Great Scott #459: Quem é conhecido como o Puskas do Candal?
Peres
Os brasileiros é que são barra nisso. Nisso dos nomes. Vejam-se bem os heróis do primeiro título mundial, em 1958. Manuel Francisco dos Santos é Garrincha. Edson Arantes do Nascimento é Pelé. Waldyr Pereira é Didi. José João Altafini é Mazzola. José Ely de Miranda é Zito. Edvaldo Izidio Neto é Vavá. Edvaldo Alves de Santa Rosa é Dida. José Macia é Pepe.
Por cá, há alguns casos. O mais flagrante é Pedro Miguel Carreiro Resendes como Pauleta. Ou Nuno Miguel Soares Pereira Ribeiro como Nuno Gomes. Antes, muito antes destas duas figuras do nosso contentamento, há um tal António Francisco de Jesus Moreira, conhecido como Peres.
E porquê Peres? É um erro antigo, desde o tempo do seu pai, também jogador da bola e baptizado de Chico Peres, embora seja Francisco Moreira. Acontece que um dirigente do Candal inscreve-o como Francisco Peres e, pronto, a sua vida muda. A do filho, também. Por osmose.
Tanto o pai como o filho crescem no Candal, pessoal e futebolisticamente. E se o pai não vai por aí além em matéria de reconhecimento público, o filho cresce a olhos vistos no Clube Desportivo do Candal, onde joga desde os 15 anos, ao ponto de receber ofertas de Benfica e Porto, aos 18, após a realização de um torneio no Porto com a presença de numerosas equipas.
A alcunha do Puskas do Candal começa aí a fazer eco na imprensa portuense, primeiro, e portuguesa, depois. O Benfica fala com o pai, o tal Chico Peres. E chega-se a um acordo de cavalheiros. O problema é o acordo passar para o papel. Enquanto não passa, Peres filho vai treinar às Antas sob as ordens de Francisco Reboredo e Otto Bumbel. O treino vira notícia, Leixões e Boavista também o querem testar.
Em vão, o representante benfiquista Silvério Gouveia aparece no Porto e reúne-se com um dirigente do Candal mais o irmão do jogador (David), na ausência do pai, impedido por motivos profissionais, no Hotel Batalha. Faz-se a transferência e o Benfica paga 300 contos divididos em duas fatias, 150 para o Candal e 150 para Peres. É um valor alto para a época, e o Benfica ainda se compromete a jogar uma vez no Campo Rui Ramiro, casa do Candal.
Da noite para o dia, a vida de Peres muda significativamente. ‘Custa-me deixar o emprego, mas julgo que escolhi o melhor clube português para jogar de forma profissional.’ É só rir. Instalado no lar do jogador, ali na Calçada do Tojal, o percurso de Peres no Benfica começa nas reservas. Camisola 10, como interior-esquerdo, posição ocupada por Coluna na equipa principal. A estreia é um vistoso 9:0 vs Arroios, no Campo Grande, a 19 Outubro 1958.
Peres só viria a vestir a camisola dos seniores do Benfica na época 1960-61, lançado por Bela Guttmann, a 30 Abril 1961, vs FC Porto, nas Antas. Aos 30 minutos, o Benfica ganha 2:0. No instante seguinte, Serra lesiona-se e sai do relvado. Durante uma hora, o Porto joga em superioridade numérica e dá a volta ao marcador, por Noé, Noé e Hernâni.
A presença inédita de Peres no onze deve-se única e exclusivamente à 1/2 final da Taça dos Campeões, vs Rapid Viena — o Benfica jogara dia 26 na Luz e decidiria um lugar na final a 4 Maio, na Áustria. Ou seja, Guttmann poupa quase toda a equipa, à excepção do guarda-redes Costa Pereira.
Até final dessa gloriosa época, culminada com a conquista da 1.ª divisão e da Taça dos Campeões, o nome de Peres aparece em dois jogos da Taça de Portugal. E é só. Em 1961-62 faz toda a época no Atlético, onde forma uma famosa asa esquerda com Francisco Palmeiro. Da Tapadinha salta para Guimarães, onde faz nove épocas de intenso fulgor com um total de 206 jogos, um dos quais é a final da Taça de Portugal 1963, perdida para o Sporting.