Great Scott #965: Quem é o treinador da equipa feminina campeã europeia de hóquei em patins?

Jorge Lopes

Senhoras e senhores, vai começar o Europeu feminino de hóquei em patins. É a quarta edição, a primeira em Portugal, mais precisamente em São João da Madeira.

O arranque é a uma terça-feira, 25 Novembro 1997, vs. Suíça. Aos quatro minutos, Ana Patrícia levanta o pavilhão de alegria. É o 1:0, ainda por cima da jogadora mais nova da competição, com apenas 16 anos. ‘O que posso dizer? Estou felicíssima por me ter estreado na selecção e, ainda por cima, com um golo.’ A Suíça empata à beira do intervalo. Na segunda parte, dois golos de rajada por Salomé e Raquel Azevedo garantem uma tranquilidade aparente. Porque a Suíça reduz aos 27 minutos e é uma tremideira daí para a frente. Seja, Portugal ganha por 3:2.

No dia seguinte, pela manhã, a Holanda é ultrapassada com facilidade. Ao intervalo, 2:0. No fim, 5:1. Mais uma vez, a jovem Ana Patrícia arrebata o pavilhão com os dois golos na primeira parte. Após o intervalo, Salomé Gonçalves faz o 3:0, Sandra Silva amplia para 4:0 e a Holanda reduz por Monique Deschering antes de Sandra Silva fixar o 5:1.

Segue-se a Alemanha, na parte da tarde do dia 26, e toma lá outro cinco. Três golos de rajada aos 7, 8 e 9 minutos embalam a selecção para uma exibição de gala, Ana Carapuça abre e fecha esse ciclo.

A quarta jornada já é diferente, porque a Itália é um nome grande do hóquei. Com muitos anos de campeonato nacional, justifica o seleccionador Jorge Lopes. O pavilhão está à pinha, três mil pessoas a puxar por Portugal. Ao intervalo, 0:0. A abrir a segunda parte, Martino faz o 1:0 para a Itália. Em desvantagem, Portugal carrega com vontade e o golo sonhado é de Salomé à boca da baliza, após jogada de laboratório. O resultado mantém Portugal à frente da classificação, com sete pontos contra seis da Espanha (menos um jogo).

O penúltimo dia reserva a frágil Inglaterra, última classificada, sem qualquer ponto e vergada a um 9:1 vs. Espanha na véspera. Pois bem, Portugal dá também 9 (a dois) num pavilhão mais a abarrotar ainda, com quatro mil ruidosos espectadores. Jorge Lopes só roda a guarda-redes, a ideia é golear porque a Itália cometera a proeza de ganhar 2:0 à campeã em título Espanha e a diferença de golos é crucial para o dia seguinte, o de clássico ibérico. Diz o seleccionador Jorge Lopes: ‘Vimos os vídeos e percebemos que as duas guarda-redes inglesas eram fracas nos remates de meia distância. Então insistimos junto das jogadoras a atirarem sempre que pudessem.’

Meu dito, meu feito. E já há 5:1 ao intervalo. Na segunda parte, o cabaz continua e há dois hat-tricks para festejar, os de Raquel Azevedo e Ana Patrícia. À partida para a jornada decisiva, Portugal 9 pontos, Itália 9 e Espanha 8.

Sábado, 29 Novembro 1997. Um dia para a história do hóquei português. Quando entra em campo, Portugal já sabe da surpreendente derrota da Itália vs. Holanda por 3:1. Ou seja, basta um empate para chegar ao título inesperado. Jorge Lopes no uso da palavra, sempre ele. ‘É curioso pensar que, antes do início do torneio, só queríamos um lugar no pódio e agora estamos a querer o título.’

No Pavilhão das Travessas, o cinco português inclui Carla Alves, Raquel Azevedo, Ana Patrícia, Salomé Gonçalves e Ana Carapuça. A Espanha, campeã europeia e mundial em título, responde com Catalan; Santiago, Duisat, Castillo e Carmona. O nulo mantém-se teimosamente até ao intervalo, embora a Espanha remate 14 vezes à baliza contra tão-só três de Portugal.

Aos seis minutos, Raquel Azevedo acerta na baliza e provoca uma festa incontrolável em São João da Madeira. A vantagem portuguesa é preciosa e ninguém a rouba. A dois minutos do fim, todo o público se levanta e começa a entoar o hino ‘A Portuguesa’. É um espectáculo imprevisto e inacreditável. Corações ao alto. Na alegria da vitória, a heroína Raquel mede bem as palavras. ‘Não lhe consigo dizer o orgulho que tenho em fazer parte desta equipa nem descrever a alegria que sinto neste momento. O futuro sorri-nos. O hóquei em patins, em Portugal e no mundo, tem uma tradição masculina e agora vai passar a tê-la também no feminino.’

Para a história, o plantel inclui nomes como Carla Alves, Raquel Azevedo, Ana Patrícia, Salomé Gonçalves, Ana Carapuça, Ana Gomes, Eduarda Ferreira, Sandra Silva, Sónia Marcelino e Carla Neves

Para a história, o percurso invicto até ao título inédito

Suíça                   3:2

Ana Patrícia / Salomé Gonçalves / Raquel Azevedo

Holanda             5:1

Ana Patrícia-2 / Sandra Silva-2 / Salomé Gonçalves

Alemanha          5:0

Raquel Azevedo-2 / Ana Carapuça-2 / Salomé Gonçalves

Itália                   1:1

Salomé Gonçalves

Inglaterra           9:2

Ana Patrícia-3 / Raquel Azevedo-3 / Ana Carapuça / Eduarda Ferreira / Salomé Gonçalves

Espanha             1:0

Raquel Azevedo