PSG 1998 vs Roma 2001

I Love The Smell Of Napalm In The Morning Mais 10/06/2020
Tovar FC

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PSG 1998 vs Roma 2001

O Okocha é tão bom tão bom tão bom mas tão bom que tenho um amigo que julgava que o Okocha era um jogador e o Jay-Jay outro. Só que não. Ambos pertencem ao mesmo corpo. Augustine Azuka “Jay-Jay” Okocha é craque. Da cabeça aos pés? Esse é o problema. A cabeça é assim-assim. Às vezes, é craque mesmo. Outras, é mais craque-problema. A história da sua chegada ao futebol alemão é sui generis. De férias na Alemanha em 1990, na ressaca do título mundial da Alemanha de Beckenbauer e Matthäus, vai ver um treino do amigo de infância Binebi Numa ao Borussia Neunkirchen, da 3.ª divisão. O treinador da equipa deixa-se impressionar pelo toque de bola de Jay-Jay e convida-o para jogar por um ano. Em Dezembro 1991, já Okocha assina pelo Eintracht Frankfurt, da 1.ª divisão, e joga ao lado de outro africano portentoso (Yeboah). Os dois partem a loiça, naturalmente.

Um pouco como Totti, Francesco Totti. Romanista dos sete costados. Nasce no bairro Appio Latino, ao lado do Coliseu, nas proximidades da Porta Metronia, o que lhe vale o apelido de “menino da Porta Metronia” até ser il capitano. da Roma, claro. Por isso e tudo o mais, o seu discurso é muito básico. Curto e grosso,
como soi dizer-se. Acompanhado de um italiano cerradíssimo, às vezes incompreensível, parece código morse, menos para os próprios amigos do bairro.

Bon vivant por natureza, Totti passa por cima disso para se impor com uma classe ímpar. O seu carisma é tão tão tão grande que Aldair toma a iniciativa de lhe oferecer a braçadeira de capitão. É campeão nacional em 2001 e campeão mundial em 2006. Não lhe falta nada, diz ele, “nem uma mulher em casa” (Ilary Blasi, apresentadora de televisão da RAI) “nem uma filha” (de seu nome, Chanel).

Dizíamos, o seu carisma é tão tão tão grande que a sua cara está pintada em muitas paredes exteriores de casas em Roma. O projecto é já de 2001, quando Totti perde a eleição da Bola de Ouro para o inglês Michael Owen e os adeptos o homenageiam de forma colorida e original. A cidade respira Totti, todos o admiram incondicionalmente. Quer dizer, todos não! Há uns quantos que desdenham o seu italiano falado. O que faz Totti? Dá a volta ao assunto
e escreve o Tutti le barzellette su Totti, um livro de piadas para crianças. De piadas? Yep. Leiam lá esta: Totti tenta concluir um quebra-cabeças. Leva quase quatro meses. Depois vira a caixa e lê: “De dois a quatro anos.” Comenta: “Mas então sou um gênio!” Vendem-se 600 mil cópias e é um best-seller. O dinheiro reverte para a UNICEF.

Agora Totti escreve para adultos. Aqueles que querem ser guiados pela Roma mais profunda. O conceito da história, por si só, é imperdível. Totti está de folga e entra no táxi de um simpático motorista para dar uma volta em Roma. A capa do livro é o 10 ao volante com um braço de fora e o Coliseu como pano de fundo. De repente vemo-nos envolvidos na viagem da dialéctica pelo Teorema de Marco Ferradini (um cantor italiano) com Pitágoras e Arquimedes ou encontramo-nos entre uma revolução “zemaniana” (do ex-treinador Zdenek Zeman) em comparação com a de Copérnico. Com Totti é assim: se conduzir, leia (e muito).

E mais, e mais? Compro a do PSG durante o interrail 1998, em Paris. Na loja do PSG, perto do Arco do Triunfo. A camisola é limpa, sem nome atrás. Por cada letra, uma série de francos franceses. Faço as contas de cabeça e ainda vacilo entre Rabesandratana ou Okocha. Decido-me pelo último e poupo os trocos para um gelado ou assim. A da Roma é um fajuta, comprada na feira da ladra de Milão. É preciosa, só vos digo. E já a levei para a praia da Costa da Caparica.

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