Great Scott #910: Único treinador do FC Porto despedido no dia do arranque da 1.ª divisão?
Kalmar
A contratação de Janos Kalmar é todo um acontecimento na comunicação social portuguesa. Faz manchete n’A Bola, a época 1961-62 ainda está a decorrer e o homem, então a treinar o Hapoel Telavive, em Israel, dá o sim ao FC Porto.
A primeira decisão do húngaro, lendário treinador do Honved durante aquela digressão pela Europa nos anos 50 durante a invasão à Hungria, é uma limpeza de balneário. Saem então jogadores da craveira de Monteiro da Costa, Ivan, Noé e Teixeira, só para citar os quatro mais importantes e habituais titulares.
No campo desportivo, o FC Porto arranca bem e conquista o Torneio Pontevedra, na Galiza, com vitórias vs. Betis (2:1) e Pontevedra (2:0). No primeiro dia de Setembro, o Estádio das Antas abre os portões para a inauguração do sistema eléctrico e os espectadores vibram com o 2:1 vs. Athletic Bilbao. Está perto, o arranque da 1.ª divisão.
O sorteio dita um jogo em casa, vs. Feirense. O plantel reúne-se no Lar do Jogador e a palestra de Kalmar é tudo menos aliciante. Vai daí, a direcção encosta-o e substitui-o pelo adjunto Artur Baeta. Então? A decisão é de Nascimento Cordeiro, presidente do FC Porto de 1961 até 1965. ‘Esta manhã [a do jogo], recebi um telefonema do novo director de futebol a anunciar que tinha algo desagradável para me contar. Passados uns minutos, Manuel Borges passou em minha casa e deu-me conta do pessimismo no discurso de Kalmar. Entre outras coisas, disse que não acalentava esperanças no campeonato. Ora bem, entendo que um treinador tem de ser o último a perder a esperança, é um capitão que tem de dar o exemplo de fé, entusiasmo, coragem e bravura aos seus subordinados.’
Grande cegada. ‘Até lhe posso dar um exemplo de liberdade a mais: disse aos jogadores para irem ao cinema e isso não pode ser. Nem antes nem depois dos jogos. O Lar foi construído com o único objectivo de concentrar os jogadores à volta do jogo, sem distracções de qualquer espécie.’
E agora? ‘Tomei a liberdade de o dispensar e substituir pelo Artur Baeta. Na segunda-feira, depois do jogo, reunimo-nos e não me parece que voltará a orientar as nossas equipas. Espero que ele compreenda o melindre da situação que criou e se decida por uma rescisão amigável.’
Tal não acontece. A rescisão, queremos dizer. Na dita reunião, Kalmar desfaz-se em desculpas e retoma o lugar. O FC Porto 1962-63 anima a massa associativa, sobretudo com a sequência de oito vitórias seguidas, ali a morder os calcanhares ao Benfica. Só que a ponta final da 1.ª divisão é infeliz, com empate no Restelo (1:1 vs. Belenenses) e derrota em Matosinhos (2:0 vs. Leixões), e o Benfica sagra-se campeão – é, aliás, o primeiro dos 11 títulos nacionais de Eusébio.