Anti-doping na baliza do Futre

Shaken, Not Stirred 03/09/2020
Tovar FC

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Anti-doping na baliza do Futre

Há domingos banais, especiais e inesquecíveis. Não quer isso dizer que um domingo banal seja monotemático. Nada disso. Um domingo banal implica acordar em casa, jogar subbuteo entre os 70×7 e o TV Rural, acordar os outros lá de casa, almoçar grão, feijão, atum e ovo cozido em casa, ver a série das 19h da RTP1 em casa (MacGyver ou Justiceiro, agora escolha) na companhia de uns cogumelos feitos pela mãe, jantar em casa a ouvir a enésima troca de galhardetes entre Irão e Iraque no Telejornal de meia hora e adormecer ao som de Blue Monday dos New Order nos golos da jornada do Domingo Desportivo. Hummmm, e um domingo especial? Ahhh, esse é assim: acorda-se em casa, subbuteo e tal, acordam-se os outros lá de casa e passa-se o dia fora de casa num estádio perto de si. Os meus três primeiros jogos de sempre acabam com 8 golos: sete-um do Sporting ao Rio Ave em 1982, oito-zero do Benfica ao Vitória SC em 1984 e quatro-quatro entre Sporting e Académica em 1985 (curiosamente, só volto a ver oito golos ao vivo num Sporting-Campomaiorense e num Real Madrid-Sevilha, estreia de Pepe no Bernabéu). Huuuuum, e um domingo inesquecível? Uyyyy, esse só pode ser o de 13 Abril 1986. Em Lisboa, há dérbi. Em Setúbal, há o FCP. Penúltima jornada, Benfica é líder. O Sporting já não conta para o totobola e, para cúmulo, não ganha na Luz desde 1965. Missão impossível. Ou talvez não. Morato e Manuel Fernandes marcam, 2-0. Manniche reduz, 2-1. E em Setúbal? É canto do lado esquerdo e Mlynarczyk sai-se bem. Dos seus braços, sai um lançamento para o meio-campo onde está Futre a correr como se fosse um extremo (e é mesmo) até chegar ao golo solitário. Festa grande, enorme. O FCP tem o título na mão. Com o estádio já vazio, desce-se ao relvado para entrevistar Artur Jorge. Enquanto ele fala com o meu pai, eu corro como se fosse um extremo até chegar à baliza do golo solitário. Festa grande, enorme. Segue-se o meu primeiro controlo antidoping. Ali mesmo. Que as redes me perdoem.

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