Pirlo, um trequartista mágico
Campeão mundial pela Itália em 2006, génio inqualificável, artista inigualável. Também amua. Em 2012, ao serviço da Juventus, é substituído com o Inter aos 87 minutos, em Milão. Quando sai, é em direcção ao balneário. Amuo? Uma semana depois, com o Verona, em Turim, o treinador Antonio Conte tira-o aos 66 minutos. Entra Marchisio. Na linha lateral, Pirlo passa por Conte sem sequer o olhar nos olhos e vai direito ao balneário. Amuo?
A imprensa italiana vai atrás da história, na flash interview e na conferência
de imprensa. Conte desarma-os. “Pirlo quase nem tocou na bola, porque Jorginho [Verona] o perseguia para todo o lado. Até temi que ele o acompanhasse até ao balneário na substituição. Foi uma marcação à antiga, como os meus primeiros tempos de jogador. Uma vez, ainda pelo Lecce, lembro-me de ter vindo aqui a Turim para marcar o Roberto Baggio [Fevereiro de 1991]. Não toquei na bola, ele também não, acabou 0-0 e levei nota 7 dos jornais italianos.” Com Conte é assim, rir até mais não.
Vinte e quatro horas depois, Conte já está menos divertido, mais sisudo e totalmente disciplinador. “Há regras não escritas que todos a respeitam, ou deviam respeitar, mas a partir de agora estabelecemos uma regra explícita: quando um jogador sai do campo deve ver o resto do jogo com os companheiros, a não ser que necessite de tratamento médico. Para os desrespeitadores, haverá uma forte multa e um mês fora da equipa. É fácil? Parece-me que sim, muito fácil.”
Baaaaaaah, Pirlo tem a palavra.
“Toda a gente me passou a viver a dizer que o meu estilo de jogo era parecido com o de Gianni Rivera. Para ser sincero, não sei. Nunca o vi jogar. Nem ao vivo nem em cassetes de vídeo. Niunca olhei para outro jogador. Suponho que tinha tempo de sobra para fazer isso, mas não estava interessado. Seja como for, a Dolly não era certamente a mesma que a ovelha clonada”
“Também nunca senti pressão por aí além. Digo isto proque tenho um exemplo perfeito: no dia da final do Mundial-2006, um domingo, 9 Julho, passei a tarde a dormir e a jogar PlayStation; à noite, saí do hotel e levantei a taça do mundo”
“Do ponto de vista mental, o Mircea Lucescu foi o treinador que me empurrou para os seniores. Eu tinha ainda 15 anos e ele já me incluía nos treinos, com malta bem mais velha que eu. Alguns deles tinham mais que o dobro da minha idade. E eram também duplamente maus. ‘Andrea, continua a jogar como se estivesses na formação’, dizia-me Mircea. Num treino, fintei três vezes o mesmo jogador numa só jogada. Ao quarto driblem, levei a pior porrada da vida, mesmo em cheio no tornozelo. Lucescu disse alto e bom som: ‘Não te preocupes, continua a fazer o teu trabalho. E repete essas fintas, se faz favor’. Mal o treino se reiniciou, Lucescu voltou a falar: ‘Passem a bola ao Pirlo, ele sabe o que fazer com ela e devolve-a redonda para vocês’”
“Depois da roda, a maior invenção foi a PlayStation. Passava horas a jogar, sempre com o meu grande amigo Nesta. Se estivéssemos em estágio, acordávamos cedo, íamos tomar o pequeno-almoço às 9 horas e depois recolhíamos aos quartos para jogar até à hora do treino, geralmente às 1100. Passava o treino, o duche e o almoço, mais PlayStation. Agora até às 1600, hora do treino da tarde. Era uma canseira, um verdadeiro sacríficio. Ambos escolhíamos Barcelona. A minha primeira como jogador era o Eto’o, por se ytratar do mais rápido do plantel. Mas perdia muitas vezes. E pedia a desforra”
“Uma vez, quando o Milan foi jogar a Camp Nou para o Torneio Joan Gamper, em Agosto, chamaram-me à parte e disseram-me para ir falar com o Guardiola, ao gabinete dele. Mjulgava que era gozo. Não era..Entrei e lá estava o Guardiola, sempre impecavelmente vestido. Sentámo-nos frente a frente, separados por uma mesa bem arrumada e ele começou a falar. Escutei-o atentamente. “Já somos uma equipa muito forte, mas queremos só mais um jogador para ficarmos completos. Esse jogador és tu. Temos o Xavi, o Inieste e o Busquets, mas queremos-te para dar um toque de classe mundial. Já falámos com o Milan, eles disseram não, mas nós sabemos ser persuasivos e tu também podes ser, se assim o desejares’. Falou durante meia-hora e encantou-me. Só que o Milan é o Milan”
“Na final do Mundial-2006, já depois do prolongamento, o Lippi vira-se para mim e diz-me que sou o primeiro. Foi uma honra e, ao mesmo tempo, um desafio imenso. A caminho da marca, talvez uns 50 metros de distância, a caminhada torna-se filosófica com perguntas atrás de perguntas: vou rematar para a direita; não, para a esquerda, porque o é o lado fraco do guarda-redes; não, vou meter a bola no ângulo superior, assim ele nunca chegará; e se errar e a bola sair por cima? Ainda tentei olhar para o Buffon pelo canto do olho, receber algum tipo de apoio sua parte, como um piscar de olho ou qualquer coisa, mas ele também devia estar imerso nos seus problemas. Seja como for, antes de partir para a bola, respirei longamente e a bola entrou”
“O Mundial-2006 foi especial porque andava com dois seres especiais, totalmente opostos: um era Alessandro Nesta, um laziale de coração a transbordar e o outro era Daniele De Rossi, um romanista comprometido até à sétima casa. No jogo com a República Checa, o Nesta lesionou-se e nunca mais iria jogar até ao fim do torneio. Ele chorou até mais não. Lippi, sensível, disse-nos para o levar a jantar onde quiséssemos, a noite era por nossa conta. Fomos até Dortmund, com o Nesta a conduzir. Às tantas, no caminho de volta, eu e o Daniele dissemos ao mesmo tempo ‘temos de sair, diz Ausfahrt’. O Nesta, que ia a abrir, questionou-nos uma vez e, à segunda, travou de repente e fez uma manobra perigosa. Uns metros depois, estávamos sozinhos no meio do nada. Nesta estava piurso, só dizia asneiras e nós só nos ríamos. E ele cada vez mais zangado. Até que dissemos: ‘Sandrino, ausfarth significa saída em alemão’”
“O Mundial também não foi pacífico de todo para o De Rossi, a aprtir do momento em que ele deu uma cotovelada no McBride (EUA). A sua vida piorou imenso e começou a receber ameaças a torto e a direito, via correio. Ele e, pior ainda, os seus pais, dois diamantes. Houve dias em que o De Rossi nem queria ver uma única pessoa à sua frente, porque as cartas eram realmente devastadoras”
“Sou um tipo divertido, que gosta de se meter com as pessoas. E também com o Gattuso. Ya, o Rino. Chamo-o terrone. Ou então Rino de Janeiro. Adoro picá-lo, porque leva tudo a sério e fica vermelho como um tomate. Era divertido vê-lo a enfurecer-se. Um dia, durante as negociações de um novo contrato entre Rino e o Milan, agarrei no telemóvel dele e escrevi ao Ariedo Braida, director-geral do Milan: ‘Dear Ariedo, se me der o que quero, pode ficar com a minha irmã’. Rino descobriu a mensagem e bateu-me antes de pedir mil desculpas ao Ariedo”
“Na selecção italiana, Rino também sofria comigo. E com o De Rossi. Uma noite, escondemo-nos debaixo da cama dele. Esperámos e esperámos. Quando Rino chegou, foi lavar os dentes, descalçou-se, deitou-se na caama e adormeceu. Saímos do nosso esconderijo, vestimos algumas roupas dele e começámos a fazer barulhos. Pregámos-lhe cá um susto. Ele até levou a bem. Quer dizer, para quem quase sofreu um ataque cardiaco”
“Outra com o Gattuso. O Lippi deu-nos noite livre e fomos jantar a Florença. O Rino ficou no hotel. Quando chegámos ao hotel, estávamos bêbados. Bastante bêbado, aliás. Começámos a cantar no lobby e fartámo-nos rapidamente. Queríamos emoção. Lembrei-me de ir chatear o Rino. A caminho, o De Rossi viu um extintor e agarrou-o com a promessa de despejá-lo até à última gota. Assim foi. Tocámos à porta do quarto do Gattuso, ele levantou-se e, mal abriu, o De Rossi não foi de modas. Foi tudo para cima do Rino. O De Rossi pisgou-se e deixou-me ali, sozinho. Quando percebi, desatei a correr. Mas quando corres com o Rino, no chance. Ele come-te vivo. Apanhou-me e começou a bater-me, estilo cena dos filmes do Terence Hill e Bud Spencer. O De Rossi, já no seu quarto, com a porta devidamente trancada, resmungava cá para fora ‘parem com o barulho, queremos dormir’”
“”O Rino era o homem a abater. Sempre. Adorava partir-lhe a cabeça. Eu mais Ambrosini, Oddo, Abbiati, Inzaghi e Nesta.
– Rino, como estás?
– Mal. Perdemos ontem. Devia termos ganhado.
– Rino, tenta lá outra vez. É ‘devíamos ter ganho’.
– Mas é a mesma coisa.
– Nem por isso, Rino.
– ‘Ta bem. Devíamos ter ganho.
– Rino, és mesmo ignorante. É devia termos ganhado.
– Mas isso foi o que disse.
– O quê, Rino?
– Essa coisa do ganhar.
– Qual coisa, Rino? Podes repeir?
Dessa vez, o Rino ficou vermelho de raiva e pegou num garfo. Às vezes, ele apanhava-nos e espetava mesmo o garfo na nossa pele. Mesmo nessas condições, completamente cego, o Rino era bom rapaz. Imagino-o facilmente num filme do Woody Allen, o meu realizador preferido. O Rino, vestido com a camisola 8, a dizer coisas como ‘não como ostras, quero a minha comida morta; não doente, nem ferida, muito menos morta”
“O treinador mais carismático que apanhei foi o Conte. Ele respirava Juventus. No primeiro dia de trabalho, o discurso dele inspirou-nos para o resto da época e, por que não?, das vidas. Disse ele isto: ‘todfa e qualquer pessoa aqui presente executou mal a sua função nos últimos anos. Temos de fazer o que for necessário e ir para além diso para dar a volta a esta insustentável situação e transformar a Juventus naquilo que se conhece. Isto não é um pedido, é uma ordem, uma obrigação moral. Vocês só precisam de fazer uma coisa e é bastante simples: sigam-me”
“Conte é obsessivo, não deixa escapar nenhum detalhe. E é alérgico ao erro. Nos treinos, ele fazia-nos repetir os exercícios durante uns bons 45 minutos até ficar satisfeito. Os exercícios eram num 11 contra ninguém. Do outro lado do relvado, não havia vivalma. E dentro do balneário? O pior lugar era o do Buffon, perto da porta. Porque Conte nunca está satisfeito, nem no intervalo, nem no fim do jogo”
“Só há um Conte. Da mesma forma que só há um Lippi. É um homem diferente, claro. Mas deu-nos uma bronca monumental antes do jogo com a Austrália, para os quartos-de-final do Mundial-2006, quando ganhámos no último minuto com um penálti inexistente, convertido por Totti. Ele chamou-nos aos quartos e reuniu-nos no lóbi do hotel: ‘Vocês falam demasiado com os jornalistas. Vocês são espiões que não sabem guardar segredo. Toda a gente sabe a nossa equipa em tempo real. O que isso diz de vocês, hein?! Nem sequer posso confiar em vocês no onze, quanto mais no resto. Vão-se foder. Não quero mais do que vocês, só quero compriomisso até ao título mundial. Só peço. Filhos da mãe. Espiões filhos da mãe’. Quando ele acabou de falar, muitos perceberam as lágrimas de Inzaghi”
“Sempre fui do Inter e o meu ídolo era o Matthäus, porque era um 10 organizado, cerebral e goleador. Qaundo o encontrei e dele deu-me um autógrafo, foi, durante anos, o melhor dia da minha vida. Quando jogava no Brescia, ainda era adepto do Inter. Foi quando o meu empresário falou-me da transferência para o Parma. Só que, de repente, o Tullio ligou-me a dar conta de um volte-face: o Moratti falara com o presidente do Parma e acertara a minha ida para o Inter. Que sonho. Ia ser companheiro de equipa de Ronaldo, Baggio e Djorkaeff”
“Tive imensos treinadores no Inter e, às tantas, quando acordava, já nem sabia que ia dar o treino. De todos eles, o Roy Hogdson era o único que não me chamava pelo nome, ele dizia pirla [parvalhão]. O Lippi foi aquele que me disse para passar uma época num outro clube para ganhar experiência e fui para a Reggina. E o Tardelli, com quem fui campeão europeu sub21, nunca me meteu a jogar. Talvez não se lembrasse de mim. Bom, ele podia meter aquele grito do golo no Mundial-82 num sítio que eu cá sei. Dizem que foi aí que comecei a beber socialmente. A bebida era minha, e fácil de fazer: vinho branco com gás, Campari e água tónica. Eis o famoso Brescia aperitivo”
“O Milan tinha vendido o Kaká, o Chelsea do Anceotti andava atrás de mim. O Ancelotti é como um pai para mim, passei os melhroes anos desportivos com ele. Sonhava acordado com Londres. Só que o Milan fazia tábua rasa desse sonho e queria manter-me à força. Silvio Berlusconi falou comigo e disse-me: ‘Fica, contratámos o Huntelaar’. E eu a pensar Huntelaar, huuuummm. Queria ir para o Chelsea. E quase fui. Só que o Milan queria o Ivanovic e o Chelsea nem por sombras. O negócio arrefeceu, mas queria sair dali. O Milan como eu o conhecia já tinha acabado. Assinei pela Juventus”
“Terim era uma força da natureza, um homem encantador, capaz de nos motivar só pela conversa. E ele não falava italiano. Ele falava falava uns cinco minutos e o tradutor dizia ‘a Juventus joga amanhã e temos de ganhar’. Havia reuniões tácticas incríveis e, às tantas, já pensávamos que ele estava era farto das intromissões do Berlusconi e queria era sair dali. Isto porque ele desenhava círculos no quadro. Cada círculo era um jogador e aquilo era só círculos. Já ninguém se entendia, até porque ele dizia ao Costacurta para avançar assim ou assado e eu intrometia-me ‘mas, mister, esse círculo sou eu’. Um outro dia, quis jogar com quatro avançados e dois defesas, o sonho proibido de Berlusconi. Que contratou mesmo o Huntelaar”
“A cena mais impressionante que vi num treino de futebol foi o duelo Ibrahimovic vs Onyewu. Aquilo parecia um duelo digno do “Highlander, Os Imortais”. De um lado, o sueco. Do outro, o americano que gostava mais de hóquei no gelo, basquetebol basebol e até McDonald. Eles pegaram-se e quase se mataram, no chão. Devem ter-se aleijado, mebora nenhum deles se tivesse queixado com o que quer que fosse”
“A pior experiência de sempre foi a derrota em Istambul, com o Liverpool. Aquilo foi como se nós déssemos as mãos na ponte de Bósforo e nos atirássemos. Um suícidio maciço. Quando o jogo acabou, a tortura ainda nem tinha começado. No balneário, parecíamos zoombies. Ninguém falava, ninguém olhava em frente, só para o chão. Eles destruíram-nos mentalmente. Nós inventámos uma nova doença: síndrome de Instambul. Nem dormimos direito nos dias seguintes. Nesse período, não me senti futebolista nem homem. Para mim, Istambul é a capital do diabo”
“O tipo mais supersticioso que apanhei foi Andrea Agnelli, o presidente da Juventus. Ele simplesmente não via os jogos fora de casa ‘Só tenho a certeza da vitória nos jogos em Turim. Seja onde for fora de Turim, sinto más vibrações’. Quando ganhámos o título de campeão italiano nessa época, em Trieste, ele também não estava lá. Quem sou eu para cricticar o homem que me paga o salário”
“A minha ambição sempre foi ser o melhor marcador de livres directos em Itália. Tenho esse desejo dentro de mim desde criança, quando batia livres lá em casa, com o sofá a fazer de barreira. Aí, era o Pirlinho. Porque os brasileiros sempre tiveram pinta a marcar livres directos. O maior de todos foi António Augusto Ribeiro Reis Júnior, o Juninho Pernambucano. O que ele fez no Lyon foi algo de extraordinário”
“Foi importante ter o Balotelli na selecção durante aqueles anos. Chegámos até à final do Euro-2012. Na véspera, uns tipos da UEFA disseram-me que seria eleito o melhor jogador do torneio, caso a Itália ganhasse. Quase, foi 4-0 para a Espanha. Paciência. Falava do Balotelli, ele foi necessário para o futebol italiano na resposta às agressões constantes do racismo. Ele reagie da forma certa e isso estimulava-nos. Sempre que o via na concentração da Itália, dava-lhe um abraço e um sorriso. Porque ele sabe meter os detratores na ordem”
“Conte, já o disse, era um peça. Muitas vezes, ele recortava os jornais e pendurava-os no balneário antes de querer saber a nossa opinião, fosse um artigo de opinião de um jornalista, de um ex-jogador ou de um ex-treinador. Ou mesm o uma entrevista.
– Vocês já viram este aqui a dizer que não temos força colectiva?
– É só conversa, querem desestabilizar-nos, mister.
– Até pode ser, mas não nos devemos enrevedar por esse caminho. Temos de mostrar-lhe o nosso valor. E este aqui que diz que vamos perder daqui a uma semana.
– É só conversa, mister.
– Sim, não caiam neste conversa. Reajam sempre, somos a Juventus. E repararem no círculo que desenhei aqui em baixo?
– Sim, mister. Diz ele que somos a equipa italiana mais detestada.
– É verdade, e somos. É bom sinal, é sinal de que estamos a fazer o nosso trabalho de forma competente.
– Mister, também diz que você é maluco.
– Vêem bem isto? Um momento de lucidez, finalmente. Vá, agora devem um euro e vinte.
– Porquê?
– Pelo jornal”
“Ainda estava no Milan quando o meu rempesário Tullio ligou-me e pediu-me para vestir uma gravata porque íamos ter uma reunião com uns emissários do Qatar no hotel Principe di Savoia, onde o Beckham morou quando jogou no Milan. Cheguei lá e…
– Ciao, o seu contrato está aqui à sua espera.
– Boa tarde a todos, e uma honra conhecê-los.
– Vai ficar muito bem com o nosso equipamento.
– Prazer em conhecê-los, sou o Andrea Pirlo.
– Nem tem que pensar duas vezes, está aqui tudo escrito.
– Na verdade, vim aqui só para vos conhecer. Nada mais.
– Andrea, quantos filhos tem?
– Dois.
– Há uma excelente escola de inglês no Qatar.
– Eu até gostava que eles aprendessem a falar italiano.
– No problem. Vamos contratar um professor de italiano. Gosta de carros?
– Siiiiim.
– Perfeito, temos uns Ferraris para lhe oferecer.
– Uns?
– E se tiver saudades de Itália, tem sempre um voo à sua disposição.
– Mas…
– O seu contrato está aqui, é válido por quatro anos.
– Obrigado mas…
– 40 milhões de euros.
[faço uma careta e o empresário salienta-me que são 40 milhões por quatro anos, 10 por ano]
– Se 10 milhões não chegam, basta dizer.
– Obrigado, mas não. Quero jogar mais uns anos na Europa. E assinar por vocês significaria o fim da minha carreira internacional, Liga dos Campeões e tudo o mais. Falamos daqui a um, dois anos?
Entretanto, o meu empresário toma conta do assunto. E sobe a parada para 11 milhões. Depois 12. Finalmente 13. E eu só queria sair dali. Quando o fazemos, olho para o relógio e são 21 horas, 21 minutos. Precisamente o meu número da sorte”.