Great Scott #67: Em que dia é o famoso debate Álvaro Cunhal-Mário Soares na RTP?
6 Novembro 1975
É uma quinta-feira. A RTP1 transmite ao vivo e a preto-e-branco o “Responder ao País”, um dos mais debates mais icónicos de todos os tempos, ainda hoje recordado. Na véspera do evento, só se sabe que o programa começa às 22 horas e prolonga-se por tempo indeterminado. Desconhecem-se os entrevistadores. Para o “Diário de Lisboa”, “parece de presumir que figurem nomes como José Carlos Megre e César Oliveira.” Sim ao primeiro, não ao segundo. O apresentador, esse, é…
Joaquim Letria abre o debate. “Até agora o PS e o PCP têm revelado uma total incapacidade prática para encontrarem, um entendimento político minimamente operacional entre si. Por outro lado, no processo político português, tem-se mostrado ser praticamente impossível governar sem o PS, caso das crises do IV e V Governos, e ser pelo menos também muito difícil governar com a hostilidade directa ou indirecta do PCP, como é o caso actual. A pergunta que eu punha, e talvez começasse com o dr. Mário Soares, depois espero que o dr. Álvaro Cunhal também responda, é exactamente como alargar o bloco social de apoio à Revolução, condição da sua sobrevivência e como criar um projecto político coerente sem o entendimento dos Partidos Socialista e Comunista portugueses?
Começa Mário Soares. “Como sabe, o PS tem defendido sempre a posição de que é vital alargar, como disse, o bloco social de apoio à Revolução. Sem esse alargamento, a revolução corre o risco de se perder (…) Eu digo claramente ao dr. Álvaro Cunha, aqui à minha frente, que a continuar neste sistema, a presença do PC não pode ser aceite no Governo.” Responde Álvaro Cunhal. “Uma revolução faz-se por alguém e naturalmente contra alguém. E, no caso concreto, a Revolução Portuguesa faz-se fundamentalmente em benefício das classes trabalhadoras, doutras classes laboriosas da população, pela pequena burguesia, até extractos da média burguesia, os camponeses, os industriais e comerciantes pequenos e médios, pelas calasses trabalhadoras no fundamental. Querer um bloco social que vá até ao Champalimaud, aos Melos, e mesmo sem chegar lá, é um absurdo.”
Eis os golos mais célebres dessa noite televisiva de três horas-e-tal, a escassos dias do 25 Novembro
(…) – O PS não fará uma revolução nem fará um socialismo que transforme este país numa ditadura e o PC deu provas, durante estes meses, de que quer transformar este país numa ditadura. – Olhe que não, olhe que não.
(…) – Pelo que o sr. dr. fala e diz, a classe operária é, para si, a classe operária do PC. – Não é, olhe que não é.
(…) – O país sabe que eu não minto. Nunca. Foram exercidas pressões inqualificáveis sobre pessoas. Algumas delas foram maltratadas e até espancadas dentro do Ministério do Trabalho. – Não diga isso, não diga isso.
(…) – Com que direito é que o senhor doutor quer aqui criar um Governo? Não estou nada preocupado com isso. – Olhe que está, olhe que está.
(…) – O doutor Marcelo Caetano usou esse mecanismo. Quem não é por nós é contra nós. Todos os que eram contra ele eram comunistas, eu próprio fui sempre considerado um perigoso comunista. – Nunca foi, nunca foi