Great Scott #1005: Primeiro a falhar um penálti no desempate para a final da Taça do Rei?
Irureta
A Espanha é engraçada. No seu todo, queremos dizer. É o país da movida e das praças em todos os lugarejos. No futebol, a Espanha também é engraçada. Veja-se a época 1974-75, com cartões brancos (nada de amarelos) e vermelhos.
Ou, então, veja-se o Maiorca vs. Carabanchel para a terceira eliminatória da Taça. Com 3:3 no marcador ao fim dos 210 minutos das duas mãos, o árbitro indica o desempate por grandes penalidades. So far, so good. Na primeira série, 4:4. Que comece a segunda série e, aqui, é morte súbita. So far, so good. Ao 14.º penálti, um jogador do Carabanchel falha e acaba 6:5. So far, so good?
Not quite. O senhor Rabadán, dono do apito e das leis, decide prolongar a série sabe-se lá porquê. Tanto o capitão como o delegado ao jogo, ambos do Maiorca, falam com o árbitro e explicam-lhe A por mais B a lógica das regras. Qual quê. A quase interminável série de penálti só acaba ao 30.º remate, com vitória do Carabanchel. E o árbitro dá mesmo vitória à equipa de Madrid, isenta na primeira eliminatória e apurada vs. Getafe na segunda. Nessa mesma noite, a federação espanhola dá o dito por não dito, óbvio. O árbitro galego é suspenso, o Carabanchel eliminado e o Maiorca segue em frente.
A vida da Taça é curta para o Maiorca, afastado pelo San Andrés, posteriormente eliminado pelo Barcelona, por sua vez arrumado pelo Saragoça, alfinetado pelo Real Madrid na ½ final. A decisão é cem por cento madridista: joga-se no Vicente Calderón, entre Real e Atlético. Estamos a 5 Julho 1975 e nunca uma final da Taça se resolve pelo desempate por penáltis. É hoje.
O teimoso 0:0 vai até aos 120 minutos e há dois cartões brancos para o Atlético, um no tempo regulamento e outro no prolongamento. O único momento de frisson em todo o dérbi é provocado aos 98 minutos por um golo fantasma do atlético Becerra – a bola parece atravessar a linha antes de Miguel Ángel a devolver para o relvado como se nada fosse, perante o olhar impávido e sereno do árbitro basco Pedro María Urrestarazu.
É obrigatório inovar, vamos para penáltis. O primeiro a tentar a sua sorte é um miúdo chamado Javier Irureta – mais tarde, muito mais tarde, já no século XXI, campeão espanhol como treinador do Deportivo, em 2001. O remate do médio do Atlético sai para a baliza, Miguel Ángel sacode a bola. O Real aproveita para se distanciar, por Amancio. Segue-se Gárate 1:1 e Pirri 2:1. Ao quinto penálti, o suplente Salcedo atira para fora.
No quadrdinho seguinte, Del Bosque imita-o. O Atlético ganha ânimo e Alberto empata 2:2. Rubiñán faz 2:3. Becerra, agora sim, grita golo e é 3:3. O último é a cargo de Aguilar, outro suplente. O rapaz avança e marca, o Real levanta a Taça na casa do Atlético e Irureta já está na história da competição antes mesmo de a conquistar – em 2002, por ocasião do 100.º aniversário do Real Madrid, o Depor conquista a Taça do Rei em pleno Santiago Bernabéu por 2:1, com Irureta no banco a dar saltos contidos de alegria antes do banquete da vitória, gentilmente cedido pelo anfitrião na dura hora da derrota.