Great Scott #986: Único treinador a ganhar quatro Taças de Espanha seguidas?
Fred Pentland
A história dos treinadores ingleses no continente europeu tem muito que se lhe diga. Portugal, por exemplo, é um viveiro de experiências bem sucedidas desde os anos 50 com Randolph Galloway até aos 90 com Bobby Robson.
Aqui ao lado, em Espanha, o nome de Fred Pentland ainda é obrigatório em qualquer manual de futebol. Porque o homem deixa uma marca indelével como percursor de um estilo muito próprio, o do toque constante de bola de pé para pé. Não façam confusão, estamos em 1923.
Há 100 anos, Pentland ganha uma dimensão impensável: o seu Athletic Bilbao joga nas horas, voa em campo. O primeiro mandamento de Pentland dentro do balneário dos bascos é ensinar os jogadores a apertar os laços nas chuteiras. ‘Se fizermos as coisas certas de forma simples, tudo o resto vem por acréscimo’ é o lema de Freddie, a quem o Athletic paga mil pesetas por mês para o tirar do Racing Santander, apenas um dia depois de ter saído da Alemanha, onde fora treinar a selecção olímpica alemã em 1914 e, por azar, muito azar, passa o tempo todo até 1919 numa prisão por culpa da primeira guerra mundial.
A primeira era de Pentland no Athletic é de sucesso, disso ninguém duvida. Levanta a Taça de Espanha 1923 e, depois, à falta de mais títulos, sai para o Atlético Madrid. Quando regressa a Bilbao em 1929, aí sim, Pentland consegue um feito único e, quem sabe, inimitável: o de ganhar quatro Taças de Espanha seguidas, entre 1930 e 1933.
O percurso inclui um total de 30 vitórias em 37 jogos. Em 1930, o Athletic derruba o Real Madrid em Barcelona, após prolongamento (3:2). Um golo de Lafuente aos 115 minutos garante o primeiro êxito da série do tetra.
Em 1931, na única campanha 100% vitoriosa (sete em sete), o Betis é batido sem apelo nem agravo por 3:1, em Madrid (está 3:0 aos 55 minutos). Em 1932, um golo de Bata é suficiente para anular o leve favoritismo do Barcelona, o qual adopta o estilo de Pentland na conquista do título espanhol em 1929 e, depois, apanha uma valente tareia de 12:2 do próprio Athletic na 1.ª divisão em 1931.
Por fim, o quarto título seguido é conquistado em 1933, novamente vs. Real Madrid, novamente em Barcelona, novamente com um golo decisivo de Lafuente, agora no tempo regulamentar (2:1 aos 75 minutos).
Entre as finais de 1930 até 1933, há cinco totalistas: o guarda-redes Blasco, o defesa Castellanos, o médio Muguerza e os avançados Bata mais Gorostiza. Sempre de chapéu de coco, guarda-chuva e ainda o seu cigarro, Pentland é um homem afável e sociável nas ruas de Bilbau. Dá-se com todos, fala pelos cotovelos. O seu estilo de jogo é menos ofensivo que o habitual, prescinde dos cinco avançados do WM e opta por povoar mais o meio-campo – só assim se consegue dominar o adversário com a bola colada ao pé.
Sai do país com a perspectiva bem real da Guerra Civil em 1934 e só volta a Espanha em 1959 por ocasião de uma homenagem à sua pessoa, em pleno San Mamés, catedral do Athletic, antes de um jogo vs. Chelsea. As pessoas deliram com a sua presença, até porque Pentland continua o mesmo, com o seu chapéu de coco. Aquando da sua morte, em 1962, o Athletic reserva um momento especial de aurresku (dança basca), também no San Mamés, só com a presença dos jogadores e dirigentes dos gloriosos anos 30.