Great Scott #534: Único guarda-redes titular numa final do Mundial e suplente na sua equipa?
Romero
A selecção da Argentina reserva-nos mistérios. Em 1930, vai ao Mundial por convite (como todos os outros participantes, aliás). Em 1934, repete a presença, e sem jogar a qualificação. Em 1938, abdica. Em 1950, idem idem. Em 1954, aspas aspas. Só volta a competir nos grandes palcos em 1958. Naquele hiato de 16 anos, a Argentina ganha de goleada ao Brasil nas Copas Américas e assume-se como maior potência sul-americana.
A ausência nos três Mundiais é uma atitude arrogante dos dirigentes, com desdém pela FIFA e sem respeito pelo resto do mundo, um pouco à imagem do sucedido com a Inglaterra, prepotente nos seus princípios futebolísticos em relação à FIFA em 1930, 1934 e 1938. Para a Argentina, o caso ganha uma dimensão ainda mais drástica com a paragem obrigatória pela 2.ª Guerra Mundial. Nessa década 40, só se fala da Máquina, um quinteto maravilha do River Plate, ao estilo Cinco Violinos do Sporting, com Muñoz, Moreno, Pedernera, Labruna e Loustau.
Mais para a frente, há uma série de episódios recambolescos a ilustrar uma selecção diferente das demais. Senão veja-se os sucessivos atropelos à consistência: em 1962, o seleccionador da qualificação é Guillermo Stabile e o da fase final é Juan Carlos Lorenzo; em 1966, José Maria Minella apura-se e Juan Carlos Lorenzo é quem joga a fase final; em 1974, Vladislao Cap substitui Omar Sivori no final da fase de apuramento. Mais recentemente, em 2018, a fase de apuramento é dividida por Gerardo Martino (6 jogos) e Edgardo Bauza (8) e a federação nomeia Jorge Sampaoli para a viagem à Rússia.
Sobre as convocatórias para os Mundiais em si, o que dizer do não de Menotti a Bocchini em 1978? Ou o que dizer do não de Passarella aos cabeludos em 1998? Ou o que dizer do não de Maradona a Zanetti, capitão do campeão europeu em título, em 2010? Há pano para mangas, olá se há. Quatro anos depois, com Sabella, a Argentina chega à final.
O percurso é quase 100% vitorioso, três vitórias em três na fase de grupos mais duplo 1:0, vs Suíça e Bélgica. Nas ½ finais, 0:0 vs Holanda. Nos penáltis, resolve a destreza do guarda-redes Romero, autor da defesa do primeiro remate (Vlaar) e do quinto (Sneijder). A Argentina nem um falha e passa à final, a terceira vs Alemanha, desta vez em pleno Maracanã.
No onze da final, como é lógico, o herói Romero. É ele o guarda-redes de Sabella na qualificação e na fase final do Mundial. Aliás, é ainda hoje o guarda-redes mais internacional pela Argentina com um total de 96 jogos. Durante a época 2013-14, há quem o questione à baliza. E o caso até nem é para menos, porque Romero só faz nove jogos, todos pelo Monaco, emprestado pela Sampdoria.
É verdade, Romero divide a época por dois clubes. Suplente de Viviani na Sampdoria e à procura de minutos, Romero aceita o convite do Monaco no fecho do mercado de transferências. É pior a emenda que o soneto. Romero simplesmente não conta para Ranieri e é suplente de Subasic. Só joga na Taça de França e na Taça da Liga. Para o campeonato francês, três míseros jogos, um em Abril e dois em Maio. Ao todo, 827 minutos. Mesmo assim, é titularíssimo para Sabella no Mundial-2014, à frente de Andújar e Orión.
Nós por cá, temos um caso muito parecido, relacionado com Eduardo: 850 minutos em 9 jogos pelo Benfica e chamado por Paulo Bento para o Euro-2012 como terceiro keeper, atrás de Rui Patrício e Beto.