Ronaldo, nota 10 nos livres directos
Portugal, 1051 golos. Ronaldo, 101. Quase 10% dos golos da quase centenária história da selecção portuguesa pertencem a um só jogador. A influência é avassaladora. Nunca visto, jamais repetida? Só o tempo o dirá. Até chegar alguém com estes números, espreitemos os 10 golos de livre directo. Também quase 10% da história singular de Cristiano ao serviço da selecção.
4 Junho 2005
Portugal 2:0 Eslováquia
Tudo a favor de Portugal, rumo ao Mundial-2006. Empurrada por 62 mil espectadores na Luz, a selecção isola-se no primeiro lugar do grupo de qualificação. O jogo com a Eslováquia abarca duas novidades: o regresso de Figo 11 meses depois e a despedida do árbitro italiano Collina. O jogo é presenciado por Sepp Blatter, presidente da FIFA. Outro espectador atento é Martunis, o miúdo indonésio de oito anos descoberto à deriva 21 dias depois do maremoto no sudeste asiático e vestido com a camisola portuguesa número 10 de Rui Costa. Com a bola a rolar, Portugal joga de forma descontraída e marca duas vezes antes do intervalo. O primeiro golo é do central Meira, com o pé direito, na sequência de um canto de Deco e de um desvio de Pauleta ao primeiro poste. O segundo é de Ronaldo, num livre directo a 25 metros da baliza. Começa aqui o regabofe.
12 Outubro 2010
Islândia 1:3 Portugal
Segunda vitória seguida na qualificação para o Euro-2012. O périplo nórdico passa de Copenhaga para Reykjavik e o resultado é o mesmo (3:1), com Ronaldo a abrir o caminho aos 200 segundos na transformação de um livre directo em que a bola passa a barreira por cima e cai, qual folha seca, junto à linha, sem hipótese para Gunnleifsson. A Islândia empata de imediato, num cabeceamento de Helguson à entrada da pequena área, com culpas para Eduardo. Falha Hugo Almeida a oportunidade do 2:1, aos 18 minutos, e é de Raul Meireles o pontapé na crise. O remate é indefensável, do meio da rua, mais atrás ainda do 1:0 de Ronaldo. É um golo do outro mundo. Na segunda parte (56′), o mesmo Meireles acerta na trave num outro momento inesquecível em que aproveita o adiantamento do guarda-redes. Que volta a sair-se mal na fotografia, no lance do 3:1. O cruzamento da direita de Ronaldo é defensável, só que Gunnleifsson larga a bola para o mais que atento Postiga fixar o 3-1 de baliza aberta.
10 Agosto 2011
Portugal 5:0 Luxemburgo
Algarve e Agosto combinam mesmo bem. Que o diga Portugal, indiscutível vencedor do particular de início de época por cinco golos sem resposta. O abre-latas é Postiga, com o pé esquerdo, num bonito chapéu à entrada da área, depois de Joubert ter derrubado Ronaldo em lance para penálti. Bem, o árbitro manda seguir e Postiga aproveita para o 1:0. Ainda antes do intervalo, um livre directo de Ronaldo só pára na baliza, com Joubert mal batido, uma vez que a bola vai à figura. O impensável acontece no início do segundo tempo, com cruzamento de João Pereira para cabeceamento vitorioso de Coentrão. Os dois jogadores mais baixos da selecção de Bento constroem o 3:0 e antecipam o festival Hugo Almeida, que substituíra Postiga. Se o 5:0 é um mero pró-forma à boca da baliza, após serviço de Nani pela esquerda, o 4:0 é um golo memorável, beeem fora da área. O remate-banana surpreende tudo e todos. Talvez até o próprio Hugo Almeida, efusivamente abraçado por todos os companheiros como garantia de um golo de bandeira.
11 Outubro 2011
Dinamarca 2:1 Portugal
Basta um empate em Copenhaga e eis-nos na fase final do Euro-2012. A Dinamarca está obrigada a ganhar e o público acorre ao estádio com o propósito de festejar a qualificação directa. O apoio entusiástico e constante é nocivo para os ouvidos, caramba. Portugal congela e sofre um golo aos 3′, prontamente anulado pelo árbitro italiano por falta inexistente sobre Patrício. Menos mal. Adiante. Aos 13′, a Dinamarca constrói outro lance de perigo desde a sua área até ao lado esquerdo do ataque, onde Krohn-Dehli flecte para a direita, entra na área e atira. A bola faz ricochete em Rolando e entra calmamente na baliza. Agora sim, 1-0. De Portugal nem ai nem ui. Aproveita a Dinamarca para fazer o 2-0, já na segunda parte, pelo inevitável Bendtner, à boca da baliza. Relegado para o play-off sem pena nem glória, resta a Portugal o golo de honra, através de Ronaldo. Livre a 30 metros da baliza e o capitão saca um pontapé memorável, ao ângulo superior esquerdo de Sörensen. Pouco, muito pouco.
15 Novembro 2011
Portugal 6:2 Bósnia
É o dia da decisão e a Luz enche-se como sempre. Só vale a vitória e Portugal cumpre com distinção num jogo cheio de encanto. Ronaldo abre as festividades aos sete minutos. Falta sobre si e o capitão puxa dos galões num livre directo de qualidade indiscutível. Aos 24′, Nani enche o pé bem fora da área e faz um golo do outro mundo, 2-0. Até ao intervalo, só um susto. Penálti escusado de Coentrão (mão na bola num lance aéreo) e Misimovic engana Patrício. Para a segunda parte, Moutinho desmarca Ronaldo pela esquerda e o 7 assina o 3-1 de baliza aberta, após ultrapassar o guarda-redes Begovic com uma bela troca de pés. A Bósnia insiste, Spahic reduz na pequena área. A partir daqui, atenção, só dá Portugal. Outro madeirense, Rúben Micael de seu nome, descobre Postiga e o remate deste dissipa as dúvidas quanto ao vencedor. Miguel Veloso faz o 5-2 de livre directo, com o pé esquerdo, e Postiga fixa o resultado de cabeça, após serviço de Coentrão. Pela quarta vez seguida, Portugal está no Euro.
6 Setembro 2013
Irlanda do Norte 2:4 Portugal
Que jogo memorável, épico, quase sempre à chuva. O ritmo é sempre alucinante, como em qualquer campo nas ilhas britânicas. Bruno Alves raspa a tinta ao poste, num golpe de cabeça (17′), antes de assinar o 1-0, com o pé direito, à entrada da área, na sequência de um canto da direita. A Irlanda do Norte, imbatível em coração e atitude, chega ao empate por McAuley, também num canto. O número 4 foge à marcação de João Pereira e eleva-se entre Ronaldo e Bruno Alves para cabecear com êxito. Calma, ainda há mais na primeira parte: Postiga vê o vermelho directo por encostar a cabeça em McAuley. Com dez, Portugal sofre a reviravolta num lance de fora-de-jogo nítido por parte de Ward – é que nem Patrício está à sua frente. Seja como for, adiante. E atenção, muita atenção ao espectáculo João Pereira. É ele quem expulsa Brunt e, depois, Lafferty. Isso mesmo, acaba nove contra dez. E o resultado? Dois-quatro. Como assim? Ronaldo faz um hat-trick em 15 minutos apenas, com dois golos de cabeça e um de livre directo. A jogar assim, o Brasil é ali ao virar da esquina.
25 Março 2017
Portugal 3:0 Hungria
Grande ambiente na Luz para receber a Hungria, uma das selecções com quem empatáramos na fase de grupos do Euro-2016. Agora uns furos abaixo, como se comprova pelo nulo nas Ilhas Faroé na primeira jornada da qualificação, é uma presa fácil para Portugal, rei e senhor de todo o jogo. Para tal, muito contribui a dinâmica do trio de ataque formado por Quaresma, Ronaldo e André Silva. Antes do 1-0, as oportunidades sucedem-se umas atrás das outras. Até que aparece o minuto 32, com uma descida de Guerreiro pela esquerda e consequente cruzamento ao segundo poste, onde André Silva faz o quinto golo em cinco jogos. Quatro minutos depois, toque de calcanhar de André Silva para trás e remate fulminante de Ronaldo, com o pé esquerdo, ainda fora da área, com a bola a entrar rente ao poste. Para compor a festa, Ronaldo fixa o 3-0 de livre directo, descaído para esquerda, na sequência de uma falta de Lovrencsics sobre Quaresma. Com este golo, Ronaldo torna-se o português com mais golos de livre directo ao serviço da selecção. Ao todo, sete. Mais um que Figo.
15 Junho 2018
Portugal 3:3 Espanha
Primeiro jogo na fase de grupos do Mundial, em Sochi. A Espanha vive um momento conturbado pela saída abrupta de Julen Lopetegui, após o anúncio prematuro do contrato assinado com o Real Madrid para a época 2018-19. Substitui-o Hierro, essa figura icónica, outrora melhor marcador da selecção espanhola. Nós mantemos Fernando Santos e marcamos primeiro, por Ronaldo, de penálti. Diego Costa empata e, antes do intervalo, Ronaldo volta a dar-nos vantagem, num erro de cálculo do guarda-redes De Gea. Na segunda parte, outro bis, o de Diego Costa. Logo a seguir, o improvável Nacho faz o 3:2. Portugal nem vê a bola. Até que chega o glorioso minuto 88. Livre para Portugal. Enche o peito, Ronaldo. Parte para a bola e toma lá bolos, 3:3.
5 Junho 2019
Portugal 3:1 Suíça
Adiós Real Madrid, ciao Juventus. A transferência mais mediática do Verão de 2018 é oficializada no dia da final do Mundial. Antes do França vs Croácia, vêem-se fotografias infinitas de Ronaldo em Turim. Ganha peso, a liga italiana. Para uma melhor adaptação a tudo o que é novo (cidade, país, clube, companheiros, adversários, campeonato), Ronaldo afasta-se ligeiramente da selecção e falha a fase de qualificação da Liga das Nações. O seu regresso é só na fase final. Só demora 25 minutos a escrever o seu nome no livro de honra, com um livre directo inapelável. Pobre Sommer. A Suíça empataria de penálti e Ronaldo completa o hat-trick aos 88 e 90 minutos. Pim pam pum, Portugal está na final da Liga das Nações, vs Holanda.
8 Setembro 2020
Suécia 0:2 Portugal
Muito se fala sobre a influência (ou não) de Ronaldo ao serviço de Portugal. Na primeira jornada da fase de qualificação da Liga das Nações, o capitão está lesionado e falha o jogo vs Croácia, no Dragão. A selecção dá um banho de bola, 4:1 é a conta final. Quatro dias depois, a segunda jornada. Na Suécia, em Solna, onde Ronaldo já dera espectáculo em 2013, com um hat-trick no play-off para o Mundial-2014. Está 0:0 quando o árbitro assinala uma falta sobre o aniversariante Moutinho. Chamado a bater, Ronaldo toma balanço assim-assim e atira ao ângulo superior. Dez, dez golos de livre directo em 100 golos na selecção. Os tais 10%.