Great Scott #1003: Único autogolo num desempate de penáltis em Mundiais?
Carlos
Único guarda-redes a representar a selecção brasileira pelos dois rivais campineiros (Ponte Preta e Guarani), com um total de 44 jogos, Carlos é suplente no Mundial-78, terceiro em 1982 e titular em 1986.
A oscilação tem a ver com uma lesão no cotovelo durante o clássico vs. Argentina, no Mundialito 1981. Naquele tempo, Carlos é disparado o guarda-redes mais assertivo do Brasil e aquele com mais hipótese de encher a baliza no Mundial-82. Só que o azar bate-lhe à porta e é Valdir Peres quem assume as redes em Espanha.
Só quatro anos depois, já completamente refeito da lesão e em forma no Corinthians, é que Carlos entra de caras no onze de Telé Santana. A fase de grupos corre-lhe às mil maravilhas, zero golos sofridos em 270 minutos de bola vs. Espanha (1:0), Argélia (1:0) e Irlanda do Norte (3:0). Nos oitavos-de-final, a Polónia também dá zero trabalho. Quer dizer, há ali um pontapé de bicicleta de Boniek ainda fora da área ligeiramente ao lado. Carlos controla com os olhos, nada mais.
Nos ¼ final, a campeã europeia França aparece em Guadalajara com a ideia de fazer história. O Brasil começa por cima e o golo de Careca aos 18 minutos é uma belíssima jogada de ataque ao primeiro toque. À beira do intervalo, aos 42’, Rocheteau cruza rasteiro da direita, Stopyra mergulha de cabeça e choca com Carlos, a bola prossegue o segundo até ao segundo poste, onde Platini encosta à boca da baliza. Nos festejos, o pedido caricato do árbitro romeno Igna para Platini lhe mostrar o número da camisola a fim de anotar o golo no seu bloco.
A segunda parte é intensa, de parte a parte. O lance mais famoso é o do penálti falhado por Zico. Ou defendido por Bats. Seja como for, a França evita o 2:1 do Brasil aos 75’ e vamos ter prolongamento. Nesse período extra, Igna volta a dar sinais de descontrolo no instante em que Bellone se isola e, antes de entrar na área, é claramente impedido por Carlos de seguir o caminho do golo. Como Bellone tenta manter-se de pé para chegar à bola e só depois cai por falta de pernas, o árbitro manda seguir. É o fungagá da bicharada.
Adiante, penáltis. Começa Sócrates, no seu estilo bonacheirão. Bats adivinha-lhe a intenção e repele a bola com a mão direita, no ar. Stopyra faz 1:0, Alemão 1:1, Amoros 2:1 e Zico 2:2. Chega a vez de Bellone. O homem atira para a sua direita, Carlos mergulha para a sua esquerda. Por capricho, a bola bate no poste, ressalta nas costas do guarda-redes e entra na baliza. Há protestos vários dos brasileiros para invalidar o golo. Igna, aqui sim, faz o correcto e assinala 3:2.
Branco 3:3, Platini muito por cima (em dia de aniversário, ainda ‘por cima’), Júlio César (ao poste) e é de Fernández o 4:3 final. A França segue para a ½ final e repete o infeliz guião de 1982 de ser eliminada pela RFA. Já o Brasil viaja para casa, com um só golo sofrido em 480 minutos de bola (e mais um autogolo incrível no desempate por penáltis). É galo, sim.
Carlos é ultrapassado por Valdir Peres no Corinthians e, depois, por Taffarel no Brasil. Voltaria à selecção na era Carlos Alberto Parreira em 1993, na Copa América, e só faz um jogo.