Great Scott #112: Onde e quando se corre o último GP de Fórmula 1 a um sábado?
África do Sul 1985
Culpa das politiquices. Em 1985, o GP África do Sul é alvo de mil e uma polémicas. Com o apartheid no auge e Nelson Mandela ainda preso, a comunidade internacional pressiona a África do Sul. Aliás, não há um único sul-africano autorizado a competir pelo COI desde os Jogos Olímpicos Roma-60. Sobra o circo da F1 para separar as águas, como único reduto de condescendência. Mesmo assim, a FIA sofre com pressões imensas (até da ONU) para levar a sua avante do GP em Kyalami. Está marcado para 19 de Outubro, um sábado, altura em que Alain Prost já se sagrara campeão mundial.
Há mais este detalhe: se o Mundial já está decidido, para quê correr riscos desnecessários? É a pergunta de todos. Quem em concreto? O primeiro a agir publicamente é o piloto austríaco Niki Lauda, a sugerir a transferência do GP para outro país. Segue-se o presidente francês François Mitterand, a pedir às equipas francesas Ligier e Renault para não correrem nem sequer viajarem. A Lola-Beatrice só faz figura de corpo presente (treina e não compete). Na Finlândia, o governo ameaça Keke Rosberg (Williams): “Se ele competir, a Associação Automobilística não terá futuramente qualquer apoio financeiro da nossa parte.” O sueco Stefan Johansson (Ferrari) recebe o mesmo aviso.
E o Brasil? O presidente José Sarney havia assinado um decreto a proibir a todos os cidadãos brasileiros o intercâmbio desportivo, artístico e cultural com a África do Sul. E agora, Piquet e Senna? Os pilotos encolhem os ombros. Acto contínuo, recebem uma carta da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados a pedir a “deserção” dos pilotos. Mais uma vez, Piquet e Senna encolhem os ombros. “Essa história do boicote não tem razão de ser”, exclama Piquet. “Faço o meu trabalho, que é pilotar um carro para uma equipa inglesa”, desabafa Senna. Eh lá, os dois unidos. É bonito de se ver. E histórico.