Great Scott #449: Primeiro português a treinar uma selecção estrangeira na qualificação para o Mundial?
Jesualdo Ferreira
O Benfica de Toni acabara de se sagrar campeão português na 1.ª divisão das 20 equipas em 1988-89. Na última jornada, o empate 2:2 na Luz é amplamente celebrado porque Vata bisa vs Boavista e ultrapassa Amancio (Penafiel) mais Jorge Silva (Marítimo) na lista dos melhores marcadores com a fartura de 16 golos.
A equipa técnica do Benfica é composta por Toni mais Jesualdo e Eusébio. Todos eles sabem o nome do sucessor para a época seguinte, chama-se Sven-Göran Eriksson. De Maio até Agosto, tanto Toni como Eusébio continuam a fazer parte do Benfica. Já Jesualdo é dispensado temporariamente para fazer três meses à frente da selecção angolana rumo ao Mundial-90.
Jesualdo apanha a qualificação a meio e Angola acumula dois pontos em dois jogos, resultantes dos empates vs Camarões (1:1 em Yaoundé) e Nigéria (2:2 em Luanda). ”O empenho do governo angolano na minha presença junto da selecção honrou-me e não consegui deixar de ser sensível a este desafio profissional.’ E o Benfica coloca alguns entraves? ‘De modo algum, o Benfica facilitou-me o sim ao convite e voltarei em Agosto. Vou sacrificar as minhas férias mas o desafio lançado é irresistível do ponto de vista humano e desportivo.’
O sonho é o Mundial-90 e o primeiro jogo de Jesualdo é daí a 15 dias, em Luanda, no Estádio dos Coqueiros, vs Gabão. ‘Conto com Abel, Saavedra, Lufemba, Jesus, Maluka e Tozé como representantes da 1.ª divisão portuguesa. Infelizmente, por motivos que me transcendem, não posso contar com Vata, melhor marcador do campeonato. E é pena porque a selecção angolano seria mais forte com Vata. Paciência, o desafio continua a ser aliciante.’
No dia 11 Junho, a estreia de Jesualdo é vitoriosa com um bis de Maluka, avançado do Paredes. Acaba 2:0 e Angola leva quatro pontos, os mesmos da Nigéria. Atrás, Camarões com três e Gabão zero. A partir daí, Jesualdo nunca mais ganha. Aliás, só perde. A série começa em casa, novamente no Estádio dos Coqueiros, vs Camarões. Em vantagem ao intervalo, com um golo madrugador de Paulão, vulgo Paulo Baptista, então no Petro. Na segunda parte, os manos Biyik silenciam Luanda. O empate é de Omam, a reviravolta é de Kana.
À falta de dois jogos, é obrigatório ganhar na Nigéria para continuar a sonhar com Itália. Em vão. Um golo de Keshi aos 44′ vale o magro 1:0 ao intervalo, à frente de 100 mil espectadores. Angola está fora matematicamente do Mundial-90? Calma, ainda não, falta a segunda parte. Aos 58′, penálti para Angola. Chamado a bater, Carlos Pedro falha a baliza e, agora sim, é o canto do cisne. Para cúmulo, o jogo é tristemente célebre pela morte de Okwaraji aos 79′, provocada por uma paragem cardíaca. O episódio marca toda a gente e três adeptos morrem nas bancadas.
No adeus à qualificação, no dia 27 Agosto, o Gabão ganha 1:0 e apanha Angola na tabela classificativa com quatro pontos, embora em desvantagem na diferença de golos e também no confronto directo. Nesse mesmo dia, Omam-Biyik faz o 1:0 vs Nigéria e apura Camarões. O mesmo Omam-Biyik seria o autor do primeiro golo desse Mundial-90, vs Argentina de Maradona e Caniggia, em Milão, naquela que é a primeira das muitas surpresas da competição.
