Great Scott #588: Quem é o piloto com menos rodagem a entrar na Fórmula 1?
Yuji Ide
Aguri Suzuki é o primeiro japonês a pontuar na F1, com um terceiro lugar no Japão em 1990, no tal GP em que Ayrton Senna (McLaren) assegura o título mundial ao fim de dez segundos à conta de um toque no Ferrari de Prost na primeira curva.
Aguri larga o volante e assume uma equipa no circo, a Super Aguri, patrocinada e financiada pela Honda. Em 2006, a dupla de pilotos é 100% japonesa. A primeira opção é Takuma Sato, então já com três épocas de F1. Para a segunda vaga, a escolha recai num homem experiente de 30 anos e com provas dadas na Fórmula Nippon (a do Japão) a avaliar pelo vice título do ano anterior, em 2005. Yuji Ide, de seu nome.
Ora bem, Yuji não fala inglês nem acumula mais de 200 km num F1 em toda a sua vida. E agora? É o desastre total. Nos testes de pré-época, roda sempre a quatro/cinco segundos de distância de Sato, não faz as curvas da forma correcta e acelera sempre tardiamente. Na estreia oficial (GP Barém), é o flagrante último classificado antes de abandonar à 35.ª volta, com problemas no motor. No GP Malásia, faz 33 voltas antes de novo problema no motor.
No primeiro dia da qualificação do GP Austrália, comete três erros numa só volta e prejudica Rubens Barrichello ao ponto de o brasileiro ser eliminado. Na corrida propriamente dita, muito acidente e com três entradas do safety car, Ide consegue uma alegria inaudita e acaba sem problemas de motor – em último, claro, e a três voltas do vencedor Fernando Alonso). Já na Europa, o quarto GP de Yuji é uma aberração. Na quinta curva do circuito, ainda na primeira volta do GP São Marino, em Imola, o japonês faz capotar o holandês Christijan Albers (Midland).
É o ponto final na sua (curta) carreira de F1. A federação automóvel (FIA) cancela a sua licença e afasta-o em definitivo do circo por evidentes problemas em manobrar a alta velocidade. O próprio Aguri Suzuki aceita a decisão e chama o francês Franck Montagny. ‘Foi extremamente difícil para ele’, desabafa o dono da equipa. ‘Ide chegou ao GP Barém com apenas 200 km num F1 e nunca se entendeu com os pneus, as curvas e os circuitos. Aliás, ele não conhecia os circuitos de todo.’
Como se isso fosse pouco, a machadada final é esta aqui ó. ‘Ide não falava inglês e eu era quem traduzia as suas queixas ao mecânico e vice-versa. Mesmo nos treinos de qualificação, à sexta e ao sábado, ele dizia-me coisas em japonês difíceis de entender.’ Adiante, Yuji nunca mais toca num F1. Verdade, só que o mais-que-eventual-pior-piloto-da-história é falado no GP Monaco, quando Schumacher estaciona o seu carro na penúltima curva durante o último treino de qualificação.
A sua atitude causa uma chuva de críticas, porque o campeão mundial Alonso está a caminho de lhe roubar a pole position e a paragem de Michael implica uma bandeira amarela, sinal de que os outros pilotos têm de abrandar o ritmo. Assim, Schumacher mantém a pole, conquistada no treino anterior.
Flavio Briatore, chefe de equipa da Renault, onde corre Alonso, passa-se naturalmente. ‘É sempre a mesma coisa, a Ferrari joga sujo’. Já o piloto canadiano Jacques Villeneuve, ex-companheiro de Schumacher na Ferrari e então na BMW, alfineta o alemão de uma maneira curiosa. ‘Espero que tenha sido de propósito. Se foi um erro, é um lance vergonhoso até para Yuji Ide.’ Pobre Yuji.