanus, futuro madeirense de gema tal o seu futuro na ilha (União, Marítimo, União, de novo, e Nacional).
No grupo de Kuwait, Checoslováquia e Colômbia, a Nigéria só saca um ponto e um golo (Nwosu no 1:1 vs Checoslováquia). Seja como for, o título de campeão africano é de Otto. É ele o revolucionário, também em África, como único treinador sul-americano a ganhar a CAN.