Uma velhinha ou o Spike Lee?
A ideia é acordar de madrugada em Boston, apanhar o autocarro para Nova Iorque e fazer um carpe diem à maneira, entre cultura, culinária e, claro, desporto. O último acto antes de voltar a Boston é passar três/quatro horas num estádio de basebol a ver os Yankees. Como chove cats and dogs, o jogo é adiado sine die – basta de estrangeirismos, a partir de agora só português. Saímos do estádio e apanhamos o metro até ao Madison Square Garden, onde jogam Bulls@Knicks. Arranjam-se bilhetes à pressa, nas últimas cadeira lá em ciiiiiiima de tudo no pavilhão. O cansaço apodera-se e dou por mim a dar cabeçadas no ar. Bêbado de sono é o que é. Às tantas, há um burburinho lá em baixo e vejo alguém não-identificado a entrar no court com toda a propriedade, como se pertencesse ao jogo. Viro-me para o lado e pergunto ao Rui Silva ‘quem é aquela velhinha?’. A resposta é assombrosa. Whaaaaat, Spike Lee? No way. Só que é. Mesmo. Spike Lee salta da sua cadeira e protesta com o árbitro. Do meu ponto de vista (ensonado, bem sei), Spike Lee é uma velhinha. O homem adora os Knicks. Tanto assim é que prefere ir ao Madison Square Garden na noite dos Óscares 2016 do que à cerimónia no Kodak Theatre. Passa-se um ano, já estamos em 2012, agora em Veneza, no festival de cinema. Saio do hotel e começa a chover. Compro um umbrello roxo e a chuva desaparece como que por magia. E allora? Avanti, vá. Às 1130 é o visionamento de “Bad”. É Spike Lee a celebrar os 25 anos do álbum de Michael Jackson. Cada frame do doc é uma emoção, cada minuto é uma avalancha de informações. Recorrem-se a imagens de 1987 e entrevistam-se pessoas. Ou melhor, génios. Como Quincy Jones. E ainda Martin Scorsese. Acaba o filme e sai-se da sala em direcção à pizzaria de sempre. Pelo meio, o Hotel Excelsior onde se concentram as figuras do festival. Cruzamo-nos com S-p-i-k-e L-e-e. Himself, a sair do hotel. Está um sol danado. Ele olha para mim, depois para o meu guarda-chuva, enruga a testa e that’s it.