Barcelona 1994 vs São Paulo 2013
Tóquio, 13 Dezembro 1992.
Escusam de procurar, não há jogo na história com dois golos com a bola entrar na gaveta. Naquela gaveta, queremos dizer. Ao ângulo superior da baliza do nosso lado direito.
Primeiro, Stoitchkov. Depois, Raí. Que golos fantásticos. Tanto Zetti como Zubizarreta nem se mexem por aí além. Dão um jeito ao pescoço, isso sim. Pois é, Barcelona 1:2 São Paulo. É a final da Taça Intercontinental, num duelo imperdível de treinadores: Cruijff vs Telé Santana. Dito assim, dois génios da bola, homens com fome de bola, cultura de futebol de ataque.
Ouçamos agora o árbitro desse jogo, o argentino Juan Carlos Lostau. ‘O melhor que me passou, enquanto árbitro, foi a final do Mundial de clubes, no Japão. As duas equipas estavam no mesmo hotel, tal como o árbitro. Chegámos quase todos ao mesmo tempo, a dois dias do jogo. À noite, Telé Santana viu-me passar pelo lobby do hotel, deu-me a mão e disse-me ‘Como está Loustau? Venha daí, vou apresentar-lhe Johan Cruijff’. Eles estavam a beber um café e iam jogar daí a 48 horas. Dá para imaginar essa cena agora? Os dois melhores treinadores do mundo e um árbitro a beber um café. Percebi pela conversa que eles partilhavam genuinamente o interesse do jogo bonito e eu, lá no meio, aprendi como nunca.’
‘Às tantas, falou-se da arbitragem e perguntei-lhe o porquê de algumas equipas jogarem de forma truncada. Os dois não suportavam patadas e perdas de tempo, assim que jogavam o futebol total. Ou seja, a jogada começava sempre pelo guarda-redes, estivesse apertado ou não. Era a sua filosofia imposta nos treinos e isso traduzia-se nos jogos por um futebol mais atraente e fluído. Foi uma tertúlia durante mais de duas horas só sobre futebol, futebol e mais futebol. Às três da manhã, eu com uma diferença horária de 12 horas, lá nos decidimos em ir para a cama.’
‘Antes da despedida, Telé fez-nos meter uma mão em cima da outra no meio da mesa e disse ao Cruijff: ‘Façamos um pacto: se alguém der uma patada, não deixamos Lostau dar-lhe cartão amarelo e sacamos esse jogador’. Cruijff respondeu simplesmente ‘hecho’. Dois dias depois, Barcelona e São Paulo produziram um jogo mágico, tu cá-tu lá, com imensas oportunidades de golo. Mostrei cinco amarelos, sim, mas nenhum deles foi por uma patada desnecessária.’