Carlos Xistra, o árbitro com mais jogos de sempre na 1.ª divisão (e nenhum na Liga dos Campeões)

Juvenil do Estação e júnior do Covilhã, a carreira de Carlos Xistra como jogador acaba em 1992. Segue-se a arbitragem, como representante da AF Castelo Branco, e chega à 1.ª divisão no ano 2000. Estreia-se num Paços 3:2 Beira-Mar na Mata Real. Naquele tempo, o campeonato ainda convive com nomes do alto como Marinho Peres, Jupp Heynckes, Manuel Balela, Álvaro Magalhães, Manuel José, Neca, Cajuda, Nelo Vingada e Paulo Autuori. Dos 18 treinadores de então, só dois no activo: Fernando Santos e Jesualdo Ferreira. E as equipas? Uma já desaparecida (Campomaiorense) e três reinventadas (Estrela, U. Leiria e Alverca).

Vinte anos é muito tempo. Carlos Xistra vê de tudo. Só para início de conversa, Boavista e Sporting campeões em anos seguidos (2001, 2002). Depois, o ciclo Mourinho no Porto, a época de Trapattoni na Luz, o tri de Jesualdo, a chegada de Jesus ao Benfica, os títulos sem derrotas de Villas-Boas e Vítor Pereira, o bis de Rui Vitória e o bi de Conceição. Fim da linha. Hoje à noite, FC Porto, já campeão, vs Moreirense no Dragão. Pelo meio, qualquer coisa como 276 jogos na 1.ª divisão. O recorde nacional é seu, bem à frente do rival mais directo (Bruno Paixão 253). E golos? Sete zero nove, 709.

Feito internacional A em 2008, raramente se aventura por lá fora. Zero jogos na Liga dos Campeões. Zero. Pré-eliminatórias, fase de grupos ou fase a eliminar. Zero. É pouco. Ou melhor, é nada. Outro zero: Benfica-Porto ou Porto-Benfica na 1.ª divisão. Outro: zero jogos nas qualificações para o Mundial. Outro: zero jogos nas qualificações para o Europeu. Outro: zero jogos na Liga Europa a partir da fase de grupos. Uma final da Taça de Portugal, em 2014 (Gaitán decide Benfica-Rio Ave), uma final da Taça da Liga, em 2015 (Benfica 2:1 Marítimo), e duas Supertaças, em 2004 (Quaresma dribla Argel e 1-0 do Porto ao Benfica) mais 2008 (bis do sportinguista Yannick ao Porto).

No seu currículo, a palavra Aveiro tem muito que se lhe diga. A estreia mete Beira-Mar. O primeiro golo também, da autoria do lateral Jorge Neves. Veja lá o hat-trick, por ordem cronológica. Fevereiro 2002 (Porto 2:3 Beira-Mar), Novembro 2003 (Benfica 1:2 Beira-Mar), Agosto 2015 (Tondela 1:2 Sporting). Tondela vs Sporting, como assim? Começamos pelo fim, é isso? Muito bem, é na boa. Jogo de abertura da 1.ª divisão 2015-16 e o Tondela de Vítor Paneira joga em campo neutro, no Municipal de Aveiro, pela receita televisiva e tal. João Mário faz o 0:1, Luiz Alberto empata já na segunda parte e há penálti para lá dos 90 minutos.

O lance é irregular pelo lançamento lateral de João Pereira. O homem atira a bola para lá da linha. Adiante. Gelson domina e é derrubado claramente. Penálti, sim. Sururu enorme, gigante, xxl. Adrien só arranca para a bola aos 90’+8. E engana Matt Jones, bola para um lado, guarda-redes para o outro. É o penálti mais tardio da carreira de Xistra na 1.ª divisão – o segundo mais tardio é apitado em 2018, no Jamor, durante um Belenenses-Porto, aos 90’+5 e meio, cortesia Alex Telles.

Aveiro, parte 2. Novembro 2003. É o primeiro jogo da 1.ª divisão do Benfica na nova Luz. Pelo quarto jogo seguido, golo de Simão – este a passe do capitão Hélder. O Beira-Mar enche-se de brio e dá a volta ao marcador com duas jogadas pensadas por Juninho Petronilha, executadas por Sandro (52’) e Wijhnard (63’).

Um ano antes, a maior bronca de todas. Xistra expulsa dois jogadores do Porto nas Antas. Primeiro é Jorge Andrade (25’, vermelho directo), depois Deco (74’, duplo amarelo). Contra nove, o Beira-Mar escreve história através dos golos de Cristiano, Fary e Fary (McCarthy faz 1:1, Paredes 2:2). No fim desse dia, o Porto anuncia a contratação de Derlei ao União de Leiria e Mourinho acusa Xistra de não ter sido “idóneo, de princípios e de moral na condução do jogo” – atenção ao detalhe, Mourinho só volta a perder em casa para o campeonato (seja português, inglês, italiano ou… ups) em 2011, no Real Madrid 0:1 Sporting Gijón.

Só mais um, só mais um. Cá vai, Aveiro, sempre Aveiro. O golo mais rápido de Xistra é em Aveiro e do Beira-Mar, por obra e graça de Nildo aos 28 segundos, vs Marítimo, em 2013.

Perguntas úteis com Xistra no apito

Única equipa sem derrotas em casa?

Boavista (3-2-0)

Única equipa sem vitórias em casa?

Portimonense (0-1-3)

Jogo com mais golos?

Sete (Marítimo 5:2 Olhanense em 2009)

Jogo com mais amarelos?

12 (Benfica-Estrela 2006)

Jogo com mais vermelhos?

Três (Benfica-Estrela 2006) (Pedro Simões + Miccoli + Rui Duarte)

Jogo com mais penáltis?

Três (Académica-Benfica 2012) (Cissé + Cardozo + Wilson Eduardo)

Jogo com mais penáltis falhados?

Dois (FC Porto-Braga 2020) (Alex Telles + Soares)

Golos sofridos pelo Sporting em casa vs Porto?

Zero (2:0 + 0:0)

Golos sofridos pelo Sporting em casa vs Benfica?

Zero (0:0)

Balanço de golos no dérbi da Luz?

2:3 (Cardozo Cardozo 2:0 / Teo Slimani Bryan Ruiz 0:3)

Top 5 dos árbitros com mais jogos de sempre na 1.ª divisão

276 Carlos Xistra

253 Bruno Paixão

243 Lucílio Baptista

235 Jorge Sousa

231 Paulo Baptista

(outras figuras)

221 Paulo Paraty

217 José Pratas

215 Olegário Benquerença

206 Jorge Coroado

204 Rosa Santos

196 Veiga Trigo

179 Pedro Proença

171 Carlos Valente

170 Joaquim Campos

169 Alder Dante

164 Vítor Pereira

160 Vítor Correia

159 António Garrido