#67 Arábia Saudita 1996
O Telejornal da RTP 1 abre com desporto: a Arábia Saudita de Nelo Vingada é campeã asiática. Estamos em 1996, dia 21 Dezembro. Para começar a falar desta conquista bem portuguesa, até porque o adjunto de Nelo é o magriço António Simões e o massagista é José Catoja, é preciso recuar até Março desse ano.
Estádio da Luz, noite de Portugal vs. Itália. Uma vitória garante-nos o passaporte para os Jogos Olímpicos Atlanta-1996. Meu dito, meu feito: Porfírio marca a Pagotto (o suplente é Buffon) e a festa é portuguesa. Nos EUA, a campanha dos eleitos de Vingada é meritória com vitória (Tunísia 2:0), empate (Argentina 1:1), empate (EUA 1:1) e vitória (França 2:1) até chegar à ½ final.
Os últimos 180 minutos da prova atiram-nos para o precipício, com um total de 0:7 em golos entre Argentina (0:2) e Brasil (0:5). Seja como for, é a primeira vez (e única, até agora) em que Portugal discute uma medalha no futebol. O regresso a casa é duro, Nelo Vingada procura um futuro fora da federação. No quadradinho seguinte, o telefone toca e é um convite para treinar a selecção olímpica da Arábia Saudita. A reunião é em Londres. Daí a uma semana, Nelo aterra em Riade para ver a selecção principal na Taça do Golfo.
A experiência (de Nelo) é óptima, o príncipe está espantado com todos os seus conhecimentos do mundo saudita entre futebol, culinária, costumes, religião – atenção, Nelo é campeão mundial sub20 em 1989 naquele país. A experiência (da Arábia na Taça) é péssima, o príncipe está vai-não vai para mudar de seleccionador. Nelo sai de cena e volta para Portugal, o futuro está bem encaminhado. Menos de 24 horas depois, o príncipe telefona e oferece-lhe o cargo de seleccionador dos AA. Uauuuu, grande movida.
Falta um mês para o arranque da Taça da Ásia nos EAU e há muito para trabalhar na Arábia Saudita. O primeiro processo de Nelo é ver os treinos ao lado de Simões e a primeira conclusão é a de talento em doses absurdas. A começar por Al-Deayea. ‘Foi o único guarda-redes que vi a sair da baliza todo no ar e a agarrar uma bola com uma só mão.’
O calendário pré-Taça da Ásia prevê um jogo em Riade vs. Bulgária. De todos os craques do Mundial-94, só faltam Stoitchkov e Balakov. A Arábia joga como se fosse o Brasil e ganha 1:0. ‘No final, o Iordanov e o Kostadinov foram falaram comigo a dizerem-se espantados com a qualidade técnica e conhecimento táctico’.
Começa a Taça da Ásia e a Arábia apura-se ao fim de 180 minutos, com duas vitórias e zero golos sofridos. No adeus à fase de grupos, o Irão é triplamente mais forte (3:0). Na fase seguinte, já a doer, a Arábia elimina a China num jogo fora de série. Aos 16 minutos, 2:0 para a China. Ao intervalo, 3:2 para a Arábia. Acaba 4:3.
A caminho da final, intromete-se o Irão. Outra vez o Irão, com Ali Daei nas sete quintas: melhor marcador da competição com sete golos, três dos quais nos ¼ vs. Coreia do Sul. Pois bem, Ali Daei passa 120 minutos em branco. Zero-zero, vamos para penáltis. O primeiro a bater é Ali Daei. Ao lado. O segundo é Al-Temawi. Defesa. Ainda zero-zero.
Peyrovani marca, finalmente. Sulaimani empata. Yazdani atira, Al-Deayea defende. A cena repete-se já na segunda série, a um remate de Khakpour. Chamado a resolver o desempate, Madani arruma o assunto e a Arábia vai jogar a final com o anfitrião EAU, em Abu Dhabi.
Estamos a 21 Dezembro, o estádio está cheio. Primeiro joga-se o apuramento para o terceiro lugar, com vitória do Irão vs. Kuwait nos penáltis (o Kuwait falha os três últimos remates). Depois é a final, entre Tomislav Ivic e Nelo Vingada. Sai outro zero-zero, sai outro prolongamento, sai outro desempate por penáltis. Começa a Arábia, 1:0. Segue os EAU, 1:1. Continua a Arábia, 2:1. Ao quarto remate, o de Hussain, defesa de Al-Deayea. Na expectativa do 3:1, Al-Harbi atira muito ao lado (ou terá sido por cima? talvez os dois). Saad empata 2:2, Al-Temawi faz 3:2 e Saeed acerta no poste.
É agora, a Arábia tem o título na mão. Se Al-Muwallid marca, game over. Vale a pena dizer o seguinte: Ivic passa o desempate de pé, agarrado à estrutura metálica do banco de suplentes. Nelo Vingada, esse, está sempre sentado, impávido e sereno. Al-Muwallid arranca, atira e faz golo ao ângulo superior. É a festa da Arábia. E a de Portugal.
O Telejornal da RTP 1 abre com desporto: a Arábia Saudita de Nelo Vingada é campeã asiática. Estamos em 1996, dia 21 Dezembro. Daí para cá, a Arábia nunca mais ganha a Taça da Ásia.
Tailândia | 6:0 | Al-Temawi-2 / Al-Mehallel-2 / Al-Muwallid / Al-Jaber |
Iraque | 1:0 | Al-Mehallel |
Irão | 0:3 | |
China | 4:3 | Al-Thunayan-2 / Al-Jaber / Al-Mehallel |
Irão | 0:0 ap (4:3 p) | |
EAU | 0:0 ap (4:2 p) |