Szabo, um treinador único

Kali Ma Mais 02/27/2021
Tovar FC

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Szabo, um treinador único

Natural de Gonyo, uma aldeia fronteiriça então com a Checoslováquia, agora Eslováquia, separada apenas pelo rio Danúbio, o húngaro Josef Szabo chega aos 30 anos de idade a Portugal, onde obtém dupla nacionalidade e passa a chamar-se José Sezabo. Internacional húngaro por seis vezes nos anos 20 e 30, Szabo aterra na Madeira durante uma excursão do Szombathely (por empréstimo do Ferencvaros, seu clube do coração) e apaixona-se pela ilha. E vice-versa. Ao ponto de vestir a camisola de Nacional (1926-29) e Marítimo (1929-30).

Às tantas, salta para o continente e traz consigo o primeiro fenómeno madeirense. Pinga, de seu nome. Szabo, já avançado (de idade, queremos dizer), representa o FC Porto durante três épocas como jogador-treinador (1930-33). Ao todo, 10 jogos — um dos quais é o famoso 8:0 vs Benfica, na Constituição, a 8 Maio 1933, com arbitragem do espanhol Pedro Escartin.

Penduradas as chuteiras em 1933, agarra-se ao treino. Exigente, obcecado, metódico. Szabo é tudo isso (e muito mais, sobretudo depois de um estágio em Londres com o Arsenal). Em seis anos, o Porto ganha seis campeonatos do Porto e um Campeonato de Portugal, além de figurar no livro de honra da 1.ª divisão como primeiro treinador campeão nacional, em 1934-35, com dois pontos de avanço sobre o Sporting. O título dá-lhe mais bagagem, só que o estilo dos seus treinos puxados irritam jogadores e até directores. Um deles chama-lhe maluco. Szabo responde-lhe com um valente murro. Game over, sai do Porto e vai para Braga.

Um ano em Braga é o suficiente para marcar o arrependimento do Porto. A direcção contacta-o, o Sporting sabe e intromete-se no negócio. O presidente Joaquim Oliveira Duarte oferece-lhe um ordenado alto e ainda prémios de jogo, uma novidade para a época. Szabo deixa-se seduzir por Lisboa e assina pelo Sporting. Começa aqui uma era dourada, a mais dourada de todas. Para início de conversa, 314 jogos. Depois, uma caterva de títulos. Em vez de enumerá-los, basta mencionar as duas dobradinhas (1942 e 1954). Pelo meio, um número de recorde de 95 jogos a envolver os três grandes (72 pelo Sporting, 23 pelo Porto), com larga margem para o segundo classificado Otto Glória (56). No balanço, mais vitórias (42) que derrotas (38).

As suas histórias valeriam um livro. Como aquela de proibir os jogadores de beberem água ao intervalo porque a garganta está quente, devido ao esforço — como resultado, serve-se chá. Também vive preocupado com as vésperas dos jogos, por causa das (eventuais) aventuras amorosas dos jogadores, e não admite atrasos aos treinos, ao ponto de aplicar multas de 10 por cento do ordenado a quem chegasse atrasado às 7.01 da manhã. Um belo dia, até compra um despertador para o goleador Peyroteo, que o trata por mestre.

Treina um pouco por todo o país (Faro, Viana do Castelo, Espinho, Famalicão, Marvila e Olhão) e até lá fora (seleccionador de Angola). Seja como for, é do Sporting até morrer, em pleno centro de estágio, aos 76 anos de idade, a 17 Março 1973. “Como um leão”, acrescentaria Octávio Barrosa, jogador de Szabo entre 1937 e 1944.

Pormenor da carreira Sporting vs Porto

Estreia 3 Mar 1935 Porto 4:2

Despedida 26 Set 1954 Sporting 5:1

Maior goleada 4 Abr 1937 Sporting 9:1

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