Great Scott #1006: Quem perde a braçadeira de capitão de Portugal por ir cear com o primo?

Great Scott Mais 04/03/2024
Tovar FC

author:

Great Scott #1006: Quem perde a braçadeira de capitão de Portugal por ir cear com o primo?

Coluna

A Confederação Brasileira de Futebol celebra 50 anos de vida em 1964 e organizar um torneio com quatro selecções de gabarito, duas sul-americanas (a anfitriã mais a Argentina) e duas europeias (Portugal mais Inglaterra).

A delegação portuguesa aterra no Rio de Janeiro com pompa e circunstância, mais parece ambiente de Mundial. O treinador é José Maria Antunes, coadjuvado por Juca, um jovem estudioso do futebol com 35 anos de idade, conhecido por ter levado o Sporting ao título de campeão nacional dois anos antes. O capitão, esse, é Coluna.

No primeiro jogo, a comunidade portuguesa no Rio dá asas à sua alegria no Maracanã. Ao intervalo, 0:0. No fim, 2:0 para a Argentina. E não fosse o acerto do guarda-redes Américo, o resultado até poderia ser mais volumoso, um pouco à imagem do jogo de abertura entre Brasil e Inglaterra (5:1).

O segundo adversário de Portugal é precisamente a Inglaterra. Aproveitaremos a tal goleada para assumir o estatuto de favorito? Nem por isso, embora o golo de Peres à beira do intervalo nos mostre o caminho. O pior é a segunda parte. A Inglaterra empata por Hunt e o árbitro brasileiro Armando Marques anula um golo a Torres, por fora-de-jogo posicional de Coluna.

A confusão instala-se, até porque um dos fiscais-de-linha valida o golo com uma corrida para o meio-campo mal a bola entra na baliza de Banks. Segue-se um sururu do pior e Torres agride o árbitro. Assim mesmo, sem ses nem meio ses. É expulso, naturalmente. O bom gigante, onde já se viu? Como se isso fosse pouco, Peres mais Eusébio lesionam-se e Portugal acaba feito num oito, embora salve o empate 1:1. Como será vs. Brasil, no Maracanã?

Muito bem, vamos lá ver então: para evitar o último lugar, entregue à Inglaterra, a selecção só tem de evitar perder com o Brasil por três ou mais golos de diferença. A missão é arriscada porque a) o Brasil acaba de apanhar 3:0 da Argentina e quer dar o troco o mais rápido possível e b) porque o seleccionador José Maria Antunes vai a jogo sem Peres nem Eusébio, ambos lesionados.

O jogo começa francamente mal, com os golos de Pelé (foge à marcação de Vicente) e Jair (abertura de Airton). Dois-zero aos 21 minutos. Cabe a Coluna o golo de honra. Um belo golo, diga-se: um remate forte sem deixar cair a bola, na sequência de um canto. Assim está bom, vá. Só que Gerson quer mais e faz mais dois em quatro minutos. O primeiro de penálti, a castigar falta de José Carlos sobre Jair, e o segundo num pontapé colocado.

O último lugar é nosso, para mal dos nossos pecados. Um pormenor vs. Brasil não passa despercebido: o capitão já não é Coluna, agora a braçadeira mora com Fernando Mendes, do Sporting. Então porquê?

A explicação é dada pelo próprio Coluna, multado pela federação portuguesa em dois mil escudos por ter abandonado o hotel de estágio. ‘A falta não tem assim tanta gravidade como parece. Como toda a gente sabe, depois do jogo à noite com a Inglaterra, só tínhamos mais uma noite em São Paulo e resolvi sair para cear com um primo residente na cidade. Como dificilmente o veria nos próximos tempos, fui procurar os senhores José Maria Antunes e Juca para os avisar da minha saída. Não os encontrei e transmiti o recado ao meu camarada Costa Pereira. Quando cheguei ao hotel, percebi que o Costa Pereira não teve tempo nem oportunidade para se explicar a quem de direito. E, assim, julgo até natural que me tivessem destituído do posto de capitão.’

A coisa não é assim básica, porque a federação deixa de contar com Coluna para capitão por dois anos e é Germano quem leva a braçadeira durante a campanha de qualificação para o Mundial-66.

Coluna só é capitão na ausência de Germano, acontece em Junho 1966, antes da partida para Inglaterra, vs. Escócia, e, um mês depois, já em pleno Mundial, vs. Bulgária, no arranque do grupo C. No segundo jogo, com Germano em campo, Coluna é só mais um.

Acontece que Germano não se sente nas melhores condições e é Alexandre Baptista quem assume o lugar de companheiro de Vicente no centro da defesa. Como tal, Coluna faz-se capitão até 1968. Se não fosse a ceia, se não fosse o primo, se não fosse em São Paulo, ai ai.

Leave a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *