Totobola – 24 de Setembro de 1961
“Pão, Amor e Totobola” é um filme português de 1964, com Florbela Queirós a dançar o twist. “Pão, Amor e Totobola” é também uma música dos Ena Pá 2000, de 1987. O Totobola está nos olhos e nos ouvidos de toda a gente mas quando é que sai pela primeira vez? No dia 24 de Setembro de 1961, por altura do arranque do campeonato nacional de futebol, a Santa Casa lança o jogo para as bancas com o objectivo de conseguir verbas para financiar os serviços de reabilitação de deficientes físicos e, simultaneamente, gerar receitas para as modalidades desportivas. Um pouco por todo o país, a febre do jogo alastra. Ao todo, 650 mil apostas, mais de metade das quais (352 403) no distrito de Lisboa. Nesse primeiro fim-de-semana, a Santa Casa não só organiza duas equipas de 250 pessoas para fazer a verificação manual de todos os boletins – microfilmados antes dos jogos para evitar fraudes, falcatruas e afins–, como ainda contrata uns quantos motoristas para recolherem os boletins em todas as estações e apeadeiros. Nas zonas mais remotas, o prazo limite é quarta-feira. O prémio é de 223 contos. Eis a chave certa.
1 OLHANENSE-COVILHÃ, 1
No Estádio Padinha, o domínio da Olhanense é mais que evidente. Daí que o guarda-redes serrano chamado Rita seja eleito o melhor em campo, como autor de defesas prodigiosas e saída arrojadas dos postes, como aquela no primeiro minuto aos pés de Campos. O golo solitário só chega no último instante, por Armando
2 SALGUEIROS-ACADÉMICA, 2
Aos oito minutos, já um fiscal-de-linha é agredido com uma pedra atirada desde o peão. Tudo porque valida o 1-2 de Gaio. Antes, logo no primeiro lance, o outro fiscal anula um golo salgueirista de Lela. Nesse parêntesis temporal, 0-1 de Rocha e 1-1 de Dário. A tal agressão interrompe o jogo uns cinco minutos, depois tudo se retoma com a maior naturalidade. E sem mais golos
3 LEIXÕES-BENFICA, 2
Antes do jogo, a instalação sonora do Campo de Santana pede aplausos da assistência para a entrada em campo do Benfica campeão europeu. Às palmas, segue-se o festival Eusébio, autor de um bis aos 17 e 82 minutos. Pelo meio (64′), o brasileiro Osvaldo Silva engana Costa Pereira de penálti, a castigar mão de Humberto
4 SPORTING-LUSITANO, X
Para justificar o escandaloso nulo, o treinador sportinguista Otto Glória sai-se com a famosa frase “não posso fazer omeletas sem ovos” numa alusão à ausência dos avançados Geo e Diego. É substituído por Juca, que seria campeão nacional nessa época 1961/62 – o mais jovem de sempre até hoje, com 33 anos.
5 BEIRA-MAR-FC PORTO, X
Com o estádio cheio, os aveirenses, campeões da zona norte da 2.ª divisão na época anterior, entram a ganhar com um golo de Diego, através de uma jogada pessoal. Antes, o árbitro António Ferreira Santos anula um golo de canto directo de Serafim ao FC Porto. Depois, já na segunda parte, chega o definitivo 1-1 por Ivan
6 VITÓRIA SC-ATLÉTICO, 2
Com três reforços do Benfica (Moreira, Peres e Palmeiro), o Atlético surpreende Guimarães com um inequívoco 3-1. Seria o ex-salgueirista Carlos Alberto a fazer o primeiro da tarde. O Vitória empata por Pedras, aos 32’. Nos últimos 15 minutos de jogo, Moreira e Carlos Gomes fixam o resultado para espanto geral
7 BELENENSES-CUF, 1
Uma generosa moldura humana no Restelo assiste à goleada da jornada. Ao intervalo, só 1-0. Golo de Matateu, que entorta Durand antes de abrir o caminho para a vitória. Os cufistas ainda empatam aos 48’ por Álvaro, após tabelinha com Uria. Segue-se a resposta belenense, cortesia Salvador, Iaúca, Carvalho e Carvalho
8 OLIVEIRENSE-BRAGA, 2
Na 2.ª divisão, zona norte, há equipas do centro do país como Peniche, Caldas e Torreense. É o fungagá da bicharada. Em Oliveira de Azemeis, no campo Carlos Osório, o favoritismo do Braga é alicerçado com golos de Barbosa (17’) e André (68’), este último na própria baliza. O Oliveirense só marca um X momentâneo por Valente
9 CALDAS-TORREENSE, 1
O famoso Campo da Mata, onde o extremo-esquerdo Simões se estreará pelo Benfica na época seguinte, é o palco do dérbi do Oeste para a jornada inaugural da 2.ª divisão, zona norte. O nulo mantém-se até ao intervalo e só é quebrado com um golo de Cardoso aos 81 minutos para desespero do guarda-redes Pinheiro
10 BENFICA CASTELO BRANCO-SP. ESPINHO, 1
É eleito o jogo mais insosso da jornada. Há muita vontade, sim senhor, falta é técnica e velocidade. Durante 90 minutos, as duas equipas trocam mal a bola e proporcionam um não-espectáculo. E se o Espinho nem se aproxima da baliza contrária, já o Benfica Castelo Branco faz dois golos, um em cada parte, por Lagarto e Graça
11 BARREIRENSE-SEIXAL, 1
Hermenegildo provoca a transferência mais sensacional do Verão, ao trocar o Barreirense pelo Seixal. Por capricho do calendário, a sua estreia é no D. Manuel de Melo. Os barreirenses iniciam o caminho de regresso à 1.ª divisão (3-1), por conta de um hat-trick de Lito na segunda parte em resposta ao autogolo de Lança, aos 46’
12 BEJA-FARENSE, 2
A anos-luz da chegada do espanhol Paco Fortes ao futebol algarvio, o Farense já convive com um Paco, figura indiscutível do claríssimo 4-1 no Estádio José Frederico Ulrich, em Beja. O interior-esquerdo marca dois e assiste para os outros dois. A superioridade farense é tal que até o golo do Desportivo local é na própria baliza (assina Bento)
13 PORTIMONENSE-CAMPOMAIORENSE, 1
Os alentejanos pagam cara a inexperiência na 2.ª divisão e já perdem 2-0 ao intervalo, golos de Medina e Nené. Seriam de Pacheco e Neves os outros motivos de festa em Portimão. Só a título de curiosidade, a zona sul ainda contempla equipas do nosso contentamento como Vitória FC, Oriental e Montijo