Great Scott #427: Quem é o primeiro treinador português a apurar-se para o Mundial por uma selecção estrangeira?

Great Scott Mais 11/24/2021
Tovar FC

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Great Scott #427: Quem é o primeiro treinador português a apurar-se para o Mundial por uma selecção estrangeira?

Carlos Queiroz

Bicampeão mundial sub20 em 1989 e 1991, Carlos Queiroz assume o desafio da selecção principal a meio do apuramento para o Mundial-94 e falha EUA com aquela derrota em Milão por 1:0, golo de Dino Baggio em fora-de-jogo a sete minutos do fim.

Segue-se o Sporting como sucessor de Bobby Robson a partir de Dezembro 1993. Vive-se o 6:3 em Maio 1994, a perda da Taça de Portugal vs FC Porto na finalíssima em Junho 1994 e a conquista da Taça de Portugal vs Marítimo em Junho 1995. Em Fevereiro 1996, após o empate a zero na Luz, o presidente Santana Lopes afasta Queiroz. E Queiroz afasta-se de Portugal.

Emigra e inicia a vida de globetrotter: States (NY/NJ Metrostars), Japão (Nagoya Grampus8), EAU (selecção) e África do Sul (selecção). A partir de Setembro 2000, Queiroz treina a África do Sul. O objectivo é a qualificação para o Mundial-2002. Em cinco jogos, quatro vitórias e um empate mais 8:3 em golos. A uma jornada do fim, a 1 Julho 2001, a África do Sul faz 1:1 no Burkina Faso e festeja o Mundial-2002. Queiroz é o primeiro português a chegar a uma fase final por uma selecção estrangeira. Se englobarmos a selecção portuguesa, só está atrás de José Torres (México-1986).

E agora, Queiroz? O problema é a Taça Africana das Nações, em Janeiro/Fevereiro 2002, no Mali. A África do Sul é uma favoritas ao título. Nos dois primeiros jogos, dois empates a zero vs Burkina Faso e Gana. No tudo ou nada, 3:1 vs Marrocos de Humberto Coelho. A vitória dá-lhe o primeiro lugar do grupo B e marca encontro com o segundo do A nos 1/4 final. Contas feitas, é o anfitrião Mali. E aí a porca torce o rabo. O Mali ganha 2:0 com dois golos na segunda parte e desanima a malta sul-africana. O regresso a casa é confuso.

Há críticas constantes sobre o trabalho de Queiroz. Quer dizer, detractores já os há faz tempo. Basta recuar até 5 Julho 2001, aquando da convocatória do veterano Doctor Khumalo (34 anos) para o jogo a feijões vs Malawi. A malta cai-lhe em cima. Como se isso fosse pouco, o ex-secretário da federação sul-africana dá uma entrevista e alerta para o ‘ditador sem coração’ e ‘fraco estratego’. Ya, está a falar de Queiroz. Também o acusa de estar ‘só interessado num salário gordo’. Para fechar, Zola Dunywa futuriza sobre o Mundial-2002: ‘com Queiroz, vai ser um desastre’.

Em Novembro 2001, o presidente do Mamelodi Sundowns recusa-se a ceder um lugar ao seleccionador no jogo vs Petro Luanda, para a primeira mão da 1/2 final da Liga dos Campeões Africanos, e Queiroz é obrigado a comprar um bilhete. No dia seguinte ao jogo, lá aparece uma voz a defender Carlos. ‘Quem o critica é gente que quer o cargo a todo o custo’. Palavras de Danny Jordan, director executivo da federação. Ainda em Novembro, o ministro do Desporto (vejam lá onde é que a caldeirada já vai) escreve aos treinadores do Kaizer Chiefs e Mamelodi Sundowns e acusa-os de minar o trabalho de Queiroz ao recusarem ceder jogadores para os trabalhos da selecção.

O tempo avança e não há melhorias na relação entre Queiroz e o mundo sul-africano. Na véspera do arranque da Taça Africana das Nações, um jornal sul-africano faz um trabalho junto dos treinadores da 1.ª divisão local e a conclusão é unânime: Queiroz é incompetente e anti-diplomático. Todos aguardam o seu despedimento, inclusive o próprio jornal num editorial escanifobético.

Eliminada da Taça Africana das Nações, a selecção da África do Sul regressa a Joanesburgo e começa a dança. Depois de um par de reuniões inconclusivas, a federação anuncia a continuidade de Queiroz mas com a ajuda de um director-técnico, com atribuições supostamente ‘complementares’ ás do seleccionador. O homem em causa é Jomo Sono. Nem um mês depois, sem qualquer jogo de permeio, a federação promove uma conferência de imprensa e anuncia a saída de Queiroz por sua livre e espontânea vontade. Dizem eles, da federação, por ‘divergências com Jomo Sono’. O suposto demissionário nega imediatamente tudo. Bola aqui, bola ali e Queiroz sai mesmo. Para o seu lugar, quem?

Ya, esse mesmo: Jomo Sono. É ele o seleccionador da África do Sul no Mundial-2002. E é eliminado na fase de grupos, com empate (2:2 vs Paraguai), vitória (1:0 vs Eslovénia) e derrota (3:2 vs Espanha). Acaba em terceiro lugar, com os mesmos quatro pontos do Paraguai, embora com menos golos marcados (6 contra 5). Queiroz, esse, só chegaria a uma fase final do Mundial em 2010, por Portugal. Onde? Na África do Sul. Ele há coincidência. Ai há, há.

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