Great Scott #1026: Único a marcar quatro golos num Boca vs. River? (ainda por cima, em dia de estreia)
Cambón
O Verão argentino em 1974 é penoso para o Boca Juniors. A seca de golos durante a pré-época é uma realidade e a imprensa argentina faz soar o alarme. Menos de um mês depois, no dia 3 Fevereiro, um domingo, o Boca recebe o River com o coração nas mãos.
À falta de golo, a estreia do novo 9 chamado Carlos García Cambón, contratado para o lugar de Hugo Curioni, transferido para o requintado futebol francês (Nantes), graças aos 68 golos em 168 minutos e ainda hoje o recordista de (seis) jogos seguidos a marcar ao River. A exigente massa associativa do Boca aplaude friamente os cinco da frente: Mané Ponce com o número 7, Chino Benítez 8, García Cambón 9, Osvaldo Potente 10 e Enzo Ferrero 11.
Um minuto de jogo, não mais. O valioso Alberto Tarantini despacha uma bola para a frente, os defesas do River complicam o alívio e Cambón cabeceia para o golo, à saída do atarantado Fillol. Está feito o primeiro da tarde, que maravilha. Jorge Ghiso empata para o River e devolve a incerteza ao clássico. Em vão, é o dia de Cambón e o 2:1 também de cabeça é só mais um passo rumo à imortalidade.
Na segunda parte, Cambón só volta a ecoar pelas rádios de toda a Argentina aos 66 minutos. Antes, Ferrero aumenta para 3:1 de penálti e Wolff reduz para 3:2, também da marca dos 11 metros. Chega o tal minuto do hat-trick, passe de Potente e cabeceamento de Cambón. O póquer, inédito até então na história do clássico dos clássicos, é o único golo do 9 com o pé. Mais uma vez, Potente na jogada.
O número 10 assiste de calcanhar e Cambón vê-se na cara de Fillol. O guarda-redes sai da baliza e é driblado com categoria. Sem ninguém à baliza, Cambón atira com o pé esquerdo. A Bombonera vai abaixo, naturalmente. Acaba 5:2, ninguém agarra o Boca. O presidente Alberto J. Armando está feliz da vida, no balneário, e fala sem parar do número 4 como alusão aos anos dos títulos de campeão do Boca em 1934, 1944, 1954 e 1964.
Só que não, o Boca não é campeão em 1974. O 4, desta vez, é só para Cambón. O único a marcar quatro golos no clássico, ainda por cima em dia de estreia pelo Boca. A sua carreira no Boca é curta, sai em 1977 com 33 golos em 104 jogos, e retira-se do futebol em 1978, no Chacarita Juniors.
Em 1998, Cambón é nomeado pelo Boca Juniors para fechar uma época maldita e acumula cinco vitórias em outros jogos. Sucede-o Carlos Bianchi e o Boca estende a série invicta para 40, à frente dos 39 do Racing.