#61 Arsénio 1957-58
Arsénio Duarte é um nome incontornável na história do futebol português. Admirador do avançado portista Pinga, é assim que lhe chamam nas ruas do Barreiro, quando, ainda descalço, joga com Manuel Vasques (futuro craque sportinguista) e outros meninos da sua idade. O seu desejo é ser futebolista e cumpre o sonho ao serviço do Barreirense, como juvenil e júnior.
Segue-se o Benfica. Mal faz o primeiro treino do Benfica, o treinador húngaro Janos Biri diz-se fascinado com o seu toque de bola e a sua serenidade à frente da baliza. Arsénio é titular indiscutível aos 18 anos de idade, situação que se mantém por 12 épocas, até à Primavera de 1955. Nesse período, ganha campeonatos, taças (seis finais, todas vitoriosas, e cinco golos) e ainda a Taça Latina, com um célebre golo a 15 segundos do fim, a garantir o prolongamento vs. Bordéus, no Jamor. Sem esquecer, claro está, os cinco golos metidos ao FC Porto na inauguração das Antas (8:2).
Como Otto Glória chega ao Benfica em 1954 para profissionalizar o futebol e nem conta por aí além com Arsénio, já então dividido entre os treinos na Luz e o emprego no Barreiro, o avançado faz as malas e acaba a carreira na CUF, onde ainda é melhor marcador da 1.ª divisão em 1957-58, aos 32 anos de idade. No ano seguinte, pendura as chuteiras e dedica-se ao emprego como funcionário da CUF, depois Quimigal, até Fevereiro 1986, data da sua morte.
Na tal época da conquista da Bola de Prata, o bom do Arsénio trava um belíssimo braço-de-ferro com José Águas (Benfica) e Matateu (Belenenses). A três jornadas do fim, o Benfica ganha 2:0 à CUF. Tanto Águas como Arsénio passam ao lado do jogo. Mais Águas até, que falha um penálti para defesa de Gama – atenção, o 9 do Benfica falha quatro grandes penalidades em toda essa época na 1.ª divisão contra nenhum de Arsénio.
A 180 minutos do fim, as contas dos três melhores marcadores são estas: Matateu 22, Arsénio 21, Águas 20. O Belenenses perde nas Caldas e Matateu está a zeros, tal como Águas, este ausente do magro 1:0 ao Torreense na Luz. Já Arsénio marca dois em Marvila vs. Oriental e garante a vitória de virada por 2:1. Agora, a 90 minutos, Arsénio 23, Matateu 22, Águas 20.
Emoção para o último dia do campeonato, conquistado pelo Sporting com 3:0 vs. Caldas no José Alvalade. A CUF perde o dérbi vs. Barreirense em casa por 2:0, resultado já feito ao intervalo. O Belenenses apanha 3:1 do FC Porto no Restelo e é de Vicente, irmão de Matateu, o golo. Os outros pertencem a Paz (própria baliza), Acúrsio (de baliza a baliza) e Pedroto (fora da área). Em Vidal Pinheiro, o Benfica volta a jogar com Águas na frente e tenta o tudo por tudo pelo título de melhor marcador. O homem marca um e, depois, dois. É insuficiente. Para Águas, óbvio. Já Arsénio corre feliz da vida pelo campo fora. É o merecido Bola de Prata por se tratar de um trintão a jogar num clube de classe média.
Nesse glorioso caminho, Arsénio comete a proeza de marcar cinco ao Vitória FC (Mourinho à baliza) e ainda um bis ao Sporting (livre directo, o definitivo 3:3) mais outro bis ao FC Porto.
(a negrito, os jogos fora)
1 Caldas
0 FC Porto
1 Académica
0 Lusit Évora
0 Belenenses
0 Sporting
0 Braga
0 Torreense
0 Salgueiros
5 Vitória FC
0 Benfica
3 Oriental
2 Barreirense
1 Caldas
2 FC Porto
0 Académica
1 Lusitano Évora
0 Belenenses
2 Sporting
2 Braga
0 Torreense
1 Salgueiros
0 Vitória FC
0 Benfica
2 Oriental
0 Barreirense