Great Scott #29: Único actor português a contracenar com Pelé?

Great Scott 05/15/2020
Tovar FC

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Great Scott #29: Único actor português a contracenar com Pelé?

Rogério Samora

É isso aí, o craque do Brasil tabela de olhos quase fechados com um português no filme brasileiro de Victor Di Mello, “A Solidão, uma Linda História de Amor” de 1989. Filmado numa ilha perto do Rio de Janeiro, conta a história de um amor de um homem por uma mulher que não lhe é fiel. “É a vida do senhor Avelino Dias, um português radicado no Brasil há anos e anos, dono de uma série de motéis e homem com ligações ao jogo do bicho. Quis a sua vida num filme, porque a mulher por quem ele se apaixona o trai. Eu faço o papel dele e Pelé é o seu confidente, amigo de longa data e parceiro nos negócios daí para a frente.”

Mas como? Rogério Samora rebobina a cassete sem problema. “Acabara de filmar o ‘Matar Saudades’ do Fernando Lopes e estava muito bem em casa na Linha quando a Leonor, minha ex-mulher, atende o telefone. Isto à uma e pouco da manhã. É do Brasil”, diz-me ela. “Do Brasil? Mas quem poderá ser?” Quem é, afinal? “Victor Di Mello, o realizador. Durante duas horas, falámos e falámos sobre o ‘Solidão’. Ele tinha visto o ‘Matar Saudades’ e gostara de mim, com a bênção do senhor Avelino. Convida-me então para o ‘Solidão’. As negociações são por telefone e nunca assinei um papel que fosse. Fui buscar as passagens do avião a uma residencial no 3.º andar da Rua dos Fanqueiros e lá parti para três meses de trabalho.”

O destino é Brasil, Rio de Janeiro. “A minha primeira cena é a do assalto no meio da rua, com o Stênio Garcia. Tudo flui na mais amena cavaqueira, com a maior das tranquilidades. Nunca senti a pressão de nada.” Nem sequer de Pelé? “Nem isso, o Pelé é das pessoas mais humildes que conheci, um exemplo para a sociedade. Agora ele não estava era habituado a viver o cinema, lógico. O mundo dele era o futebol. Daí que fosse mais trabalhoso filmar com ele. Até porque ficava nervoso quando se dizia acção. Ou porque alguém acenava na sua direcção ou porque um grupo de miúdos passava e pedia-lhe autógrafos ou porque uma nuvem tapava o sol ou porque um avião passava por cima de nós e fazia barulho. Em todos esses momentos, ele distraía-se e lá se ia a cena. Era divertido porque o Pelé é o Pelé, uma figura sem igual. A cena com mais takes foi uma com 36. Foi filmada no meio da rua e as pessoas paravam para o cumprimentar.”

Ao longo da trama, Pelé e Rogério fazem cenas atrás de cenas. Todas ao lado de um elenco de luxo, senão veja bem este plantel: José Wilker, Roberto Bonfim, Stênio Garcia, Tarcísio Meira, Maitê Proença, Simone Carvalho, Magda Cotrofe, Luma de Oliveira, Vera Gimenez, Paulo Goulart, Nuno Leal Maia, Humberto Catalano e Marcella Prado. Uff, é gente boa dimais. 

Curiosidade extra: “a cena de abertura é a última a ser filmada porque a Maitê estava envolvida num outro projecto e só pôde entrar nesse depois, muito depois. Ou seja, rodei o filme em três meses, voltei para Portugal e dois meses depois regressei ao Rio para filmar só aquela cena.” A de abertura, de pouco mais de dois minutos de duração em que Maitê e Rogério correm da casa da praia, onde decorre um casamento, até à beira-mar como dois apaixonados antes de serem interrompidos por um terceiro elemento, de sexo masculino. “Essa cena é como é: um casamento numa espectacular casa de praia com um banquete do além, entre lagostas, sapateiras, camarões, gambas. Tudo à grande e à portuguesa.” 

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