Great Scott #65: Qual o menor tempo entre dois golos numa final europeia?
13,8 segundos
Diz quem vê que é a melhor final de sempre da Taça dos Campeões. Caaalma, a final de 1960 está longe de ser tão emotiva como a de 1999, entre Bayern e United, resolvida com dois golos nos descontos, ou tão mediática como a de 2008, entre United e Chelsea, iniciado num dia e só terminada no seguinte, com recurso aos penáltis, em Moscovo. Diz quem vê, Real Madrid vs Eintracht Frankfurt é o maior hino ao futebol de ataque, descomprometido até mais não.
Diz quem vê. E o número de espectadores é de respeito, qualquer coisa como 127 621 no Hampden Park, em Glasgow. Diz quem vê e é a primeira final europeia transmitida pelos países da UER (União Europeia de Radiodifusão). Diz quem vê ao vivo e a cores. Como Alex Ferguson. “Um jogo mágico, revolucionário, que os meus olhos “nunca sonharam ver”. Ou como Don Revie, então jogador-treinador do Leeds United. “No dia seguinte, sugeri à direcção do Leeds que jogássemos sempre de branco, como o Real.”
Adiante. Deixemo-nos disso do diz quem vê e passemos à acção, à história propriamente dita, àqueles 90 minutos de adrenalina, com um resultado anormal de 7:3, num fim de tarde mágico, de sol forte, o que implica hora e meia de futebol sem luz artificial, num relvado impecável, seco e sem uma poça de água. O Real Madrid apresenta-se em Glasgow como tetracampeão europeu (e vice-campeão espanhol, atrás do Barcelona, pela diferença de dois golos). Já o Eintracht, que muito se assemelha ao Benfica pelas cores das camisolas (vermelhas) e respectivo símbolo (águia), também aterra na Escócia com um cartel impressionante: o seu futebol, de tão espectacular e futurista, merecera o epíteto Fussball-2000. Aliás, a meia-final é um tratado de bola, vs Rangers (6:1 na RFA, 6:3 em Ibrox).
Em Hampden Park, outro festival de bola. O Eintracht, campeão alemão (pela primeira e única vez), domina os primeiros 20 minutos. Stein atira à barra de Domínguez e Kreiss abre o marcador pouco depois. O Real reage como se nada tivesse acontecido e os golos sucedem-se. Di Stéfano marca dois, Puskas exagera e faz quatro em menos de meia hora. O resultado já quase está feito, só que as pessoas não arredam pé do estádio. Naturalmente. Stein reduz, 6:2. Di Stéfano aumenta e, 13-quase-14 segundos depois, o Eintracht fixa o 7:3 por Stein.
Bobby Charlton é perfeito na análise: “O meu primeiro pensamento foi pensar que tinha sido mentira, um filme fantástico, porque aqueles 22 jogadores fizeram coisas que não são possíveis, não são reais nem humanas.” Diz ele, que não vê em directo. Como os portugueses, que só vêem numa tarde de Setembro, quando a RTP, então com três anos de vida, transmite o jogo na íntegra – o primeiro de sempre da Taça dos Campeões. Diz quem vê.