Great Scott #742: Quem desenha o equipamento dos Indiana Pacers em 1990?
FloJo
Mil-nove-22. É quando há o registo do primeiro recorde feminino dos 11 metros, na Checoslováquia, com 13,6 segundos por Marie Mejzlikova II. No mesmo mês de Agosto, a inglesa Mary Lines reduz para 12,8.
Daí para a frente, uma série de atletas atravessam-se por um momento de glória. A primeira a baixar dos 12 segundos é a holandesa Tollien Schuurman, em 1932. A primeira a fazer abaixo dos 11 segundos é a alemã-democrática Renate Stecher, em 1973. Da mesma nacionalidade é aquela a correr os 100 metros em menos de 10 segundos – Marlies Oelsner em 1977.
O recorde mundial, esse, é 10’49’’ por Florence Griffith-Joyner. A norte-americana entra para a história num dia como outro qualquer em Julho. De que ano? Acredite se quiser, mil-nove-88. No ano do único título da Holanda, veja lá bem. Ó tempo.
A sétima criança de uma série de 11, Florence nasce Florence Delorez Griffith em Dezembro 1959, numa cidade do deserto chamado Mojave, a 90 quilómetros de Los Angeles. Desde nova, muito nova, sente apetência para fazer vestidos para a Barbie e experimentar a roupa da mãe. Aos cinco anos, o pai desafia-a a apanhar a lebre da califórnia no meio do deserto. Flo apanha um. Aos sete, já é corredora por puro prazer. Daí ao sucesso é um passo.
Quando se torna profissional, nos juniores, Flo vira Flo-Jo e é uma reconhecida atleta de eleição como recordista dos 200 e 100 metros. A primeira experiência nos Jogos Olímpicos é em casa (1984) e saca a prata, só a 21 centésimas do ambicionado ouro. No ano seguinte, e sem dinheiro para andar de um lado para o outro, Flo-Jo arranja dois empregos. O de dia é num banco, ao balcão, o de noite é em casa, como cabeleireira e manicure. Como tem jeito para a coisa, a clientela expande-se – e os preços, também.
Já com dinheiro, volta às pistas e dá espectáculo na qualificação para os Jogos Olímpicos-1988 com o tempo recorde de 10.49 em Indianapolis. O ecrã diz 0.0 de vento. A 50 metros, o ecrã do triplo salto indica 4.3 metros por segundos. Em que ficamos? A organização dá recorde mundial a Flo-Jo. No dia seguinte, com 1.2 m/s, Flo-Jo ganha a final dos 100 metros com o tempo sensacional de 10.61.
A presença nos Jogos Olímpicos-1988, em Seul, é um mimo. Flo-Jo ganha três ouros, nos 100, 200 e 4×100, mais uma prata, nos 4×400. Qual o passo seguinte? Em Fevereiro 1989, um ainda jovem Flo-Jo, de 29 anos de idade, anuncia o fim da sua carreira desportiva para se dedicar à escrita e à moda.
Durante nove anos, até ao dia da sua morte em 1998, Flo-Jo escreve uma série de contos infantis e até um romance. Também participa na sitcom 227 e na soap opera Santa Barbara. Em cima de isso tudo, dá à luz em 1990 – a menina chama-se Mary Ruth Joyner.
Happy end? Nem por isso, as acusações de doping voam por todos os lados, até de atletas da sua geração, como o brasileiro Joaquim Cruz (propõe um comparativo do rosto dela entre 1984 e 1988) e o compatriota Darrell Robinson (alega um pagamento de dois mil dólares feito pela atleta a troco de 10 centímetros cúbicos de hormonas de crescimento), este último ao vivo e a cores no talk show ‘The Today Show’.
E agora? Os controlos são todos negativos, não há como dar a volta ao assunto. Flo-Jo tem de conviver com essa realidade, todos os dias. Ainda dá uma conferência de imprensa a negar tudo, só que há sempre alguém (muitos alguéns) a torcer o nariz. Seja como for, Flo-Jo segue a sua vida e, em 1989, surge uma oportunidade de ouro: a de vestir os Indiana Pacers, da NBA.
A história é engraçada, como quase sempre. Uma estagiária dos Pacers chamada Rebecca Polihronis lê um artigo da Sports Ilustrated sobre a versatilidade de Flo-Jo no mundo da moda e lança-lhe o desafio. Em Junho 1989, Flo-Jo dá uma conferência de imprensa a falar de 13 possibilidades para o equipamento dos Pacers e daí a pouco, no dia 30 Janeiro 1990, uma foto oficial é publicada num canto de página do ‘USA Today’.
A época arranca e todos se deslumbram com os Pacers, autores de um horrível 28-54 (vitórias-derrotas) no ano anterior. O plantel é óptimo, com uma série de jogadores promissores da craveira de Detlef Schrempf, Rik Smits, Reggie Miller e Chuck Person. E o equipamento é divinal. Não há ninguém a torcer o nariz à imaginação de Flo-Jo.
A parceria mantém-se até 1997, com indiscutível bom gosto – e excelente basquetebol. Nesses sete anos, os Pacers chegam a duas finais da NBA, ambas perdidas, vs. Knicks em 1994 e vs. Magic em 1995.