1967, Jamor: a ideia pioneira do Celtic com números nos calções
Há coisas do arco da velha. Quando o PSG nasce para o futebol, em 1970, já o Bayern colecciona um troféu europeu, a Taça das Taças-1967. Hoje, juntos ao vivo e a cores, decidem a Liga dos Campeões na Luz. A incerteza é grande, o entusiasmo idem idem.
É a sexta final europeia em Lisboa, a quarta na Luz (uma da Taça UEFA em 1983, outra da Taça das Taças em 1992 e agora a segunda da Liga dos Campeões, na ressaca da de 2014). Sobram duas finais. Uma em Alvalade, com Sporting incluído, outra no Jamor. Que é precisamente a primeira de todas, em 1967. De um lado, o Inter de Helenio Herrera. Do outro, o Celtic de Jock Stein. Quando as equipas entram em campo, um pormenor inédito. O dos números nos calções do Celtic. Obrigatórios nas costas das camisolas desde 1960, os ditos cujos aparecem nos calções em tamanho XXL (os números, não os calções).
Ideia de Robert Kelly, mítico presidente do Celtic de 1947 a 1971 e famoso pelas inovadoras decisões nos melhores anos de sempre do Celtic. A UEFA aprova a ideia e a verdade é que só a partir de 1975 (pré-Kelly, portanto) o Celtic começa a ter números nas costas da camisola. Na Escócia, a teimosia aguenta-se por mais tempo. Só em 1994-95 (a anterior à de Jorge Cadete) é que o Celtic lá faz novos equipamentos. Tudo porque um árbitro confunde os jogadores na hora de mostrar um cartão amarelo. A culpa, claro está, é da singularidade do uniforme dos católicos porque “o número [gigante] nos calções não é visível”. O Celtic responde à provocação com mais teimosia. Em vez dos números nas costas, eis a versão números nas mangas. A Federação Escocesa (SFA) tolera um jogo, dois, três e depois obriga o Celtic a ser como todos os outros clubes.
Seja. Na tal final de 1967, o Celtic levanta a taça na tribuna do Jamor. O início até é favorável ao Inter, com golo de Mazzola de penálti, a castigar derrube de Craig sobre Cappellini. Na segunda parte, pobre Inter. Encostado às cordas pelo vertiginoso futebol do Celtic, o guarda-redes Sarti sofre belos golos de Gemmell (63’) e Chalmers (84’). O 2:1 final até é magro para tamanha supremacía do Celtic, com 64% posse de bola, 16 remates à baliza (três à barra) contra três do Inter, dez cantos contra zero e sete passes para o guarda-redes contra 21.
Curiosidade maiúscula desse Celtic? Ganha todas as competições dessa época, entre campeonato escocês (três pontos de avanço sobre Rangers), Taça da Escócia (Aberdeen 2:0), Taça da Liga escocesa (Rangers 1:0) e Taça de Glasgow (Partick Thistle 4:0). Ao todo, 196 golos marcados. Ainda hoje um recorde europeu. Sete dias depois, o Celtic marca presença na despedida oficial de Alfredo di Stéfano e arranca aplausos em pleno Santiago Bernabéu com (mais) uma vitória (golo solitário de Lennox).
Curiosidade xxl desse Celtic? Todos, todos, todos mesmo, todos os jogadores do Celtic da final europeia nascem num raio de 40 quilómetros à volta de Glasgow.