Ga-ga-ga-go sssem pa-pa-pa-parar
Ponto prévio: Carlos Paião é génio. Como cantor e compositor. É dele esta música aqui ò
“Eu sou ga-gago mas go-gosto
à be-berava de ca-cantar rock & roll
o o meu pai ta-também ca-ca-cantava quando apa-panhava sol
uma vez ele foi à pe-pe-raia
apa-apanhou Sol to-to-todo o dia
ca-cantou tanto que depois quis fa-falar e na-não não podia
Aqui-aquilo deixou-me pero-perofundamente aba-batido
e conste-te conste-te-rei conste-te que-quer dizer
constrangido (Uff!)
e eu e eu que até essa altura
a ca-cantar nunca enga-gagueci
pa-passei a ga-gaguejar a ca-cantar de-de ai foi desde aí:
Eu sou sou ga-gago”
Ya, sou gago. Eu, agora já sou eu, o Rui Miguel. Gago à séria. Daqueles de inclinar a cabeça para trás na tentativa de apanhar uma palavra perdida algures na EN1 entre a cabeça e a boca. Claro, terapeuta da fala com ele. Lembro-me de uma professora em Telheiras. É à segunda-feira. Super, é o dia de folga do meu pai. Ele apanha-me no externato “O Poeta”, mesmo ao lado da RTP, na Alameda das Linhas de Torres, e passamos um fim de tarde a dois. A seguir à lição, é o lanche. Se me conheço bem, é folhado de salsicha mais TriNa de maçã. Seja como for, melhoro su-su-su-substancialmente. Muito. Há é duas palavras enervantes. Deslarguem-me pá. Digo-as bastantes vezes, g’anda galo. Como só tenho passe da Barraqueiro, quando apanho o autocarro da Isidoro Duarte, mais cómodo, pago bilhete ao condutor. S-s-s-s-s-s-s. No way, não consigo dizer. Melhor, até digo a palavra bem na minha cabeça. Verbalizá-la é o cabo das tormentas. S-s-s-s-s-s-s-s. Nada. Digo então Campo Pequeno e, que se lixe, vou a pé para o Saldanha. A outra também é dita espaçadamente, estilo dia sim, dia não. Querem o quê, abrem o McDonald’s à frente do Colégio Académico. Às vezes, nem quero hamburguer. Só b-b-b-b-b. Os treinos de terapia da fala na fila do Mac resultam às mil maravilhas. Ninguém me agarra. Quando me chego à frente da caixa, o b de batata é substituído pelo menu BigMac. Eu sou mesmo gagago